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Comportamento

Criança, nos perdoe por não vermos a infância como ela merece

Vítima direta da mãe e do padrasto, que estão presos, a garotinha foi refém do sistema

Jéssica Benitez | 02/02/2023 09:11

Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

"É preciso uma aldeia para criar uma criança", ditado popular africano nunca fez tanto sentido em Campo Grande quando, na semana passada, a menina de 2 anos partiu após série de agressões e negligência por parte de quem deveria cuidá-la.

Vítima direta da mãe e do padrasto, que estão presos, a garotinha foi refém do sistema. Sucumbiu. Não foi a primeira, infeliz e dolorosamente não será a última.

De cara, quando nos deparamos com casos assim, vem a revolta. Inconformismo. Mas a longo prazo situações surreais como o dessa criança acabam nos levando mais além: estamos agindo como aldeia?

Foram dois anos e sete meses que passaram em branco diante de muita gente que cruzou o curto caminho da nossa pequena gigante. Quem tentou salvá-la além do pai? Claro que a investigação vai apontar os efetivos culpados, mas precisamos fazer mea culpa. Será que protegemos nossos pequenos como deveríamos ou levamos a máxima do "não meter a colher" às relações entre pais e filhos?

Tragédias anunciadas tomam as capas dos jornais todo santo dia e o que a gente faz além de esboçar revolta e virar a página? A criança passou por diversos atendimentos médicos, boletins de ocorrência foram registrados, foi visitada pelo conselho tutelar, foi vista por pessoas e nada disso foi suficiente para poupar sua vidinha.

Adjetivar mãe e padrasto com palavras pesadas, demonstrar indignação, ficar no "e se", nada disso adianta. Precisamos estar vigilantes. É preciso guardar a infância e parar de uma vez por todas de normalizar a violência.

Agora, menina, espero que você consiga brincar em paz, correr, pular na tranquilidade que deveria ter tido aqui neste plano. Que você esteja leve, flutuante, cheia da luz que merece.

Desejo que toda essa comoção causada pelo o que te aconteceu se transforme em amor, afeto, carinho, tão densos que transcendam as barreiras da nossa vã filosofia e cheguem ao paraíso em que mora agora. Também quero do fundo do coração que nos perdoe como a sociedade alheia que nos tornamos. Nos perdoe, querida, pela omissão que a "adultice" nos traz e que deixa invisível as dores mais gritantes dos nossos pequenos.

Agora, pequena, voa. Voa que este mundo é cruel demais pra ter a pureza de anjos como você. Leva contigo a luta travada por seu papai, que um dia ele encontre o mínimo de paz para seguir em frente e que vocês se unam novamente na eternidade.

Jéssica Benitez é mãe do Caetano e da Maria Cecília, jornalista e aspirante a escritora no @eeunemqueriasermae

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