De Campo Grande para a Ásia, noiva escolhe sari rosa como vestido de casamento
Campo-grandense de nascença, cidadã do mundo no passaporte e na vontade de ajudar o próximo. Thaís é a noiva que trocou o vestido branco pelo sari cor de rosa na hora de dizer "sim". O traje foi comprado em Singapura durante o ano em que ela se dedicou a ser missionária na Ásia para o casamento que aconteceu em setembro, aqui na Capital.
Desde menina Thaís tinha o sonho de ser missionária. Com 6, 7 anos, ouvia os relatos nos cultos da Igreja Presbiteriana e junto dos pais fazia oração por quem exercia esse ofício nos países distantes. Antes de seguir o sonho, ela primeiro cursou a faculdade de Arquitetura e Urbanismo, para então fazer o seminário específico das "Missões", em Viçosa, Minas Gerais. Onde depois conheceu Orlando, pastor que viria a ser seu marido.
O sari indiano sempre esteve presente como roupas típicas dos lugares onde ela sonhava em ir fazer o bem. Um dia, olhando por curiosidade um site de casamento, se deparou com a vestimenta na hora do sim. "Eu achei lindo e já falei, se um dia eu casar, quero casar assim. Acho uma das vestimentas mais bonitas que existe", descreve a noiva Thaís Gomes Coelho, de 30 anos.
Cinco anos depois, ela comprou o sari na Ásia. "Eu trabalhei lá e morei com uma família que o marido era descendente de indiano e lá tem uma população muito grande. Acabei achando um específico para casamento". Thaís explica que o sari é a vestimenta que eles usam no dia a dia e que no casamento, seria igual o nosso vestido tradicional de noiva, só que mais sofisticado, com bordados, tecidos e cores diferentes.
O branco na cultura indiana é, segundo a missionária, usado para o luto. "Não significa pureza como para a gente. Em festas, o mais usado é o vermelho", completa a noiva. E por sempre gostar de colorido, ela escolheu o rosa.
No casamento, a surpresa foi para os convidados e até para o noivo. Quem sabia do traje eram os pais e duas amigas de Thaís. "Ele sabia do sari, mas não a cor. Ele me garantiu que ficaria no altar e não ia fugir, mesmo vendo a cor", brinca.
O curso que Thaís fez para ser missionária ensinava antropologia, culturas e diversidades religiosas. Também falava sobre o Antigo e Novo Testamento, presentes na Bíblia. Depois de nove meses de estudo, foi a hora de fazer as malas e passar um ano todo fora. O trabalho dela foi diferenciado, Thaís viajou para conhecer projetos e trabalhar com refugiados do Paquistão, Malásia e Tailândia, ensinando Inglês e Artes para crianças e adolescentes e atendendo famílias semelhantes aos nossos ribeirinhos.
O trabalho é de doação. Thaís não recebe um salário fixo e sim verba de igrejas para se manter lá. Ela só voltou ao Brasil em julho e o casamento todo foi planejado pela mãe, via Skype.
Do tempo que ela passou lá e a vontade que tem de voltar, o que ficou foi a lição de ser mais humana e amar mais. "Eu acho que isso tem me ensinado que a gente pode fazer mais, pode se doar mais. As pessoas são carentes de cuidado e de amor. É incrível que você faz tão pouco e eles ficam tão faceiros", descreve.
Se casar de sari trouxe à tona a experiência missionária, mais que isso, foi a realização de um sonho. "Quando a gente mora em outros lugares, não pertence mais a um lugar. Acaba trazendo valores, o que aprendeu, os amigos que fez. E você sente falta das pessoas que conviveu", diz.
Nas redes sociais, ela recebeu o carinho de quem esteve representado pela vestimenta, mas que pela distância geográfica, não pode estar ali. "Eles comentavam você casou um país ocidental, mas levou um pouquinho da gente. Acho que acaba sendo um misto de sentimentos, de alegria, de satisfação, de realização", encerra.
Thaís hoje mora em Brasília e estuda a possibilidade de voltar à Ásia, agora com o marido, dentro de dois anos.