ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
JULHO, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 27º

Comportamento

De graça, Letícia cobre tatuagem que mulheres fizeram em relação abusiva

Ideia surgiu depois que uma mulher de 24 anos denunciou o ex-namorado tatuador por agressões

Alana Portela | 05/03/2020 08:11
A tatuadora Letícia Duarte Ferreira Maidana arrumando o varal com seus desenhos. (Foto: Paulo Francis)
A tatuadora Letícia Duarte Ferreira Maidana arrumando o varal com seus desenhos. (Foto: Paulo Francis)

Com a proposta de ajudar as mulheres a iniciar uma nova etapa na vida, a tatuadora Letícia Duarte Ferreira Maidana criou o projeto de cobrir gratuitamente tatuagens feitas em homenagem a um relacionamento abusivo. A campanha é válida para o mês da mulher, e a cobertura é feita quando o nome ou as iniciais do nome do ex-namorado estão gravados na pele.

“A ideia surgiu porque soube de um caso de um tatuador da cidade que agrediu a ex-namorada. Quando descobri pensei: agora ela deve ter um monte de tatuagem dele. Faz tempo que vejo tatuadores com posturas machistas e como tatuadora, sempre falo que é preciso ter muita segurança na hora de fazer a tatuagem”, destaca.

A vítima da agressão que Letícia mencionou, fez a denúncia formal contra o ex-namorado e foi então a partir daí que a tatuadora conversou com a mulher se oferecendo para cobrir, de forma gratuita, os desenhos feitos durante o relacionamento. O caso foi noticiado pelo Campo Grande News.

Letícia fala sobre a proposta do projeto ser válida para o mês da mulher. (Foto: Paulo Francis)
Letícia fala sobre a proposta do projeto ser válida para o mês da mulher. (Foto: Paulo Francis)

“Pensei comigo: ela tem um monte de tatuagem dele e isso a fará lembrar de um relacionamento que não devia recordar. Me disponibilizei e ela ficou emocionada e então achei que devesse ter um monte de gente passando pela mesma situação, de ter feito a tatuagem em homenagem”.

Foi então que a tatuadora resolveu usar a conta do seu Instagram para divulgar a proposta e assim alcançar mais mulheres. “Depois de postar, muita gente veio me procurar”, comenta.

Letícia tem 25 anos e é tatuadora há três. Está morando em Campo Grande desde o final de 2019. Seu estúdio “Letícia Maidana Art’ fica no Laricas Cultural, uma casa onde ocorrem programações culturais gratuitas. É por lá que a tatuadora mostra seus trabalhos autorais, feitos em pontilhismo e blackwork.

No seu estúdio tem desenhos feitos por ela, espalhados pela sala, como dica de opção para os clientes fazerem. Para Letícia, tatuagem vai além da forma de expressão e de adornar o corpo. “Meus temas têm a ver com o ser mulher na sociedade, libertação e empoderamento feminino. Trabalho pensando na forma da pessoa se identificar com o desenho e sentir-se mais à vontade com o corpo”, afirma.

Por isso ela se solidariza com outras mulheres e prova que sororidade é tudo, principalmente no meio feminino. Durante o bate-papo com o Lado B, Letícia se lembrou de algumas experiências vividas como tatuadora e comentou sobre os casos de relacionamento abusivo.

Na memória, veio a lembrança da vez que fez a primeira cobertura de uma tatuagem. Na época, morava em Curitiba e a cliente também havia passado por uma experiência traumática durante a relação. “Tinha tatuado o nome do ex abaixo do peito. O tatuador que fez tinha mão pesada porque o traço ficou enorme, grosso e em relevo. Fiz um pássaro e um corvo preto por cima”.

Foi um ritual de passagem dolorido, feito numa sessão e a cliente aguentou firme até os últimos instantes para poder se ver livre de um passado que só trazia tristeza. “Ter essa lembrança para o resto da vida, o nome da pessoa te fez sofrer um relacionamento traumático é tenso”.

Geralmente, as tatuagens a serem cobertas ficam maiores depois de pronta. “Algumas são grandes e estouradas e precisam de uma grande camada de preto sólido, mas a maioria dá para fazer desenhos por cima pensando na sombra pegar aquela parte em específica”, explica.

Mais um exemplo é outra mulher que tatuou as iniciais do ex-companheiro na nuca e por isso não prendia o cabelo. A tatuadora comenta que, muitas vezes, quando se está num relacionamento abusivo, o parceiro faz questão de marcar a companheira. “É a ideia de posse”, diz.

“Acho toda mulher vivenciou algum tipo de cobrança machistas e abusivas dentro de um relacionamento. Talvez, violência psicológica a maioria já passou”, comenta.

As interessadas em cobrir alguma tatuagem ou mesmo em conhecer o trabalho de Letícia, podem entrar em contato através do Instagram @leticiamaidana.art. Sempre que possível ela retorna as mensagens. A tatuadora atende de terça a domingo no Laricas Cultural, que está de porta abertas para todos, e fica na Rua Antônio Maria Coelho, 1663.

Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563 (chame agora mesmo). 

Nos siga no Google Notícias