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Comportamento

De nome a cargo público, mulher trans quer mais do que só existir

Aos 23 anos, Aurora assumiu concurso no IFMS e resume que nenhum medo pode impedir a vitória coletiva

Aletheya Alves | 31/03/2023 06:32
Conquista de cargo público foi mais uma das vitórias de Aurora neste ano. (Foto: Arquivo pessoal)
Conquista de cargo público foi mais uma das vitórias de Aurora neste ano. (Foto: Arquivo pessoal)

“Para nós, mulheres trans, quando conseguimos algo difícil, a gente faz de tudo. É uma vitória e vou atrás dela até o final”, resume Aurora Cecília Martim da Silva. Aos 23 anos, tendo conquistado um concurso público e garantido seu nome social, ela defende que pessoas trans não precisam se contentar com o básico porque podem tudo.

Nesta semana, Aurora tomou posse no IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul) e, no mesmo dia, passou a ter seu nome social oficialmente. Em um misto de emoções, a nova técnica administrativa da educação narra que em uma sociedade de preconceitos, cada pessoa trans ou travesti que acessa esses espaços significa uma vitória.

Contando sobre a importância de comemorar coletivamente, ela narra que o caminho até o concurso surgiu justamente por querer ser levada a sério e com respeito. “Fiquei pensando que seu eu voltasse a trabalhar para empresas, eles não iam querer respeitar minha identidade, meu nome. E eu não queria passar por isso e estava trabalhando com o censo do IBGE na época”.

Com apoio da então chefe, ela detalha que o jeito foi começar a estudar e se dedicar a isso. “Estudava o dia todo e ano passado foi o concurso. Passei em quarto lugar e, agora, em fevereiro, fui nomeada, mas tomei posse só nesta semana”, diz.

Nas redes sociais, amigos e pessoas que a conhecem não param de enviar os parabéns. Sabendo que a conquista envolve toda uma comunidade, ela conta que quer ver mais pessoas transexuais a cada dia ocupando os espaços.

Posse do concurso foi realizada nesta semana e leva discussão sobre os direitos de pessoas trans. (Foto: Arquivo pessoal)
Posse do concurso foi realizada nesta semana e leva discussão sobre os direitos de pessoas trans. (Foto: Arquivo pessoal)

“Eu acredito que muitas virão depois de mim e espero que elas possam se sentir capazes de fazer o que quiserem. É importante chegar aos órgãos públicos porque vemos toda a publicidade falando de inclusão, mas não vemos números, não sabemos quantas mulheres trans ou travestis assumem concursos”, relata.

Além das comemorações, Aurora também comenta sobre o outro lado da conquista, esse que envolve as preocupações. Sabendo que o preconceito está presente em todos os cantos, ela explica que reagir contra esse universo é algo cotidiano.

“Eu não tenho medo, claro que existe um receio, mas não é que impede. Eu sou do Interior e agora vou para Jardim com o IFMS, trabalhar com adolescentes, então acho que esse é o caminho. Na educação, a gente consegue ir mudando as coisas”, pontua Aurora.

Sobre sua nova função, ela comenta que estar presente em um ambiente de ensino também será uma luta pelos direitos das mulheres trans e travestis. “Os adolescentes vão saber que eu existo e isso já grande parte do caminho. Sei que o preconceito também existe pela falta de informação, de educação, então é importante que a gente esteja nesse lugares”.

E, para além de comemorar e se preparar para as mudanças, Aurora conta que costuma deixar uma mensagem para outra pessoas trans e travestis. “Tenho uma colega que fala que quando a gente consegue algo, mesmo que seja pequeno, precisamos comemorar. Mas eu não quero o mínimo, quero tudo o que todo mundo pode e a gente precisa ser assim. A gente tem esse direito”.

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