Desbocada, Célia diz não ter medo de nada e seu bar atrai até famoso
Com fama de 'Pitbull', a dona administra o bar há 30 anos na região onde impôs respeito e fez amigos
Célia Nogueira Flávio, de 63 anos, é uma mulher sem filtros que não tem medo de falar o que pensa. Medo, aliás, é algo que a mulher diz não sentir de nada e menos ainda de homem. Apesar de muito simpática, a proprietária do bar ganhou o apelido de pitbull no tempo que precisava impor respeito no estabelecimento.
Com 30 anos de criação, o Bar da Célia fica na Avenida Três Barras, no Bairro Vila Vilas Boas. Depois da separação, ela precisava arranjar um trabalho para criar os filhos pequenos, mas não sabia qual área seguir. Ela conta que o irmão deu a ideia de criar o boteco. “Eu falei: Tá louco? No meio do mato?’ Porque aqui não tinha nada, só eu e uma casa aqui e ali”, lembra.
Para abrir as portas do bar, Célia comprou do irmão uma caixa de cerveja, vinho e pediu emprestado o freezer do ex-marido, que depois foi substituído por um de segunda mão. A proprietária conta que ‘meteu a cara’ e com persistência manteve o negócio. “Foi onde eu comecei, foi com muita luta. Meu boteco é raiz, mas consegui tirar aqueles bebinhos daqui tudo na porrada mesmo. Como sou muito estressadona me colocaram de pitbull, porque impus respeito”, afirma.
Cheia de histórias, a mulher fala que muitas coisas aconteceram no bar. Em certa ocasião, Célia estava atendendo dois rapazes quando foi rendida por um deles. “Meteram o revólver na minha boca aqui mesmo. Ele tentou o assalto e não conseguiu, porque fui bem atrevida. Falei assim: ‘Cara, você quer me matar, mata, porque não tenho dinheiro’. Minha vida foi assim”, resume.
Para ter renda extra, Célia cozinhou durante um período no bar para mais de 20 trabalhadores de uma empresa da região. Mãe de três filhos, ela revela que dava um jeito de criar eles e trabalhar ao mesmo tempo. “Eu colocava os bebês deitados ali e cozinhava até de madrugada”, recorda. Dona do imóvel, ela também alugou peças para inquilinos, porém parou após os mesmos darem 'muito trabalho'.
Apesar do bar viver dias mais tranquilos, Célia não esconde que precisou impedir incontáveis brigas. “Teve muitas brigas de eu entrar com taco na mão para separar, mas graças a Deus não teve morte. Eu fui muito louca aqui mesmo, nunca tive medo e fui muito corajosa”, destaca. Ela reforça que já era assim antes mesmo de abrir o boteco. “Eu sempre fui meio doida assim desde menina. Resumindo, homem nenhum põe a mão em mim”, pontua.
Além das discussões entre os frequentadores, Célia expõe que algumas pessoas intitulam o estabelecimento como zona. “As mulheres que não me conhecem falam que aqui é zona. Que seja, mas é o meu boteco”, afirma. Embora tenha ganhado a antipatia dessas pessoas, Célia fala que fez boas amizades. "Eu fiz muitos amigos, já fiz aniversário aqui de lotar", fala.
Em 30 anos, Célia teve problemas financeiros com o negócio ao ponto de quase fechar. Mesmo assim, ela nunca quis abandonar o boteco e o trabalho de uma vida. “Eu fui uma mulher forte, porque sai de um casamento bagaceira. Montei o bar, fali não sei quantas vezes e começava de novo”, expressa.
Clientes famosos - Graças a amizade que tem com um empresário da cidade, Célia recebeu convidados famosos no boteco. Em 2021, a dupla sertaneja Munhoz e Mariano sentou nas cadeiras de plástico para curtir a sombra do castanheiro, enquanto bebiam cerveja e conhaque. A dupla Hugo e Guilherme também esteve no local.
Entre os momentos de alegria e tristeza, Célia soube lidar do seu jeito com cada situação nas últimas três décadas. Sem vontade de parar ou vender o bar, ela pretende continuar fazendo o que sempre fez. A única diferença é que hoje ela quer aproveitar a companhia dos amigos e curtir mais o bar.
Ela conclui a entrevista falando que tudo valeu a pena. “Essa história foi muito maravilhosa. Eu lutei muito, chorei muito. Foi muito sofrimento, mas mesmo assim com muita alegria. Esse é meu buteco e se melhorar muito estraga”, finaliza.
O Bar da Célia está localizado na Avenida Três Barras, 1381, Bairro Vila Villas Boas. O horário de funcionamento é de segunda a segunda, das 9h às 22h.
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