Crystian foi 'adotado' pelo povo de Okinawa e virou até embaixador
Sem parentes ou descendentes na comunidade, ele se encantou pela cultura e foi recebido de braços abertos
Mesmo sem ter nenhum parente ou descente de Okinawa, o professor de música Crystian Proença, de 31 anos, resolveu mergulhar na cultura e foi 'adotado' pela comunidade. Hoje, ele acumula 18 anos de atuação dentro da Associação Okinawa de Campo Grande, além do título de embaixador da província no Brasil.
Dentro da comunidade, Crystian relata que teve a oportunidade de realizar viagens para o exterior, o que envolveu conhecer tanto Okinawa quanto o Japão em geral, além de ter se formado Sensei (professor) de Sanshin pela academia Nomuraryu Koten Ongaku Kyoukai.
Seu primeiro contato com a Associação aconteceu em 2007, quando ele, junto de um amigo, decidiu prestigiar um evento para conhecer o espaço e as atividades que eram desenvolvidas por lá. Apaixonado por música desde pequeno, o que mais chamou atenção de Crystian foi justamente a cultura musical da comunidade.
Ele detalha que, em certo momento, acabou escutando o som do Sanshin - instrumento da cultura Okinawa - e ficou encantado pela sonoridade. “Escutei o som em uma sala e eu olhei pela fresta da porta, e ali haviam vários idosos tocando, e eu fiquei encantado com aquele instrumento, achei muito interessante, exótico”, expressa.
Ele então pediu o contato do sensei, na época Shigueno Oshiro, e na semana seguinte começou a fazer aulas do instrumento. Ele relembra que o sensei até aceitou lhe ensinar com a condição de que aprendesse o idioma japonês, já que grande parte dos ensinamentos eram nessa língua. A partir deste momento, ele narra que começou a frequentar a associação todo fim de semana para fazer as aulas de sanshin, taiko e de dança.
Esse foi seu ingresso para a comunidade, que ele relata ter lhe recebido de braços abertos. “Eu participava do karaokê, cantando com o pessoal, sempre fui bem acolhido entre os jovens, entre as pessoas lá da associação. Acredito que a cada ano que se passa eu tenho recebido mais carinho e mais consideração da comunidade Okinawana, então definitivamente posso dizer, me sinto um Okinawano de coração”.
Crystian também foi convidado pelo atual presente, Eduardo Kanashiro, para integrar a atual gestão da Associação Okinawa, ocupando o cargo de diretor cultural adjunto. Em 2022, recebeu diretamente da província de Okinawa o título de embaixador da província de Okinawa no Brasil.
Experiência cultural
Após ser “adotado” pela comunidade Okinawana, Crystian viu sua vida mudar ao ser inserido em uma cultura totalmente nova. Ele teve a oportunidade de receber uma bolsa, oferecida pela JICA (Agência Internacional de Cooperação do Japão), para passar um período em Yokohama, no Japão, e um período em Okinawa. Por lá, ele teve a oportunidade de viver de perto a cultura pela qual é apaixonado, além de ter enriquecido suas experiências e vivências.
Ele também viajou diversas vezes para São Paulo para realizar provas de graduação e qualificação, e hoje tem o título de Kyoshi (sensei), e é graduado em licenciatura em música clássica de Ryukyu, música clássica de Okinawa.
“E a associação Okinawa também sempre me deu oportunidade de participar na organização dos grupos, departamento de jovens, fui convidado para participar da diretoria também, mesmo não sendo descendente”, ressalta.
No dia 25 de julho, Chrystian também participou, a convite da Associação Okinawa Kenjin do Brasil, de uma comitiva que foi para Brasília, se encontrar com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania , e participar de um pedido de desculpas do Estado brasileiro para os descendentes de japonês e okinawanos que sofreram represálias, preconceitos e torturas durante o período da Segunda Guerra Mundial.
“Então eu fui o único não descendente da comitiva e o único Campo Grandense a participar dessa comitiva. Então eu me sinto honrado, pois é reconhecimento dos anos de trabalho e de esforço em prol da comunidade okinawana no Brasil”, completa Crystian.
Festival Okinawa
O festival não é novidade para Crystian, que já teve a oportunidade de participar de outras edições, mas esta é a primeira em que ele irá se apresentar no palco, junto com descendentes de Okinawa.
“O convite partiu da comissão organizadora do evento e, posteriormente, quando ficaram sabendo que eu viria para São Paulo, vários artistas entraram em contato comigo para poder fazer essas participações especiais, então é a primeira vez que eu vou estar tão ocupado com tantas apresentações", acrescenta.
Neste sábado (3), ele se apresenta no palco Kariyushi, junto com a bailarina Lanna Matsuda, que fará uma apresentação da música Shimauta, que fala sobre a chegada da guerra na ilha de Okinawa.
Na sequência, ele se apresenta junto com um grupo de 12 dançarinas de hula-hula, do grupo ‘Sonho de Hula’, em uma apresentação sobre a relação de Okinawa com o Havaí, relembrando a ajuda dos hawaianos na reconstrução da ilha de Okinawa. “A apresentação vai ser bem especial, bem feita com muito carinho, com danças e o intuito é abrilhantar cada vez mais o evento aqui”, finaliza.
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