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Comportamento

Com bombinha na mão, coronavírus é mais uma rasteira em asmáticos

Entre ansiedade e crise de asma, só quem já entrou em desespero por não conseguir respirar sabe do medo que o vírus provoca

Alana Portela | 13/05/2020 06:42
Inalação também é uma forma de aliviar os sintomas da asma. (Foto: Kísie Ainoã)
Inalação também é uma forma de aliviar os sintomas da asma. (Foto: Kísie Ainoã)

Se a vida de asmáticos já não era fácil antes, agora piorou de vez. Isso porque eles estão no grupo de risco do novo coronavírus, que tem como indícios: tosse, febre, cansaço e dificuldade para respirar, sintomas esses também presentes em quem sofre de asma. Caso contaminados com o vírus, os sinais da gripe podem intensificar e dificultar ainda mais a respiração.

“As pessoas que nunca sentiram falta de ar não têm nem noção. A respiração começa a encurtar, coração acelera. O ar até entra, mas não consegue sair, por isso o peito chia. É uma sensação horrível”, diz a professora Lenita Calado, de 51 anos.

Bombinha de ar sempre está na mão para ajudar quem sofre de asma. (Foto: Arquivo pessoal)
Bombinha de ar sempre está na mão para ajudar quem sofre de asma. (Foto: Arquivo pessoal)

Ela descobriu que é asmática há três anos, quando teve uma crise que a fez parar no pronto-socorro. Durante o bate-papo com o Lado B, Lenita falou que passou a tomar remédio e usar a bombinha de ar somente em crises fortes, mas sempre a mantém por perto.

Desde o diagnóstico, os cuidados com a saúde tiveram que ser redobrados e agora triplicados, já que também tem que conviver com a ansiedade e medo provocado pela pandemia. É mais uma das rasteiras da vida. “Rasteira em todos, pois todo mundo tinha planos, é um ano que precisa ser revisto de alguma fora para que a gente tire algo disso”, diz.

Lenita está em quarentena desde março. “Já são 55 dias em casa, saí apenas três vezes, mas não cheguei a descer do carro. Minha filha mora na França, lá a epidemia chegou antes, e ela me avisou, pediu para ter cuidado. Sou bem consciente, sei que não podemos correr risco. Em casa sou eu, meu esposo e meu filho, e todos estão em home office”.

Asmática, Bárbara Lopes da Silva segura a bombinha de ar na mão. (Foto: Arquivo pessoal)
Asmática, Bárbara Lopes da Silva segura a bombinha de ar na mão. (Foto: Arquivo pessoal)

A ida ao mercado acontece uma vez por semana, mas quem faz as compras, nunca é Lenita. “Sou privilegiada por estar em casa, com comida, mas isso me apavora quando penso em outras pessoas que sofrem do mesmo problema, porém, não tem condições. Problema pulmonar é uma morte triste, imagina tantas pessoas morrendo pelo vírus, esse pânico aumenta na gente”, afirma.

A professora comenta que ouviu relatos de pacientes que tiveram o vírus. “É exatamente o que a gente que tem asma já sentiu. Sensação ruim, até durmo com uma luz acesa para não me sentir sufocada”.

Aos 25 anos, Bárbara Lopes da Silva é estudante e relata que tem asma desde criança. “É decorrência de uma alergia que tenho a ácaros e como os ácaros estão presentes em todos os lugares, fica difícil. Tem época que a asma ataca mais, geralmente em tempo seco”.

Ela também está preocupada com a situação do vírus na cidade. “Se fico gripada logo evolui para falta de ar e piora. Mas, quando é só falta de ar naquele momento, uso a bombinha e logo melhoro”.

Para onde for, Bárbara precisa estar com sua bombinha no jeito. “Não posso sair sem ela porque, a qualquer momento, posso ficar com falta de ar”. Ela leva uma vida um pouco mais pacata, por não poder praticar alguns tipos de esportes. Atualmente faz estágio, mas há dois meses está em home office.

Remédio Alenia, receitado para paciente asmático, ao lado da bombinha de ar. (Foto: Arquivo pessoal)
Remédio Alenia, receitado para paciente asmático, ao lado da bombinha de ar. (Foto: Arquivo pessoal)

Em casa, Bárbara vez ou outra sai de máscara para fazer compras no mercado. “Não consegui me isolar totalmente. Não tem ninguém que faça por mim. Entretanto, quando volto sempre lavo as mãos, uso álcool gel, mas mesmo assim corro muito risco.

Bárbara fala sobre o medo da contaminação. “Somos mais fracos, se pegar vai ser muito complicado porque qualquer gripe piora a situação. Tenho muito medo, pois a covid-19 por si só, já instaurou um pânico na população e quem tem esse problema quase surta. Tem dias que fico ansiosa, porém tento ocupar a cabeça e esperar passar a ansiedade”.

Dos traumas que já viveu por conta da asma, a estudante lembra da vez que foi parar no hospital. “A última crise forte aconteceu em 2019, fiquei com muita falta de ar e a bombinha não resolveu. Fui no hospital, onde o médico aplicou Corticorten na veia. Fiquei no balão de oxigênio”.

Gisele Almeida de Moraes fazendo inalação após ter uma crise de asma. (Foto: Arquivo pessoal)
Gisele Almeida de Moraes fazendo inalação após ter uma crise de asma. (Foto: Arquivo pessoal)

Pânico – A dimensão da pandemia e a chegada do vírus na Capital fez a pedagoga, Gisele Almeida de Moraes entrar em desespero. “No início entrei em pânico, depois passamos a nos cuidar mais. Meu marido tem muita cautela, sempre sai de máscara e quando volta faz a higienização”, conta.

Ela tem 38 anos e descobriu a asma aos 15, logo após uma crise por ficar num ambiente úmido. “Primeiro acharam que era emocional, mas com o tempo fui notando que era a poeira. O médico mandou usar a bombinha quando a crise atacasse”.

Desde então também passou a ter mais cuidado com a saúde e principalmente, com ambientes sujos. Os anos se passaram e Gisele foi conseguindo controlar a doença, que tinha parado de dar sinais há dois anos. “Depois que engravidei não tinha passado mais mal, comecei a tomar vitaminas, própolis para melhorar a imunidade, ter cuidado com a casa”, relata.

No entanto, foi só o vírus se espalhar pela cidade que a ansiedade tomou conta. “Tive uma crise e fiz inalação para ver se ajudava. Não tenho mais a bombinha, mas onde moro tem uma farmácia, qualquer coisa dá para comprar”.

Para evitar qualquer risco, ela mantém a família isolada e revela que, às vezes, é vista como a exagerada. “Me passo por chata porque não estou recebendo visitas, acham que é exagero, que não precisa de tudo isso”. A situação também gera estresse e ansiedade, porém, Gisele está tentando lidar com os sentimentos. “Não consigo me controlar, mas com a vida, a gente vai aprendendo formas de se acalmar”.

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