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Comportamento

“Cartão-postal” do Educandário, Rafael espalhou amor pelo lugar

Rafael cresceu na instituição onde estudou, trabalhou e não deixou de visitar mesmo na doença

Jéssica Fernandes | 21/03/2023 07:11
Apaixonado pelo time, Rafael era conhecido como 'Corinthiano' na instituição. (Foto: Arquivo pessoal)
Apaixonado pelo time, Rafael era conhecido como 'Corinthiano' na instituição. (Foto: Arquivo pessoal)

Rafael Alves Evangelista chegou no Educandário Getúlio Vargas quando ainda era um bebê. Na instituição, ele cresceu, estudou, trabalhou e se aposentou. No dia 10 de março, Rafael se despediu para sempre da família e amigos levando consigo o amor que carregava pelo lugar que sempre viu como lar.

A filha Rafaela Benites Evangelista, de 33 anos, fala sobre o homem que carregava a bandeira do Educandário por onde passava. Ela conta como ele chegou ao lugar. “O meu pai morou no Educandário naquela época muito antiga, foi com 15 dias de nascido. A mãe dele teve hanseníase e morreu dias após o parto. Naquela época o Educandário atendia a necessidade dessas pessoas, então ele foi pra lá onde foi criado”, diz.

Ainda criança, Rafael apresentou problemas de saúde decorrentes das sequelas da gestação. “Ali ele foi cuidado, amparado”, diz a filha. Além dos estudos, ele recebeu as primeiras instruções na profissão e atuou como secretário da instituição. Um dos rostos mais antigos e familiares, Rafael tinha o apelido de ‘corintiano’ e todos conheciam sua trajetória. “Ele era tipo um cartão-postal, era impossível alguém não olhar e não lembrar do Educandário, ele era a referência”, destaca Rafaela.

Rafaela Evangelista ao lado do pai Rafael Evangelista. (Foto: Arquivo pessoal)
Rafaela Evangelista ao lado do pai Rafael Evangelista. (Foto: Arquivo pessoal)

Ela fala sobre o sentimento de gratidão que ele tinha com a instituição que visitava diariamente. “Ele era uma pessoa que sempre carregava a bandeira do Educandário, sempre teve orgulho em falar, sempre  grato a tudo que fizeram por ele. Meu pai sempre falava que a casa dele era o Educandário. Embora ele tivesse a casinha dele próprio, fazia questão de ir todos os dias. Enquanto ele pode ir no Educandário ele foi”, comenta.

Nos últimos anos, Rafael dividia a rotina em casa e no hospital onde realizava tratamento para neoplasia maligna (câncer). A doença afetou tronco, brânquias e pulmões. “Foram cinco anos de luta até ele chegar ao estágio final da vida”, lamenta a filha.

Um dia antes de falecer, o aposentado fez um pedido que ficou gravado na memória de Rafaela. O desejo, segundo ela, reflete a forma simples de levar a vida. “Antes da morte o último pedido dele foi que se amanhecesse vivo gostaria de almoçar no Educandário. Ele apreciava coisas simples como um almoço, uma comunhão. Eu falo que até no último suspiro ele amou e teve gratidão ao Educandário”, declara.

Rafael na instituição que cresceu, estudou e trabalhou. (Foto: Arquivo pessoal)
Rafael na instituição que cresceu, estudou e trabalhou. (Foto: Arquivo pessoal)

No papel de pai, Rafael nunca deixou nada faltar aos três filhos. Para garantir o melhor, a filha relata que foram muitos sacrifícios. “Meu pai não tinha vaidade, usava o sapato até acabar para que nós pudéssemos andar bem vestidos, comer bem e para que não faltasse nada. Meu pai sempre foi essa pessoa de luta, de oferecer o melhor. Ele abriu mão de muitas coisas para dar aos filhos. Ele foi o melhor pai que poderia ser”, pontua.

O legado dele Rafaela pretende continuar levando, assim como o nome da instituição que o acolheu do começo ao fim. “O Educandário é oportunidade de vida, mudança, um esteio, uma ponte, ele te dá um caminho. Nós seguimos o caminho do meu pai e pretendo continuar levando o nome do Educandário por onde for”, frisa.

Falta irreparável - Josiane Maria Vilela Pereira Leite Cardoso, 45 anos, tinha menos de 10 anos quando conheceu o homem que era melhor amigo do pai.

Rafael joga bola no espaço da instuição filantrópica. (Foto: Arquivo pessoal)
Rafael joga bola no espaço da instuição filantrópica. (Foto: Arquivo pessoal)

Antes de conhecer o pai de Josiane, Rafael teve o primeiro contato com a mãe dela, que foi professora e diretora na instituição. “Ele ficou amigo do meu pai e frequentava muito a casa dele”, diz.

A amizade que começou na casa dos pais se estendeu para a casa de Rafael. Josiane frequentava assiduamente o lugar que foi uma das grandes conquistas dele. “Foi um cara guerreiro que lutou por tudo. Ele tinha o sonho da casa, comprou o terreno e aos poucos foi fazendo. No pouco que teve foi feliz”, relata.

Descrito como uma ‘pessoa incrível' e ‘muito querido’, Rafael estava sempre disposto a oferecer uma palavra de afeto ou simplesmente dizer algo engraçado para arrancar uma risada genuína. Josiane comenta sobre esse lado do amigo.

Rafael brinca no balanço com a neta, filha de Rafaela.  (Foto: Arquivo pessoal)
Rafael brinca no balanço com a neta, filha de Rafaela.  (Foto: Arquivo pessoal)

“Uma pessoa muito brincalhona, prestativa. Por onde passava deixava um aconchego, pessoa que você podia contar porque ele era muito parceiro, sempre tentou ensinar o melhor. Ele era quase a perfeição na terra. Ele sempre te colocava pra cima”, afirma.

Corintiano roxo, ele também era capaz de converter qualquer um ao time do coração. “Ele falava: 'Josinha, você torce pra quem?’. Você acabava virando corintiana para agradar ele”, ri.

Numa das memórias mais marcantes, ela recorda quando perdeu o pai aos dez anos. No momento delicado pode contar com a presença do amigo que uma semana antes de falecer disse que reencontraria o velho amigo.

Josiane ao lado do amigo Rafael. que conhecia desde os 7 anos. (Foto: Arquivo pessoal)
Josiane ao lado do amigo Rafael. que conhecia desde os 7 anos. (Foto: Arquivo pessoal)

“Eu perdi meu pai eu tinha dez anos, nunca vou esquecer dele (Rafael) no velório segurando minha mão. Quando estava cuidando dele, ele segurou a minha mãe e perguntou se eu queria mandar algum recado pro meu pai. Ele disse: ‘Já já vou ver meu tio piranha’. Ele chamava meu pai assim”, explica.

No fim da entrevista, em meio a tantas lembranças e sentimentos, Josiane resume a partida dele. “Ele era muito querido, a falta que vai fazer é irreparável", conclui.

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