Cansaço em cumprir quarentena é fruto da expectiva, diz filósofo
Para 73% das pessoas que responderam a enquete, nós já estamos cansados da quarentena; 27% acredita que não
Na enquete dessa semana do Lado B perguntamos se “Você acha que já estamos cansados de cumprir o isolamento?”. Para 73% das pessoas que responderam a enquete sim, estamos cansados do isolamento. Já 27% acredita que não estamos cansados ainda.
Quem diz estar cansado do isolamento desde o início é o estudante Vitor Hugo Britto, de 20 anos. Em casa porque as aulas estão suspensas, Vitor diz que o que mais deixa ele estressado são as incertezas, é não saber quando tudo volta ao normal.
“Sei que é impossível e que não faz sentido pensar assim, mas se houvesse um prazo pra tudo isso acabar, mas não, cada semana é uma medida nova, é um dado novo, parece que estamos sendo cozidos em banho-maria dentro de casa”.
Esse sentimento é fruto de um cansaço muito característico de nossa sociedade, afirma Gillianno Mazzetto, filósofo e PhD em psicologia. Aliás, evocando outro filósofo, o sul -coreano Byung-chul Han, que escreveu um livro chamado a “Sociedade do Cansaço”, que propõe que hoje somos todos “cansados” de certa forma, principalmente por um contexto que nos força ser produtivos o tempo todo.
“Vivemos na sociedade da performance, você tem que ser o mais feliz, o melhor em tudo, e um dos subprodutos da performance é o desgaste, que gera cansaço. Um exemplo simples são atletas de alta performance que vivem machucados e lesionados. Eu concordo quando ele (Han) diz que vivemos numa sociedade cansada, mas não quando fala em “sociedade do cansaço” porque isso é pra mim só resultado de uma sociedade da performance”.
Apesar desse pano de fundo, Gilliano acredita que o cansaço da quarentena é de outra natureza. “Já na quarentena esse cansaço é de outra ordem, ele é fruto da expectativa, da espera. Se esperava que as coisas fossem passar logo, que tudo fosse voltar ao normal rapidamente, que a curva de contágio diminuísse, e essas coisas estão tardando a chegar. Então as pessoas não estão mais cansadas de ficar em casa, elas estão cansadas de esperar por essa normalidade que virá. Nós entramos na quarentena com a ideia de provisoriedade, mas lá se vão seis meses, parece aquelas gambiarras que fazemos em casa que vira um provisório definitivo”.
Segundo o filósofo, “demorar” também significa “habitar”, e é essa habitação da espera que gera estresse e cansaço, que nos faz perguntar quando tudo vai passar. “Esse questionamento nos faz criar uma utopia que o pós-pandemia vai ser melhor, que vamos conseguir deletar esse período da história, como se 2020 não tivesse existido”.
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