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Comportamento

Edna deixou preconceito para virar goleira e criar time aos 35 anos

Cansada de guardar o amor pelo futebol apenas para si, ela conta que coragem de criança voltou após décadas

Aletheya Alves | 10/03/2023 06:15
Edna conta que decidiu abandonar os medos para finalmente jogar. (Foto: Juliano Almeida)
Edna conta que decidiu abandonar os medos para finalmente jogar. (Foto: Juliano Almeida)

Aos 35 anos, Edna Afonso decidiu que iria parar de dar ouvidos aos medos de preconceito para, depois de décadas, retomar uma vontade que havia ficado na infância: jogar futebol. Cansada de permanecer apenas nas arquibancadas, ela não só voltou para o jogo, mas criou até seu próprio time.

“Quando eu estudava, só queria jogar futebol. Lembro que eles ficavam até bravos comigo porque eu não queria fazer outras atividades, só jogar”, brinca Edna relembrando de como o amor começou. Mas, logo que cresceu, parou de estudar e devido à primeira gravidez, sentiu que a diversão em campo havia acabado.

Na época, morando em Corumbá, ela narra que se mudou para a área rural com a família e o contato com o futebol realmente foi se distanciando. Até que suas irmãs começaram a brincar em uma rua de terra e tentaram regular treinos próprios.

Edna explica que por diversos motivos o time não foi para frente e a bola precisou ser guardada mais uma vez. “O gosto foi voltando de novo quando a Karol, minha filha, veio para Campo Grande e começou a jogar aqui na cidade. Eu ia assistir ela e fui ficando com aquela vontade de jogar, mas por um bom tempo guardei para mim”.

Treinos são feitos na quadra, mas ela conta que time compete também em campo. (Foto: Juliano Almeida)
Treinos são feitos na quadra, mas ela conta que time compete também em campo. (Foto: Juliano Almeida)

Conforme os jogos da filha foram aumentando, a mãe explica que as ideias de ter um time começaram a retornar para sua mente. Mas, devido à idade, ela conta que pensava apenas em ser técnica e não jogar realmente.

“Falei um dia para a Karol que eu morria de vontade de jogar futebol, mas que já estava velha. Lembro que ela disse para eu parar com isso e que futebol não tem idade. Mas era aquele medo, aquele preconceito que a gente vai guardando”, detalha.

Incentivada pela filha, Edna narra que a segunda tentativa de retornar veio no Bairro Santa Mônica. “Tinha um terreno baldio e o pessoal limpou, fez um campinho. Ali surgiu vontade de montar e até jogamos um pouco, mas não foi para frente novamente. Mas eu tinha tanta vontade que ninguém ia deixar morrer de novo, aí falei com minhas irmãs e com meu marido, todos toparam e montamos o time que temos hoje”.

Intitulado “As Panteras”, o novo time de Edna tem cerca de um ano e os treinos ocorrem na quadra da Praça Ana Maria do Couto, na Avenida Júlio de Castilho. Ela detalha que além do apoio, o marido se tornou até técnico do time que acolhe a todas.

Após o retorno, Edna explica que voltou a se sentir bem. (Foto: Juliano Almeida)
Após o retorno, Edna explica que voltou a se sentir bem. (Foto: Juliano Almeida)

“Inclusive, no nosso time tem mulheres mais novas e também mais velhas do que eu. Sempre digo que não tem idade para jogar porque eu sei bem como é ficar com vergonha, com medo e isso te impedir”, diz.

E, além da realização de forma geral com o futebol, ela conta que só depois de montar o time e jogar nele é que viu grandes mudanças. “Eu jogo mesmo, hoje sou goleira e posso te dizer que muita coisa mudou. Percebi que antes minha autoestima não existia, eu não queria conversar com ninguém, vivia no meu quarto”.

Olhando para si mesma hoje, ela comenta que se viu renovada. “Eu tenho 36 anos, mas falo que me sinto com 17. Converso, sou uma pessoa feliz, risonha e falo para toda mulher que ela precisa fazer o que tiver vontade, sem dar ouvidos para ninguém”.

Agora, o novo sonho da jogadora é receber algum patrocínio para que o time realmente continue funcionando. E, claro, que novas integrantes continuem chegando. Para entrar em contato com o time, Edna diz que basta enviar uma mensagem para o número (67) 98118-9016.

Hoje, time acolhe mulheres e meninas de todas as idades. (Foto: Juliano Almeida)
Hoje, time acolhe mulheres e meninas de todas as idades. (Foto: Juliano Almeida)

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