Durante chá, travestis reforçam que luta por direitos tem que ser diária
Durante encontro, mulheres trans e travestis conversaram sobre principais necessidades da comunidade
‘Vivemos, existimos e queremos respeito’ é uma das frases que marcaram a primeira edição do TransChá em Campo Grande. Na tarde de quarta-feira (24), o terraço do Memorial da Cultura e da Cidadania serviu como ponto de encontro entre representantes de diferentes instituições e transexuais e travestis de Mato Grosso do Sul.
O evento realizado em alusão ao Dia Nacional da Visibilidade Trans, que é celebrado em 29 de janeiro, foi idealizado pela ATMS (Associação das Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul) com o objetivo de ouvir as principais demandas da comunidade.
A coordenadora da ATMS, Mikaella Lima Lopes comenta que a reunião é mais um passo na luta constante da comunidade que é uma das que mais sofrem no Brasil.
“Esse encontro é para a gente comemorar em partes porque infelizmente nosso grupo não tem muito o que comemorar. O Brasil por mais um ano é o país que mais mata pessoas trans no mundo. Temos muito que lutar e esse evento é para isso, é para mostrar que essas mulheres trans podem ser o que quiserem na sociedade e serem respeitadas pela sua identidade de gênero”, afirma.
Entre as principais demandas do grupo, ela cita como exemplo a saúde. Por receio de sofrerem transfobia, muitas travestis, mulheres e homens trans deixam de lado os cuidados com a própria saúde ou muitas vezes sequer têm acesso adequado ao serviço.
“A roda de conversa também é para saber como anda a saúde das nossas mulheres trans na Capital. A gente tem que desmistificar a questão das ISTs, AIDS e elas precisam de outros serviços como saúde bucal e mental. A evasão dessa área da saúde é também pelo medo de como serão tratadas neste âmbito”, pontua.
Moradora de Aquidauana, Susy Pereira, de 49 anos, estava entre as participantes do TransChá. Presidente da ONG ‘Igualdade para Todas’, ela aproveitou o encontro para pedir ao poder público mais atenção com a comunidade LGBTQIA+ que vive no município.
Ao Lado B, ela explica que um dos principais focos da ONG é oferecer atendimento psicológico. “A saúde em Aquidauana trabalha muito em conjunto com a ONG. Nós lançamos na segunda um projeto de saúde mental para as mulheres trans. Temos um projeto que uma psicóloga toda semana atende o grupo com o apoio da Secretaria de Saúde do município”, fala.
Dando ênfase às diferentes intersexualidades, a defensora pública e coordenadora do Nudem (Núcleo de Defesa dos Direitos da Mulher), Zeliana Sabala reforça a importância de receber demandas individuais e coletivas e fazer com que as mesmas sejam colocadas em prática.
“Por sermos mulheres, somos atravessadas por esse preconceito porque vivemos em uma sociedade machista e misógina. A mulher trans negra, indígena, com deficiência é mais um atravessamento e a gente sabe o quanto fica difícil sobreviver e não só viver. Pensamos em uma escuta qualificada”, declara.
'Travesti e Respeito’ - Além de comemorar a Visibilidade Trans, o encontro também marca os 20 anos da cena que mostrou ao Brasil que pessoas trans e travestis existem. No dia 29 de janeiro de 2004 um grupo de 29 trans fez história ao entrar no Congresso Nacional e lançar a campanha 'Travesti e Respeito, já está na hora de os dois serem vistos juntos'.
Coordenadora municipal de políticas públicas LGBT, Cris Stefanny estava presente no ato em Brasília. Durante o TransChá, ela relembrou que foi necessária muita luta para que a comunidade conseguisse ser ouvida e aceita nos espaços. 20 anos depois, ela destaca que a comunidade precisa continuar levantando a bandeira da igualdade.
“Passamos por várias situações constrangedoras, de violência, foram tantas de nós que foram e tanto sangue derramado para que hoje a gente possa confraternizar dentro de um órgão do governo. Até então não éramos aceitas em nenhum lugar, mas isso foi todo um processo. A luta foi estabelecida a partir daquele momento, mas ela não acabou”, comenta.
Apesar dos ataques que a comunidade trans sofre, Samantha Terena sente orgulho de poder representar e fazer parte desse grupo. Mulher trans, indígena e macumbeira, ela sofre preconceito triplo da sociedade. Ela ressalta o quão importante é lutar pelos próprios direitos e não deixar que a sociedade e o preconceito sejam entraves.
“Nossa luta é diária e não podemos desistir jamais de sermos quem nós somos. Não devemos nos envergonhar porque nós também podemos ter família, filhos, somos iguais a todos, mas as pessoas que nos fazem diferentes. Temos direito de lutar, sonhar, estudar como todas as pessoas. Não podemos passar pela terra sem deixar um legado”, pontua.
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