Ela perdeu a perna, mas encontrou força na garra e sorriso das crianças
Especializada em educação especial, ela faz questão de ressaltar a existência de esportes adaptados
Por acreditar que o esporte tem um forte papel para melhorar a sociedade, principalmente para o público infantil, oito anos após o acidente que mudou a vida de Jaqueline da Silva Tsalikis, 42, ela se viu envolvida em um novo propósito: melhorar a vida de crianças e adolescentes com deficiência através da prática de atividades físicas.
“Nós temos esporte para pessoas com deficiência, nós temos essa oportunidade”. Profissional da área da saúde, formada em educação física e pós-graduada em educação especial, e com este pensamento que ela passou a se dedicar ao paradesporto - esportes adaptados para as pessoas com deficiência.
Jaqueline explica que nunca havia pensado em fazer pós-graduação em educação especial, mas o desejo surgiu após ter a perna direta amputada, em decorrência de um acidente de trânsito no final de 2015.
“Eu não pensava em trabalhar com esse público, eu pensava em trabalhar mais ligado à área da saúde mesmo. Porém, eu me surpreendi com o paradesporto, como que ele é lindo e pode ajudar muito as pessoas, não somente as pessoas com deficiência, mas as pessoas ao redor também”, diz Jaqueline.
Com um olhar especial e apurado para este público, ela explica que busca incentivar o máximo de crianças e adolescentes para a prática de esportes, seja na fila do supermercado ou até mesmo no posto de saúde onde trabalha.
“Se eu estiver no mercado e tiver uma criança com deficiência, eu já quero ir lá falar com o responsável, chamar para o esporte, passo meu telefone e peço para [os responsáveis] entrar em contato”, brinca.
Já de cara, ela ressalta que não faz por visibilidade ou para ganhar mídia, e que seu único propósito é ajudar. Ela relata que em oito anos de amputação, teve uma experiência positiva no paradesporto, principalmente na parte de superação e aceitação de sua condição física, e por isso considera importante a prática de esportes neste processo.
Ela ainda lamenta que o paradesporto não tenha tanta visibilidade e patrocínios quanto os esportes convencionais, então ela se dedica a divulgar a existência da modalidade, e ressalta que é necessário a sociedade criar um olhar para a existência dessas crianças.
Jaqueline relata que considera o esporte fundamental para a sociedade em geral, especialmente para as crianças. Ela cita a importância da atividade física para a manutenção da saúde, tanto física quanto mental, além da prática de esporte como um fator importante na formação de caráter da sociedade.
“O esporte tem condições de melhorar a sociedade em um geral. Cada criança que a gente ganha para o esporte é um a menos na mão dos traficantes. Diminui muito as chances deles acabarem indo para o mundo do vício, das drogas, até porque o esporte é disciplina”, explica Jaqueline.
Ela destaca que Campo Grande tem pelo menos sete iniciativas de inclusão aos deficientes em esportes adaptados. São eles os projetos: Supera, Ativa MS, Associação Driblando as Diferenças, Pantanal Esporte Clube MS e o projeto Incluir Pelo Esporte. As modalidades oferecidas são bocha, paranatação, canoagem, futebol de amputados, basquete sobre rodas, atletismo, petra, tiro adaptado, tênis de mesa e goalball.
Dentre os grupos, destacam-se os Submersos, grupo de paranatação; Pantanal Sobre Rodas, basquete em cadeira de rodas praticado por atletas portadores de deficiência físico-motora de membros inferior, sob regras adaptadas da IWBF (Federação Internacional de Basquetebol em Cadeira de Rodas).
Trajetória - Na época do acidente, Jaqueline estava cursando o último ano da faculdade de educação física e trabalhava como socorrista do SAMU (Serviço Móvel de Urgência). Ela também era ciclista, árbitra de atletismo e dançarina. Vítima da imprudência de outro condutor, a motocicleta que ela conduzia acabou colidindo com um motociclista que invadiu a contramão. O caso foi noticiado pelo Campo Grande News na época.
“Eu tinha uma vida muito ativa, era aquele ser humano que subia dois degraus [da escada por vez]. Não deu muito tempo, eu já estava envolvida com o pessoal da paranatação, com o basquete sobre rodas. E agora eu tô no atletismo, lançamento de dardo, disco e arremesso de peso, voltei a pedalar sem prótese, só com a minha perna esquerda mesmo”, detalha Jaqueline.
Por conta das limitações da amputação, ela precisou abandonar muitas das funções que tinha, mas jamais abandonou o esporte. Ela terminou a faculdade de educação física, tanto licenciatura quanto bacharelado, fez pós-graduação em educação especial e já completa 18 anos na função de técnica de enfermagem da rede pública de saúde.
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