Decoração de Natal foi posta em xeque até para quem já tem tradição

Há quatro semanas para o dia de Natal, neste domingo (29) se inicia o chamado Tempo do Advento, popularmente conhecido como o dia em que as famílias devem montar sua árvore natalina. Para os cristãos ou católicos fervorosos, se trata do primeiro ano litúrgico – o período da "chegada". Porém, na Capital, nem todos os "decoradores" mais tradicionais tiveram ânimo ou inspiração para fazer desse finalzinho de ano uma celebração.

Lá no bairro Santo Antonio, o casal formado pela cuiabana Elizabeth Grisólia Strobel e o corumbaense Júlio César Diniz já são conhecidos por há mais de dez anos decorarem a frente e o interior de sua casa no maior espírito natalino, abrindo seus portões para que a comunidade campo-grandense visitasse gratuitamente sua residência. Porém, como até mês passado os dois estavam internados após contraírem a covid-19, ambos abandonaram a "edição" deste ano, com medo do vírus e da possível aglomeração que o evento poderia trazer.

"Passamos a primeira quinzena de outubro juntos no hospital. Só não fomos entubados, mas foi bem difícil. Geralmente essa é a época em que já começamos com os preparativos. Agora que passou, estamos vivos, mas vamos continuar a levar o coronavírus a sério. Infelizmente neste ano não vamos decorar ou fazer nenhum evento aqui na porta de casa", afirmaram.

Antes de ficarem doentes pela covid-19, o casal já havia pensando em tudo: fizeram ampliação da casinha ao estilo colonial americano, renovaram a pintura e até compraram novos itens de décor. Quando abrissem ao público, a entrada seria um por vez, com tempo marcado apenas para tirar foto e com uso de máscara obrigatório. Mas eis que os planos mudaram.

"Tem gente que bate aqui em casa e pergunta quando que vai rolar, mas com tudo que nos aconteceu, e em respeito à situação da pandemia, preferimos não fazer. Saímos do hospital com o conceito de uma nova oportunidade de vida que nos foi dada. Então, este vai ser o Natal da renovação para nós", disse Beth.

"Dá muita vontade, mas desta vez vamos nos cuidar primeiro, e assim respeitamos todos. Temos quase 30 anos de casa, um ano a mais ou a menos não vai fazer tanta diferença. Pelo menos já colocamos alguns enfeites dentro de casa. Assim vai ser o nosso Natal", comentou Júlio.

Outro lado da moeda – Outra tradicional "decoradora" é a médica japonesa Geny Nacao Ishikawa. Aos 90 anos, a cirurgiã ginecológica e obstétrica aposentada não se cansa de preparar no finalzinho do mês de novembro a sua decoração natalina. Com vitalidade de causar inveja, ela enfeita tanto o lado de fora quanto o de dentro – sem esquecer jamais de sua motivação religiosa.

"O verdadeiro espírito de Natal é a celebração do nascimento de Cristo. É isso que todo mundo aqui em casa comemora. O ato de se entregar presentes e jantar juntos é parte secundária da festa. Mas o importante mesmo é reunir a família e festejar a entronização de Jesus", acredita.

Até então a senhorinha estava em dúvida se resolvia ou não decorar. No final das contas, resolveu apelar mais uma vez pelo "gostinho" natalino para quem passasse pela esquina das ruas Antônio Maria Coelho com a Bahia. Desde 1983 vem fazendo o que faz todo final de ano.

"No salão aqui de casa, fazemos uma pequena missa ecumênica. Meus 'meninos' (hoje já todos adultos) entram tocando o sino e minha única netinha vem de anjinho. Geralmente convidamos amigos e outros familiares, mas este ano vai ser só entre nós mesmo, justamente por causa do vírus. Estou triste por isso, mas com ou sem pandemia a tradição tem que continuar", garante.

Com caixas e mais caixas de itens de decoração, Geny fez questão de montar para este ano a sua árvore especialíssima de Natal, pronta bem antes do Dia do Advento. "De alguma forma, temos que continuar celebrando a vida, cada um com sua família".

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