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Comportamento

Com encontros virtuais às sextas, grupo só lê obras de escritoras pretas

Grupo está fazendo a leitura compartilhada de "Quarto de despejo", de Carolina Maria de Jesus

Paula Maciulevicius Brasil | 23/08/2020 09:16
Mulheres que participaram da primeira e única reunião presencial do Geni. (Foto: Arquivo Pessoal)
Mulheres que participaram da primeira e única reunião presencial do Geni. (Foto: Arquivo Pessoal)

O nome já fala a que veio o grupo de leitura "Geni". Inspirado na música de Chico Buarque, que descreve a objetificação da mulher e a condenação pela sociedade, as reuniões virtuais todas as sextas são para mostrar autoras mulheres pretas e como elas podem ser referências acadêmicas.

"Acredito que usar esse personagem, o ressignificar através do grupo, possibilita que mudemos a narrativa hoje imposta sobre os corpos negros", explica uma das integrantes à frente do grupo, a estudante Ladielly de Souza Silva, de 24 anos.

O grupo é coordenado por quatro mulheres, Ladielly, Letícia Maris, Amanda Silva e Ana Raiele, todas acadêmicas da UCDB. "Nós vínhamos pensando desde o ano passado, no intervalo das aulas, sobre o que a gente podia fazer em torno das questões raciais", lembra Ladielly.

As coordenadoras do grupo, Letícia, Ladielly, Ana e Amanda. (Foto: Arquivo Pessoal)
As coordenadoras do grupo, Letícia, Ladielly, Ana e Amanda. (Foto: Arquivo Pessoal)

Antes da pandemia, elas conseguiram realizar o primeiro encontro presencial, que contou até com familiares da integrante Letícia, a tia e a avó que conversamos sobre questões raciais dentro das vivências de cada uma.

Com o isolamento social, o grupo ficou em stand by, até que foi retomado agora, no segundo semestre, com encontros virtuais. "Somos nós quatro construindo isso, conduzindo a leitura compartilhada", explica Ladielly.

A primeira etapa é se cadastrar, deixar dados como e-mail e telefone, para onde é enviado o link de participação das reuniões virtuais. A leitura do momento é "Quarto de despejo", de Carolina Maria de Jesus.

"A gente marca a página onde parou e retoma toda a sexta. Vamos revezando a leitura, cada um lê um pouco, fazemos uma pausa e discutimos, assim sucessivamente", descreve a estudante.

Diferentemente de cada uma seguir um cronograma de leitura em casa, elas trabalham com a leitura em voz alta e compartilhada no momento das reuniões. "Fazemos assim pela realidade de alguns alunos da nossa instituição, que tem de trabalhar e estudar. Então, essas pessoas não tem tempo de vir com o livro já lido para só discutir. Durante o tempo da reunião, todo mundo consegue ler e acompanhar", relata.

Grupo compartilha a leitura de "Quarto de despejo", primeiro livro de Carolina Maria de Jesus.
Grupo compartilha a leitura de "Quarto de despejo", primeiro livro de Carolina Maria de Jesus.

Os integrantes já não são só estudantes, seguindo justamente o que as organizadoras sempre quiseram: ampliar o público. "O que eu costumo frisar bastante é que para além de um grupo de leitura compartilhada, é também um grupo de acolhimento, um grupo de escuta, e de voz ativa, porque nós mulheres negras sabemos como o racismo impactou no nosso desenvolvimento, e que para superar os estigmas precisamos cada vez mais ter espaços como esse, onde nos armamos de conhecimento dos livros, e das vivências e tomada de consciência dos participantes", enfatiza Ladielly.

Para participar, basta mandar uma mensagem para o grupo no Instagram @geni_ucdb.

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