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Comportamento

Comparada a botijão de gás, Gabrielli não suportou ataques e fugiu da vida

Felicidade do dia da formatura se transformou em meme, ataques e suicídio

Ângela Kempfer e Maristela Brunetto | 05/08/2023 09:32
Gabrielli feliz em um dia de calor, antes da tragédia nesta semana. (Foto: Reprodução redes sociais)
Gabrielli feliz em um dia de calor, antes da tragédia nesta semana. (Foto: Reprodução redes sociais)

Em uma noite, Gabrielli comemorava com festa e vestido de princesa a sensação incrível de concluir a faculdade de Medicina Veterinária. Dias depois, a alegria da família foi sepultada, em 5 de março. A jovem morreu vítima de overdose de medicamentos. O tempo que separa as duas cenas é marcado por ódio nas redes sociais, gordofobia e suicídio.

Recém-formada, a jovem que aparece sorridente na maioria das fotos não conseguiu experimentar a nova fase, como profissional. Desistiu antes de começar a carreira, escolhida pelo amor demostrado também em imagens aos “filhos” caninos Juma e Hope.

Na avaliação da mãe, Gabrielli se desesperou, vítima da pressão distribuída em frases, memes e xingamentos no Whatsapp. O bullying contra a colega, que nunca foi magra, voltou com força e foi fatal.

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O vestido cor de rosa, com corte perfeito para o corpo de Gabrielli, era exatamente o que a menina sonhou para o grande baile de formatura. Mas, de repente, a beleza virou chacota. Fora do padrão magrelo das passarelas, a jovem virou meme, comparada a um botijão de gás.

Na sequência, além de muitas piadas, surgiram acusações de traição. “Briga por causa de homem”, traduzindo para o popular. Gabrielli então decidiu “sumir”.

“Infelizmente, essa foi a quarta vez que a Gabrielli tentou suicídio, todas as vezes foi por conta do bullying que sofria na escola e na faculdade. Minha filha sempre teve problemas por ser gordinha, as amigas sempre faziam piadas com ela, mas a gente conversava, sempre disse que o que realmente importa era o caráter”, conta a mãe da jovem, Daniella Gonçalves, de 46 anos.

Desta vez, a dose de maldade foi cavalar, iniciada na sexta-feira passada. “Eu estava no trabalho quando Gabrielli ligou e disse que não aguentava mais aquela situação das amigas ficarem falando que ela era gorda e falsa. No fim do dia, conversei com ela e fui dormir. Lá pelas 2h da madrugada, ela acordou passando mal e vomitando. Minha filha saiu daqui toda roxa, não parecia minha menina, ela chegou ao hospital em coma”, diz a mãe.

Gabrielli com os cães; a família diz que jovem veterinária sempre sonhou com a carreira.
Gabrielli com os cães; a família diz que jovem veterinária sempre sonhou com a carreira.

Por quatro dias os médicos tentaram reverter o quadro de intoxicação, mas ontem pela manhã a mãe recebeu a notícia que acabou com a esperança de milagre para a única filha.

“Minha Gabrielli morreu. Não merecia isso. Perdi minha melhor amiga. Onde ela chegava todos se encantavam com sua educação, ela tinha apenas 23 anos e já era médica veterinária, elas mataram minha princesa", desabafou a mãe, falando das ex-amigas que costumavam jogar de forma on-line com Gabrielli e que teriam começado a onda de ataques contra a veterinária.

No velório, nesta manhã em Campo Grande, Daniella continuava visivelmente sem forças, dopada pela dor. Mas insiste que a filha não se matou, foi “assassinada” pelo bullying. “Vou procurar a polícia, quero que elas respondam por homicídio. A minha filha foi vítima. Uma delas dormia na minha casa, comia da minha comida e no final matou a minha única filha sem nenhum motivo”.

Mas por enquanto a mãe só tem tempo para a saudade. “Minha filha tinha sonhos, fez a faculdade que ela tanto sonhava, se formou esse ano, sempre muito dedicada aos estudos, era meu orgulho, era meu motivo para sempre voltar para casa”.

Gabrielli e a mãe, separadas na última sexta-feira quando a jovem entrou em coma. (Foto: Reprodução)
Gabrielli e a mãe, separadas na última sexta-feira quando a jovem entrou em coma. (Foto: Reprodução)

Foi da irmã paterna, Rebeca Lopes Miranda, de 29 anos, que partiu a decisão de pedir para o assunto se tornar público, como lição sobre empatia e sofrimento. “Ela pedia que parassem e não pararam. Ela tinha passado a lidar melhor com a gordofobia depois que já estava mais velha, não aceitava mais calada a discriminação, mas nesse caso ficou muito abalada, não conseguiu superar”.

Onde procurar ajuda 

O Campo Grande News aproveita para informar que o Grupo Amor Vida (GAV) presta um serviço gratuito de apoio emocional a pessoas em crise através do telefone 0800 750 5554. Ligue sempre que precisar! O horário de funcionamento é das 7h às 23h, inclusive, sábados, domingos e feriados.

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