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Comportamento

De graça, Letícia cobre tatuagem que mulheres fizeram em relação abusiva

Ideia surgiu depois que uma mulher de 24 anos denunciou o ex-namorado tatuador por agressões

Alana Portela | 05/03/2020 08:11
A tatuadora Letícia Duarte Ferreira Maidana arrumando o varal com seus desenhos. (Foto: Paulo Francis)
A tatuadora Letícia Duarte Ferreira Maidana arrumando o varal com seus desenhos. (Foto: Paulo Francis)

Com a proposta de ajudar as mulheres a iniciar uma nova etapa na vida, a tatuadora Letícia Duarte Ferreira Maidana criou o projeto de cobrir gratuitamente tatuagens feitas em homenagem a um relacionamento abusivo. A campanha é válida para o mês da mulher, e a cobertura é feita quando o nome ou as iniciais do nome do ex-namorado estão gravados na pele.

“A ideia surgiu porque soube de um caso de um tatuador da cidade que agrediu a ex-namorada. Quando descobri pensei: agora ela deve ter um monte de tatuagem dele. Faz tempo que vejo tatuadores com posturas machistas e como tatuadora, sempre falo que é preciso ter muita segurança na hora de fazer a tatuagem”, destaca.

A vítima da agressão que Letícia mencionou, fez a denúncia formal contra o ex-namorado e foi então a partir daí que a tatuadora conversou com a mulher se oferecendo para cobrir, de forma gratuita, os desenhos feitos durante o relacionamento. O caso foi noticiado pelo Campo Grande News.

Letícia fala sobre a proposta do projeto ser válida para o mês da mulher. (Foto: Paulo Francis)
Letícia fala sobre a proposta do projeto ser válida para o mês da mulher. (Foto: Paulo Francis)

“Pensei comigo: ela tem um monte de tatuagem dele e isso a fará lembrar de um relacionamento que não devia recordar. Me disponibilizei e ela ficou emocionada e então achei que devesse ter um monte de gente passando pela mesma situação, de ter feito a tatuagem em homenagem”.

Foi então que a tatuadora resolveu usar a conta do seu Instagram para divulgar a proposta e assim alcançar mais mulheres. “Depois de postar, muita gente veio me procurar”, comenta.

Letícia tem 25 anos e é tatuadora há três. Está morando em Campo Grande desde o final de 2019. Seu estúdio “Letícia Maidana Art’ fica no Laricas Cultural, uma casa onde ocorrem programações culturais gratuitas. É por lá que a tatuadora mostra seus trabalhos autorais, feitos em pontilhismo e blackwork.

No seu estúdio tem desenhos feitos por ela, espalhados pela sala, como dica de opção para os clientes fazerem. Para Letícia, tatuagem vai além da forma de expressão e de adornar o corpo. “Meus temas têm a ver com o ser mulher na sociedade, libertação e empoderamento feminino. Trabalho pensando na forma da pessoa se identificar com o desenho e sentir-se mais à vontade com o corpo”, afirma.

Por isso ela se solidariza com outras mulheres e prova que sororidade é tudo, principalmente no meio feminino. Durante o bate-papo com o Lado B, Letícia se lembrou de algumas experiências vividas como tatuadora e comentou sobre os casos de relacionamento abusivo.

Na memória, veio a lembrança da vez que fez a primeira cobertura de uma tatuagem. Na época, morava em Curitiba e a cliente também havia passado por uma experiência traumática durante a relação. “Tinha tatuado o nome do ex abaixo do peito. O tatuador que fez tinha mão pesada porque o traço ficou enorme, grosso e em relevo. Fiz um pássaro e um corvo preto por cima”.

Foi um ritual de passagem dolorido, feito numa sessão e a cliente aguentou firme até os últimos instantes para poder se ver livre de um passado que só trazia tristeza. “Ter essa lembrança para o resto da vida, o nome da pessoa te fez sofrer um relacionamento traumático é tenso”.

Geralmente, as tatuagens a serem cobertas ficam maiores depois de pronta. “Algumas são grandes e estouradas e precisam de uma grande camada de preto sólido, mas a maioria dá para fazer desenhos por cima pensando na sombra pegar aquela parte em específica”, explica.

Mais um exemplo é outra mulher que tatuou as iniciais do ex-companheiro na nuca e por isso não prendia o cabelo. A tatuadora comenta que, muitas vezes, quando se está num relacionamento abusivo, o parceiro faz questão de marcar a companheira. “É a ideia de posse”, diz.

“Acho toda mulher vivenciou algum tipo de cobrança machistas e abusivas dentro de um relacionamento. Talvez, violência psicológica a maioria já passou”, comenta.

As interessadas em cobrir alguma tatuagem ou mesmo em conhecer o trabalho de Letícia, podem entrar em contato através do Instagram @leticiamaidana.art. Sempre que possível ela retorna as mensagens. A tatuadora atende de terça a domingo no Laricas Cultural, que está de porta abertas para todos, e fica na Rua Antônio Maria Coelho, 1663.

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