Celular na mão de criança é ruim, mas exemplo começa pelo adulto
Conforme relatos ouvidos, os pais até tentam dar o exemplo, mas desafio é tirar as crianças da tela
Com o avanço da tecnologia, é possível ter tudo na palma da mão, e concentrar boa parte da vida pessoal, financeira e profissional dentro de um aparelho de celular. Seja caminhando em parques ou pelas ruas do Centro de Campo Grande, basta olhar para o lado que não faltam adultos dando uma “espiadinha” na tela. Mas você já parou para pensar em quais efeitos o uso constante de telas causa na vida das crianças?
De acordo com a especialista em psicanálise e psicologia clínica, Mariana Moura, o exemplo dos pais, que muitas vezes não largam o celular, e a influência do mundo tecnológico, afetam diretamente as crianças. “A criança aprende por observação e imitação das figuras significativas do ambiente, nesse caso, os pais. Ou seja, a figura deles sendo observada no celular, computador e televisão, faz com que incentive as crianças ao desejo do mesmo, e assimilando que isso é o que deve ser usado ao invés da interação pessoal”, explica a profissional.
Conforme relatos ouvidos pelo Lado B, os pais até tentam dar o exemplo, mas a auxiliar veterinária Daniele Nagy, 44, relata que apesar de tentar controlar ao máximo o tempo gasto em telas do filho Arthur, 8, ele acaba passando a maior parte do dia no celular. A criança usa a internet para fazer as atividades da escola, acessar jogos educativos e assistir vídeos. “[O acesso] é bem livre, mas ele sabe as responsabilidades, quando ele tem que fazer tarefa, quando ele tem que fazer outras coisas, ele faz também”, diz a mãe.
A mãe diz que no dia a dia, em momentos em que está muito ocupada, a única solução é dar o celular para a criança se distrair, e como as crianças costumam seguir o exemplo dos adultos, tenta não ficar tanto tempo no celular quando está com o filho. “Eu tento [diminuir o uso na frente do filho], mas é que hoje em dia tudo tá no celular”.
Daniele confessa que gostaria que o filho usasse menos o aparelho, mas diz que é difícil tirar o celular da mão de criança. “As brincadeiras deles hoje em dia acabam sendo mais no celular. O celular tem uma infinidade de coisas pra fazer, tem jogos, tem vídeos, a gente mesmo fica muito no celular o tempo todo”, diz Daniele.
Por isso, ela sempre propõe atividades fora de casa com Arthur. No caso da visita ao parque, Arthur deixou o celular na mochila para curtir o passeio, e disse que “gosta bastante” de fazer atividades ao ar livre.
O médico Eduardo Alves Ribeiro, 41, tem dois filhos, a Janeth, 8, e o José Eduardo, 6. Foi só falar no celular, que as crianças já ficaram animadas. Eles não possuem aparelho próprio, e se dependesse de Eduardo, seriam criados longe das telas, mas ele reconhece que é difícil impedir o acesso ao celular hoje em dia.
“Eles chegam na casa [dos avós] e já pedem, aí o vô já libera. Por mim, não mexeriam, mas vô ‘deseduca’. A gente tenta não ficar tanto no celular também na frente deles, mas hoje em dia é difícil, tudo tá no celular”, comenta Eduardo.
O casal Ana Caroline Caldas, 32, e Edward Meirelles, 33, estipulou o tempo máximo de uma hora por dia para o filho, Eduardo, 6, usar o celular. Ele costuma utilizar o aparelho para assistir desenho ou jogar, e o acesso à internet é controlado pelos pais.
Edward relata que o filho é uma criança muito ativa, que gosta muito de brincar ao ar livre, então ele e a esposa tentam evitar ao máximo mexer no celular perto do filho, e buscam incentivar atividades e brincadeiras lúdicas, que estimulem a criatividade, justamente para não influenciar o uso desenfreado do aparelho.
Mas em uma realidade em que todo mundo está conectado o tempo todo, as influências não vêm só de dentro de casa, “Lá em casa a gente tenta evitar, aí só que ele vai, por exemplo, na casa de um primo que sempre tá no celular, os coleguinhas em comum da idade tem celular, e aí ele pede muito [pra mexer]”, conta Edward.
A bacharel em direito Annelise Massani, 36, diz que os os pais acabam influenciando em muitas atitudes dos filhos, inclusive na hora de dar o exemplo com o uso do celular. Mas considerando que o aparelho faz parte do dia a dia, ela permite que o filho, Hideki, 4, utilize, porém controlado e com moderação.
“Eu acho que tudo tem que ter um certo equilíbrio, até porque, daqui pra frente, vai fazer parte da vida dele, só que tem que ter um certo equilíbrio, tem que ser moderado e conforme a idade”, declara Annelisse.
Annelise relata que tentam seguir o limite de duas horas por dia, e ela e o marido, Rodrigo Cavalcanti, 35, decidiram matricular a criança em uma escola integral, para tirar ele das telas e ter mais convívio social.
De acordo com a especialista em psicanálise e psicologia clínica, Mariana Moura, o uso contínuo de telas por parte das crianças, pode desencadear diversos problemas, como atrasos no desenvolvimento cognitivo, muita impulsividade e imediatismo e dificuldade em regular suas próprias emoções. Além disso, a vida quase 100% conectada interfere no desenvolvimento da criatividade e as crianças não aprendem, ou deixam brincar, conforme explica a profissional.
“Os pais precisam redobrar a atenção em si mesmo, pois precisam ser o exemplo dentro de casa. Também ficarem de olho e estabelecerem o tempo que os pequenos estão conectados, incentivando o brincar”, diz Mariana.
Atividades com tinta, massinha, argila, assim como jogos de tabuleiro são as opções indicadas pela especialista, pois incentivam a criatividade. Ela também ressalta que os adultos precisam dedicar tempo de qualidade para as crianças, que precisam de afeto e presença dos pais.
Para finalizar, a especialista convida os pais a refletirem: “Quando você se sentou por mais de cinco minutos para ouvir o seu filho, sem o celular, nas coisas que ele se interessa e gosta, mesmo que elas sejam insignificantes para você?”.
Enquete - A enquete do Campo Grande News deste sábado (18), perguntou aos leitores se eles achavam que as crianças passam muito tempo no celular, e a maioria, 97%, respondeu que “sim”, enquanto apenas 3%, discordaram.
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