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Comportamento

Eduardo venceu trauma para estudar e lutar pelos próprios direitos

Estudante de Direito levou experiências próprias sobre a vida com deficiência para o TCC

Por Aletheya Alves | 20/06/2024 06:26
Eduardo durante a apresentação de seu Trabalho de Conclusão de Curso. (Foto: Arquivo pessoal)
Eduardo durante a apresentação de seu Trabalho de Conclusão de Curso. (Foto: Arquivo pessoal)

Aos 39 anos, Eduardo Ahad das Neves comemorou a nota máxima em seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) pensando na história de toda sua vida. Isso porque o estudante de Direito transformou o preconceito, as dificuldades e todo o tratamento em seu tema de estudo, já que a ideia sempre foi lutar pelos próprios direitos.

“A gente fala muito sobre as leis existirem para a gente se sentir digno, para eu poder ter uma identidade. Muitas pessoas que usam cadeira de rodas estão fechadas (em casa) porque a falta de acessibilidade é complicada”, descreve Eduardo. Foi pensando nesse contexto que o estudante decidiu se dedicar ao tema do princípio da igualdade e acessibilidade em seu texto.

Longe de tratar apenas sobre barreiras como a falta de rampas e outros equipamentos arquitetônicos, Eduardo explica que o tema é bastante amplo. Principalmente porque existe uma longa distância entre aquilo que está na legislação e o que ocorre na vida real.

Contando sobre sua história, ele descreve que nasceu prematuro e teve raquitismo. “Além da deficiência motora, tenho uma lesão que provoca tensão e dores, então tenho dificuldade de escrever. Na faculdade, eu gravava, tirava fotos e os professores entendiam as dificuldades”.

Especificamente sobre a parte educacional, ele narra que levou mais de duas décadas para ingressar na universidade por preconceitos sofridos no jardim de infância. Lá atrás, a diretora de uma escola decidiu que Eduardo não tinha “capacidade” e o manteve atrasado por dois anos.

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Isso que ela achava foi ficando por aqui. Eu fui para a terapia, fiquei cinco anos para conseguir melhorar e ir para a faculdade porque eu achava que não tinha capacidade, diz Eduardo.

Além do caso escolar, ele relata que situações do tipo se somaram para que a vontade de fazer Direito surgisse. E, quando conseguiu superar os traumas, o caminho foi o da universidade.

Tendo iniciado o curso justo no ano da pandemia, Eduardo comenta que a dificuldade pareceu ampliar, mas o objetivo não foi deixado de lado. No fim das contas, os detalhes foram se somando para a criação do trabalho final.

Puxando na memória, ele cita um dos casos que mais permaneceram em sua mente enquanto desenvolvia o texto. “Eu sou nadador porque os médicos pediram para eu fazer exercício físico e, em 2010, nós mudamos para o prédio em que moramos hoje. Antes, não tinha acesso à piscina e eu não conseguia subir, mas queria nadar”.

Na época, foi convocada uma reunião e parte das pessoas não concordaram em fazer a adaptação. “Um senhor, com a ignorância dele, me humilhou na reunião. Isso foi em 2019 e algumas pessoas falaram que não tinha como fazer, mas eu sabia que não era assim. Eu disse que estava errado e fiquei um ano até conseguir um elevador”.

Segundo Eduardo, foi o caminho percorrido para entender que toda a situação estava errada que o impulsionou a procurar a terapia e se imaginar fazendo Direito.

“É necessário incluir para evoluir. Precisam existir leis específicas para que eu, por exemplo, tenha uma qualidade de vida como todo mundo. Sempre vejo vagas para pessoas com deficiência sendo usadas e não é só a barreira arquitetônica, é a inclusão cultural, são coisas em geral para a gente se sentir digno”, completa.

Outro ponto destacado por ele é o apoio da mãe, Maria de Fátima Barros Ahad, que sempre o acompanhou e fez questão de incentivar seus estudos. "Além dos traumas, eu também demorei para estudar porque tinha que fazer todos os tratamentos. A gente não parava e tudo também foi possível pelo esforço dela".

Estudante ao lado de sua orientadora, professora Kellyne. (Foto: Paulo Francis)
Estudante ao lado de sua orientadora, professora Kellyne. (Foto: Paulo Francis)

E, orientando o estudante, a professora da Unigran, Kellyne Alencar de Almeida, detalha que é de conhecimento geral o desnível existente entre o que há nas leis e o que é exercido.

“Quando pensamos em acessibilidade e inclusão não é simplesmente colocar um elevador ou uma rampa. Isso vai além e temos vários tipos de barreiras que impedem as pessoas de terem uma vida digna”, diz a professora.

Exemplificando, ela completa comentando sobre como poucas pessoas com deficiência conseguem avançar na educação. “Isso é devido a essas barreiras que impedem de sair do ambiente privado, doméstico e alcançar o ambiente público, algo que é direito de todos”.

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