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Comportamento

Da bebedeira ao sentimento "nasci de novo": Páscoa é lição sobre respeito à vida

Duas histórias e um mesmo detalhe, ambos sofreram as consequências de unir álcool e direção. Na Páscoa, o que fica é a reflexão sobre um mundo diferente e a gratidão por uma "nova vida"

Thailla Torres | 01/04/2018 07:53
Família comemora saída do filho Gerson da UTI, depois de um acidente de moto que o deixou entre "a vida e a morte". (Foto: Thailla Torres)
Família comemora saída do filho Gerson da UTI, depois de um acidente de moto que o deixou entre "a vida e a morte". (Foto: Thailla Torres)

"Mãe nenhuma quer ver o filho chorar, mas naquele dia foi a minha alegria ver o Gerson derramar uma lágrima". A frase descreve em palavras a angústia de uma mãe ao ver o filho em coma. No relato da dona de casa Brácida Sarate Vargas, de 49 anos, os passos até a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) da Santa Casa de Campo Grande foram os mais dolorosos da vida, até que o destino ou a fé, como ela imagina, resolveu dar mais uma chance ao menino que "renasceu", após um acidente de moto.

Em outro quarto, na ala de Neurologia, está Marcos Oila Rodrigues, de 20 anos, que agarrado a fé , agradece insistentemente pela chance de começar tudo outra vez. Ele está no hospital há 10 dias, venceu a UTI depois de um acidente grave de carro que o deixou tetraplégico.

Na história cristã, a Páscoa marca a ressurreição de Cristo. Dentro de um hospital a celebração é pelo recomeço para ambas as famílias, depois de reconhecerem os erros do passado, principalmente, porque as histórias de Gerson e Marcos, se cruzam quando o assunto é álcool e direção.

Para mãe, a lição que fica é começar um amanhã diferente, com responsabilidade. (Foto: Thailla Torres)
Para mãe, a lição que fica é começar um amanhã diferente, com responsabilidade. (Foto: Thailla Torres)

Gerson Gomes Junior, tem 20 anos e mora em Maracaju com os pais. No dia 28 de fevereiro ele sofreu um queda de moto depois de sair de uma comemoração com os amigos. A mãe diz que o filho nunca foi de beber. "Mas naquele dia ele tirou para se divertir e beber um pouco", diz Brácida. Gerson assume, "eu bebi algumas cervejas, não sei dizer quantas, mas não foram muitas", garante.

Do momento do acidente em diante, Gerson não lembra de nada. Testemunhas contaram à Brácida que o filho passou em um quebra-molas e perdeu a direção. "A moto voou e ele bateu em um poste", resume.

Na Santa Casa, chegou em coma. Foram 10 dias de angústia torcendo para que Gerson acordasse sem nenhuma sequela, até que um dia, o filho chorou. "Com aquela lágrima eu sabia que ele iria acordar, eu ficava conversando com ele bastante, até que um dia ele abriu os olhos".

No hospital os dias também não têm sido fáceis. Brácida e o marido se revezam durante o dia para cuidar de Gerson. Em Campo Grande, sem conhecer muita gente, os gastos têm pesado para a família simples, mas nada abala a fé do casal que só espera levar o filho para a casa. "Creio que ele vai ter alta essa semana. Nossa Páscoa vai ser de ansiedade, de agradecimento, só pedindo para que ele volte logo para a casa".

Para Gerson, o sentimento é ainda maior. "Agora é fazer diferente, principalmente nunca mais beber e pilotar".

Marcos ficou tetraplégico, depois de um passeio com o carro do pai que foi parar de baixo d'água.
Marcos ficou tetraplégico, depois de um passeio com o carro do pai que foi parar de baixo d'água.

O mesmo sentimento permeia os dias de Marcos, que após beber e dirigir, sofreu um acidente na estrada e perdeu os movimentos do corpo. O caso ocorreu no dia 18 de março, em uma chácara a 10 quilômetros de Bela Vista. Marcos conta que estava com a namorada, pegou o carro do pai e a levaria embora para casa, mas de última hora, resolveu deixá-la. "Ela e o filho dela, se tivessem comigo, nem sei o que teria acontecido. Foi Deus que me fez vir embora sozinho".

A dois quilômetros da chácara, Marcos capotou o veículo, foi arremessado 4 metros para fora do carro que acabou caindo em um lago. "Eu não sei dizer o que aconteceu com o carro. Também não vou mentir, eu tomei mesmo umas cervejas antes de vir, mas não sei se foi um problema nas rodas ou se foi o álcool".

Encaminhado para a Santa Casa, em estado grave, Marcos ficou na UTI e só acordou um dia depois do acidente, sem entender o que havia acontecido. "Eu fiquei um pouco confuso, mas o meu desespero foi quando falaram que eu não estava mexendo nenhuma parte do corpo".

A notícia sobre a tetraplegia foi um choque para Marcos que diz ter entrado em desespero. "Chorei muito, fiquei pensando em como seria minha vida naquele momento. Eu estava sem andar por conta de um carro".

Os médicos acalmaram Marcos e a mãe Cândida Borges, de 60 anos, que não sai um minuto do lado do filho também. "Eu sei que ele nasceu de novo e eu tenho fé que ele vai andar logo, logo".

Uma ponta de esperança com os primeiros movimentos agora fez nascer um sorriso em Marcos. "Depois que os médicos falaram que eu não estava mexendo nada, poucos dias depois, eu comecei a mexer as mãos, agora as pernas, e aos poucos vou me recuperando".

Longe de casa e à espera de alta, a chegada da Páscoa para Marcos vai ser de agradecimento por um novo destino. "Eu já fiz uma promessa, chegando na minha cidade, vou primeiro na igreja, ao lado da minha namorada, porque nasci de novo e agora vão ser dois aniversários".

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