Depois de perder filho em incêndio, feijões são recomeço para Cristiane
No dia 31 de maio, o apartamento onde a família com oito pessoas morava pegou fogo; incêndio levou filho de 2 anos e todo o lar
A cada cesta básica que Cristiane recebia, os feijões pretos ficavam de lado. De quilo em quilo ela procura se reerguer para reconstruir a vida depois do incêndio que levou tudo. Mais do que bens materiais, a família que, por pouco não ficou na rua, teve de dar adeus a Elizeu, o pequeno de 2 anos que não resistiu às chamas.
Calejada pela vida, principalmente pela dor, a dona de casa fala da perda do filho ainda abalada. "O que eu estou sentindo hoje Deus está vendo. Eu nunca aceitei a perda do meu filho", desabafa Cristiane Padilha dos Santos Valério, de 34 anos.
A família, ela, o esposo e os seis filhos, moravam há cinco anos num condomínio no Parque do Lageado. "Estava todo mundo em casa, meu filho pegou isqueiro e tinha um colchão. Ninguém estava perto. Só vi quando ele gritou: 'fogo!' Corri pra mim ver o que era, era fogo no colchão, fui apagar e não consegui".
No mesmo dia do incêndio, 31 de maio, Elizeu foi levado para a Santa Casa. A mãe ficou do lado de fora do pronto socorro. "Eu fiquei com ele o tempo todo, só que pro lado de fora, porque ele estava na ala vermelha. Fiquei sentada ali, perto da sala de emergência conversando com o pessoal o tempo todo para ter notícia", recorda.
Ele chegou a ser transferido para o CTI (Centro de Terapia Intensiva) devido às queimaduras, 90% do corpinho foi atingido. "Não deu pra salvar não, e dói. Por mais que a gente seja mãe, me machuca bastante, porque fomos nós que perdemos a criança", fala. Cristiane tem outros cinco filhos: Davi, de 13 anos; José Carlos, de 10; Leydyane de 9; Edyel de 6 e Elias, hoje com 1 ano e 1 mês. Elizeu era o penúltimo.
Pelo marido e pelos filhos, ela diz que tem reencontrado força. "Teve um tempo que eu achei que não era forte não. Agora que estou reerguendo, fiquei doente bastante tempo", conta.
Desde o incêndio, o apartamento está interditado e a família, por sorte, conseguiu se mudar para uma casa de herança do marido Elias. O imóvel está no inventário e com a estrutura precária. Daí surgiu a ideia de organizar uma feijoada para arrecadar fundos para a compra de materiais de construção.
"Como eu ganhei bastante feijão preto nas cestas, eu fui guardando já pensando na feijoada. Meu marido está desempregado e hoje estamos sobrevivendo de ajuda que o pessoal dá", explica. Cristiane era salgadeira e o marido, segurança, mas desde a pandemia eles estão sem trabalho. O esposo, por ser quadro de risco para o coronavírus não conseguiu mais emprego.
A casa onde eles vivem agora, no bairro Buriti, tem dois quartos, mas um deles está com os pertences da família, e a ideia é fazer mais dois quartos e um banheiro. Por isso o pedido de doação de ingredientes para a feijoada e ainda uma vaquinha virtual para doações que vierem a ser em dinheiro. Os planos têm sido acompanhados de perto por uma pessoa que se tornou amiga de Cristiane, depois de chegar ao bairro com projetos sociais.
Elizeu faria 3 anos em novembro, a maioria das fotos do pequeno se perderam depois que o celular da mãe quebrou, mas a foto de WhatsApp dela e também de Facebook trazem o rosto do garotinho.
As imagens têm sido lembranças constantes na vida da mãe que não se esquece do jeitinho do filho. "Eu lembro de tudo dele, assim, no jeito dele me tratar, era um menino educado. A educação vinha em primeiro lugar, tudo era com 'por favor', 'dá licença', ele nunca fazia nada sem pedir e nem falar 'obrigado'.
A tristeza vem aos poucos se transformando em saudade. "Hoje eu estou tentando viver, erguer minha vida por causa dos meus outros filhos, se não fossem eles e meu marido, eu não precisava de nada não..." A mãe não chega a concluir o pensamento.
Para ajudar a família, você pode entrar em contato direto com Cristiane pelo telefone: 9-8484-9631 ou também fazer a sua doação pela vaquinha virtual (clique aqui).
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