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Comportamento

Dani vai reencontrar as três filhas que o vício fez ela perder há 20 anos

Filhas foram adotadas por família espanhola e, agora, irão reencontrar a mãe

Por Aletheya Alves | 11/06/2024 06:30
Após 20 anos sem saber se as filhas estavam vivas, Dani foi localizada por elas. (Foto: Paulo Francis)
Após 20 anos sem saber se as filhas estavam vivas, Dani foi localizada por elas. (Foto: Paulo Francis)

“Foram 20 anos de tristeza e de loucura”, resume Daniela Conceição Assis Neira sobre o tempo que ficou sem notícias das três filhas. Na época em que perdeu a guarda das meninas, a campo-grandense sofria com dependência química, mas garante que nunca quis ver as filhas desaparecerem.

Com as antigas fotos em mãos, Dani já não chora mais de desespero como ocorreu durante as últimas décadas. Agora, ver Larissa, Stefany e Vitória ainda pequenas é sinônimo de alegria, já que em dois meses ela finalmente vai reencontrar suas “meninas”.

Mas, para chegar aos 45 anos da mãe, é necessário voltar para sua infância, quando as dores da vida começaram. Dani narra que a vida nunca foi simples e ainda pequena viu a mãe, grávida, ser abandonada pelo marido com quatro filhos para criar.

Os anos iniciais passaram e, sem condições de continuar morando com a família, decidiu ir para um abrigo quando tinha 10 anos. “Foi um transtorno muito grande com tudo o que passei”.

Já trabalhando muito cedo e sem nenhuma estrutura familiar, ela conta que o vício foi o passo seguinte. “Comecei cheirando cola, depois corretivo com 12 para 13 anos, era bem nova. Nada dava certo, não conseguia seguir no trabalho, tinha aquela raiva da infância e eu não era a pessoa que sou hoje, que perdoa. Eu era uma criança perturbada, perdida”.

Sem retroceder ou receber ajuda, Daniela explica que a dependência realmente tomou conta de sua vida quando conheceu a pasta base e a uniu com álcool. E foi nesse cenário que, aos 15 anos, engravidou pela primeira vez. A segunda filha veio quando a mãe tinha 19 e, aos 22, teve a terceira menina.

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Aos 16 anos comecei a me prostituir, eu não tinha cabeça para nada e fui para a prostituição. Estava nas drogas, tinhas que comprar leite, fralda e fui para a prostituição, descreve Daniela.

Com as três crianças na casa da avó, a mãe relata que os recursos foram acabando até que o apoio familiar não conseguiu resistir. “Minha mãe estava sem condições de dar algo para minhas filhas, tudo estava faltando dentro de casa e eu, na dependência química, estava sem conseguir suprir essas necessidades”.

Ouvindo que a melhor solução seria pedir ajuda, Daniela diz que decidiu ir até a Justiça.

“Minha mãe falou que elas precisavam de ajuda, que eu precisava de ajuda, mas eu não tinha condições de pagar clínica nenhuma. Hoje em dia tem clínica, hoje o tratamento é diferente”, argumenta.

Segundo a mãe, o objetivo era conseguir um abrigo seguro para as filhas e encontrar um local para se tratar. Mas, após alguns meses, teria recebido a notícia de que havia perdido a guarda.

Com a notícia, toda a situação piorou e se seguiram três anos de desespero no cenário composto por dependência química, prostituição e uma vida sem moradia. Segundo Dani, quando as filhas ainda estavam no abrigo, ela não deixou de tentar visitá-las, mas em determinado momento recebeu a notícia de que elas haviam sido adotadas por uma família de fora do Brasil.

Eu tenho o amor das minhas filhas no meu coração, por elas eu iria fazer tudo. Se eu tivesse esquecido elas, não tinha vivido mais, descreve a mãe.

Esses sentimentos seguiram com Daniela e, em meio a tantas dificuldades, conheceu seu atual marido, Fábio. Também vivendo a dependência química, o homem conseguiu buscar tratamento e, anos depois, voltou para buscar a companheira.

Desde então, a mulher tem recebido ajuda e feito tratamentos de saúde. E, há um ano, o que ela mais queria aconteceu: as filhas a encontraram.

Por um bom tempo, Fábio espalhou divulgações com as fotos das meninas dizendo que a mãe estava procurando por elas até que o resultado chegou. Em casa, Daniela escutou o marido dizendo que uma das filhas tinha entrado em contato e, como a mãe descreve, realmente não parecia verdade.

“Foi aquela alegria, parecia que chovia felicidade, bênçãos dentro de casa e nessa noite eu nem dormi. Elas querendo falar comigo e eu passando mal, elas perguntando como eu estava. E elas são lindas”, diz Dani.

Hoje, Daniela faz tratamento com diversas medicações devido aos traumas e dependências. (Foto: Paulo Francis)
Hoje, Daniela faz tratamento com diversas medicações devido aos traumas e dependências. (Foto: Paulo Francis)

No fim das contas, as três filhas foram adotadas pela mesma família e cresceram na Espanha. Hoje, duas continuam por lá e uma se mudou para os Estados Unidos. “Uma é jogadora de futebol, outra é modelo e outra é psicoterapeuta especializada em adoção”.

Daniela explica que, assim como ela, o trio nunca deixou de procurá-la e, agora, só falta o encontro presencial que deve ocorrer em agosto durante o casamento da mais velha.

“Eu vou chorar demais, vou ficar maluca. Quero abraçar elas, encher de beijo e elas falam que nunca me esqueceram, que elas sempre pediram pela mãe. Finalmente vai acontecer”.

O valor para a passagem está quase completo, mas Dani explica que precisa de roupas para participar do casamento e fazer a viagem, além de malas. Por isso, quem conseguir ajudar pode entrar em contato através do número de sua filha, Gisele (67) 99253-1691.

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(*) Texto alterado às 11h de 11/06/2024 para mudança do número de contato.

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