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Comportamento

Com sementes levadas por pássaros, o verde brota onde a gente menos espera

Quem passa pela Rua 7 de Setembro encontra vários galhos que nasceram nas rachaduras e estão se desenvolvendo

Alana Portela | 21/01/2020 08:19
Quem passar pelo Centro verá os galhos dando o ar da graça em prédios antigos da Capital. (Foto: Henrique Kawaminami)
Quem passar pelo Centro verá os galhos dando o ar da graça em prédios antigos da Capital. (Foto: Henrique Kawaminami)

A vida está por toda parte, inclusive nas paredes dos prédios de Campo Grande. Caminhando pelo Centro é possível ver algumas plantas brotando no teto, porta e até nas fissuras das rachaduras. Começam como um brotinho e de repente viram galhos enormes que se espalham e tentam alcançar o chão.

É a vida surgindo onde menos se espera e isso deixa a cozinheira Lucia Almeida encantada, mas ao mesmo tempo curiosa para saber como acontece. “A gente planta em vasos e às vezes é difícil de nascer, mas nas paredes parece que não. É engraçado”, diz.

Ela trabalha num prédio verde que fica na Rua 7 de Setembro, próximo ao Mercadão Municipal e comenta que no local nasceu uma figueira. “Já tem três anos isso. Cresceu na parede mesmo e a raiz dela está descendo, tentando alcançar o chão. Por enquanto, a planta não prejudicou em nada e tem pessoas que passam por aqui e param para olhar, ficam curiosas para saber como isso aconteceu”, conta Lucia.

Lucia Almeida acha curioso o fato das plantas nascerem com facilidade nas paredes (Foto: Paulo Francis)
Lucia Almeida acha curioso o fato das plantas nascerem com facilidade nas paredes (Foto: Paulo Francis)
Figueira nasceu na parede, mas a raiz está crescendo pelo lado de fora (Foto: Paulo Francis)
Figueira nasceu na parede, mas a raiz está crescendo pelo lado de fora (Foto: Paulo Francis)
O broto nascendo na parede (Foto: Paulo Francis)
O broto nascendo na parede (Foto: Paulo Francis)

Quem explica como essas plantas nascem com facilidade em locais inusitados é a botânica Ubirazilda Maria Resende. Entre as espécies mais fáceis de serem encontradas nos prédios estão as figueiras. “Os figos de modo geral não germinam em solo, mas sim em matéria orgânica. Nas paredes, as sementes são levadas por passarinhos e morcegos, que se alimentam e param no local para defecar”.

Após a semente passar pelo trato digestivo, ela quebra a dormência e germina com facilidade em ambientes secos. “São plantas epífitas, que germinam em fendas e é comum também encontrá-las nas árvores. Costumam sobreviver da água que fica armazenada no local”, comenta a botânica.

Mais adiante, na 14 de Julho esquina com a 7 de Setembro, tem outra figueira que nasceu na fenda da porta de rolamento. Por ali é um corre-corre danado, mas quem gosta de observar a cidade onde vive vai notar que o verde brotou no meio do branco e azul. Nem mesmo o sol de rachar que está fazendo nesse Verão faz a planta deixar de ser vistosa.

Figueira nasceu na porta do prédio que está na 14 de julho esquina com a 7 de Setembro (Foto: Henrique Kawaminami)
Figueira nasceu na porta do prédio que está na 14 de julho esquina com a 7 de Setembro (Foto: Henrique Kawaminami)

Continuando pela 7 de Setembro, entre as ruas 14 de Julho e a 13 de Maio, tem mais prédios que deram vida aos galhos. A empresária Lucy Nogueira Pinheiro trabalha há 40 anos nesse trecho da cidade e comenta que as plantas são levadas pelos pássaros e faz jus ao título de Capital arborizada.

“É uma cidade com muitas árvores, que embelezam e trazem sombra. Onde trabalho, os passarinhos nos deram de presente algumas plantas. No chão, entre a calçada e a parede do imóvel, tem uma chamada Azedinha, é bonita e serve para fazer na salada. Mas não gosto de tirar de lá, pois foram os pássaros que trouxeram”, diz Lucy.

Para a empresária, as plantas melhoram o ambiente. “Traz sombra e por isso plantei outra de frente ao prédio e faço questão de cuidar. Molho todos os dias, podo para os galhos não caírem. No meu vizinho, deu uma figueira no teto, mas ele arrancou tudo e não nasceu mais”, relata.

Mais uma planta que nasceu na parede (Foto: Paulo Francis)
Mais uma planta que nasceu na parede (Foto: Paulo Francis)
Lucy Nogueira Pinheiro comenta que os pássaros dão as árvores de presente (Foto: Paulo Francis)
Lucy Nogueira Pinheiro comenta que os pássaros dão as árvores de presente (Foto: Paulo Francis)
Planta Azedinha que nasceu no chão, entre a calçada e a parede do imóvel. (Foto: Paulo Francis)
Planta Azedinha que nasceu no chão, entre a calçada e a parede do imóvel. (Foto: Paulo Francis)

Na mesma quadra, encontramos outra planta que nasceu em cima do portão. Quem vê de longe pensa que é uma árvore enorme que ultrapassou a estrutura, mas se aproximando do local se percebe que foi um galho que se desenvolveu nas alturas. Por ali é mais correria, e é difícil algum morador deixar de olhar para o celular e observar o que está a sua volta.

E é assim, com sementes levadas por pássaros que o verde brota onde a gente menos espera. Quem passar pelo Centro verá os galhos verdinhos e folhosos dando vida aos prédios antigos da Capital.

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