Com protesto e cartazes, mulheres dizem não a cultura do estupro em Campo Grande
“A nossa luta é todo dia, mulher não é mercadoria”. O grito das mulheres foi ouvido no início da noite de hoje, na avenida Afonso Pena em Campo Grande. Descendo a principal avenida da cidade, elas chamavam a atenção para os altos índices de violência contra a mulher e o caso do estupro de uma adolescente no Rio de Janeiro, apenas a ponta do iceberg de uma postura machista forte no País.
Toda a movimentação foi feita pelas redes sociais e tomou forma real na Praça do Rádio Clube, em Campo Grande. Uma das organizadoras, Agatha Rodrigues, de 24 anos, criou o evento no Facebook nos moldes de outras mobilizações nacionais.
“Eu vi outros eventos do tipo e todos eram do dia 1º de junho, então comentei com uma amiga e resolvemos criar igual, copiando mesmo a descrição. Até a hora que eu sai tinha 1.600 pessoas confirmadas, claro que não veio todo mundo, mas foi bem mais do que esperávamos”, acredita.
Estudante de Jornalismo, Agatha acredita que as mobilizações ajudam a fortalezar a crescente luta feminista contra a cultura do estupro, que faz tantas vítimas pelo País. Estima-se que o Brasil tenha um caso de estupro a cada 11 minutos. Os dados são do 9ª Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que ainda aponta que apenas de 30% a 35% dos casos são registrados, o que mostra que os dados podem ser ainda mais alarmantes.
Com a recente investigação de estupro coletivo envolvendo uma adolescente de 16 anos no Rio de Janeiro, o movimento ganhou força e mostrou que o problema está em várias esferas, impregnada em uma cultura que aceita e legítima a violência contra a mulher. “Muitas manifestações serão realizadas, acreditamos no fortalecimento do junho lilás e o último caso chamou a atenção das pessoas e da mídia para a luta”, frisa.
Munidas de cartazes e muita força, as mulheres levantaram questões como “Meu corpo não é objeto, eu mereço respeito” e “mulheres contra a cultura do estupro”. Laís Murakami Gomes, 17 anos, não teve receito de pintar o rosto com o símbolo da mulher. “Eu sou feminista há 17 anos. Me identifico com a causa, sabemos o quanto as mulheres tem medo de sair na rua, do assédio, de ser estuprada. O caso que apareceu no jornal é apenas um dos milhares que acontecem pelo País”, acredita.
Nas mãos, o cartaz. “A cada 11 minutos, uma mulher é estuprada no Brasil”. “Isso mostra que a nossa causa não é mimimi. Toda mulher tem medo de andar sozinha na rua. Essa questão ajuda a nos dar voz, para que todos conheçam a nossa causa”, frisa.
O protesto seguiu da Praça do Rádio Clube, pela avenida Afonso Pena, até a 14 de julho. Terminou em outro movimento, o ocupa Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), onde artistas protestam contra as mudanças no MinC (Ministério da Cultura) e a nomeação do presidente Michel Temer.