Dani quase enlouqueceu ao perder a filha, mas encontrou paz na corrida
"Ela é minha força", diz corredora que desde a morte da filha coleciona superações em forma de medalhas
A corrida entrou na vida de Danielle Oliveira, de 40 anos, no momento mais difícil que poderia enfrentar: a morte da filha. Há mais de sete anos, a fotógrafa quebra recordes como corredora, participa de provas e tudo isso graças à força que vêm da filha que partiu cedo demais.
Geovanna tinha quatro anos quando em dezembro de 2015 recebeu o diagnóstico de Tumor de Wilms, que é um tumor maligno congênito. Na época, a notícia deixou Danielle devastada acarretando danos à própria saúde.
"Saí da faculdade, emprego e me dediquei à cura dela. Neste ínterim desenvolvi crise de ansiedade, pânico, depressão e não soube lidar com as emoções. Precisei de medicamento controlado para seguir no tratamento dela", comenta.
O tratamento da filha mais nova consistia em 27 quimioterapias, mas na 23º ela desenvolveu uma infecção. "Ela também teve recidiva (retorno do câncer)", explica a fotógrafa. Para o tratamento de resgate, a equipe recorreu a uma quimioterapia mais agressiva que durou três dias dos 13 que Geovanna passou no CTI.
O protocolo afetou o único rim da menina que não resistiu a diálise. Em setembro de 2016, Danielle sentiu o último suspiro da filha."Ela faleceu na minha frente enquanto eu fazia carinho em sua careca e cantava sua música preferida", recorda.
No ano de 2017, a fotógrafa viveu à base de medicações e questionando se deveria ir ou não com a filha. "Após a morte dela eu enlouqueci, pensei várias vezes em partir para junto dela. A dor de perder um filho é insuportável. É como rasgar você por dentro sem direito a analgésicos. O mundo continua girando, mas você para", conta.
O luto ganhou outro rumo após receber o convite de um amigo para correr. Em 2018, ela encarou a primeira corrida. O trajeto de 5km foi desafiador em vários sentidos para a fotógrafa que se viu outra após terminar a corrida.
"Durante o percurso desta prova chorei muito pensando na Geovanna, no quanto ela foi forte de aguentar tantas medicações pesadas sendo criança ainda e que ali eu seria forte também, por ela. Quando passei a linha de chegada, desabei de tanto chorar. Pensei: ela é a minha força", afirma.
Esse foi o primeiro contato dela com a modalidade esportiva. A retomada dos exercícios fizeram com que a saúde melhorasse ao ponto de conseguir engravidar novamente. "Meu corpo ajustou as taxas e engravidei novamente mesmo não podendo mais. A médica disse que foi milagre", relata.
Em 2019, Mellina nasceu no dia do aniversário de Danielle. "Neste mesmo ano participei de várias provas de corrida. Colecionando então superações em forma de medalhas", declara.
Das corridas que mais a marcaram, a atleta cita a São Silvestre em São Paulo como a prova 'mais linda e emocionante' que enfrentou. "Ali realizei um sonho de corredora", frisa. Além dessas, a fotógrafa participou da Meia Maratona de João Pessoa, onde correu 21 km, a Live!Run XP onde fez 16 km em tempo inacreditável.
Após passar o ano de 2023 treinando para se tornar meio maratonista, a corredora colocou como objetivo em 2024 fazer 21 km na modalidade trail e participar de meias maratonas no Estado. Além de se encontrar na corrida, ela fez amizades valiosas nesses últimos anos, com destaque para a turma do PaceRunners.
"Conheci em setembro do ano passado e o fato de sermos amigos corredores tem me ajudado muito na questão da evolução pessoal e superação das dificuldades. Estar em comunidade ou grupo é uma benção", pontua.
Pensando em tudo que aconteceu desde setembro de 2016, Danielle acredita que conseguiu lidar com o luto de outra força por meio da corrida. O esporte a ajudou a recuperar autoestima, autoconfiança, força mental e saúde.
"A corrida me deu novo significado para vida. Trouxe amigos incríveis e oportunidades de viagens que não sei se viveria em outro contexto. A corrida é um esporte que não te fortalece somente para as provas ou para que você apenas encontre sua melhor versão. A corrida te prepara para a vida", destaca.
Para ela, o mais bonito na própria história é sentir que a mesma ainda não acabou. "Sinto que é só o começo de uma longa história que estou escrevendo através de cada km percorrido. Quem sabe uma maratona no ano que vem? Nada é impossível até que seja feito", conclui.
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