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Comportamento

Em 97 anos, Alzenir atravessou o País e “enfrentou” até onça

Durante a vida, a cearense criou seis filhos, ajudou a educar 16 irmãos e não se deixa perder a energia

Aletheya Alves | 29/06/2023 07:26
Aos 97 anos, Alzenir mantém carinho e força de quem lutou durante toda uma vida. (Foto: Alex Machado)
Aos 97 anos, Alzenir mantém carinho e força de quem lutou durante toda uma vida. (Foto: Alex Machado)

Se mantendo gentis aos 97 anos, os olhos azuis de Alzenir Muniz de Aguiar contam histórias que atravessam o País, somam lutas e perpetuam o amor da matriarca que criou seis filhos, ajudou a educar os 16 irmãos e não se deixou abater nem precisando “enfrentar” até onça. Depois de tanto, a cearense faz questão de não perder a energia e continua caminhando sem vontade alguma de parar.

“Até eu contar minha trajetória até aqui demora, viu. Eu sou cearense, nasci na cidade de Crato e lá me batizei, crismei, cresci e casei”, introduz dona Alzenir. Moradora de Campo Grande há mais de 40 anos, a idosa se tornou personagem ilustre tanto na família quanto na região sul da cidade, que viu crescer.

Criada na roça, a quase centenária brinca que demorou a casar porque antes de investir na construção de sua família, precisou se dedicar à sua geração. “A gente tinha 18 irmãos, sendo que dois morreram. Então, ajudei a criar 16 e só depois que eles já estavam bem é que chegou minha vez de casar”.

Ainda em Crato, teve sua primeira filha e, com a menina pequena, ela e o marido começaram a peregrinação pelo Brasil. “Primeiro, a gente saiu de lá para ir até o interior de São Paulo, mas não era para morar, era para pagar uma promessa. Mas acabamos ficando lá”.

Matriarca criou seis filhos e ajudou a educar os próprios irmãos. (Foto: Alex Machado)
Matriarca criou seis filhos e ajudou a educar os próprios irmãos. (Foto: Alex Machado)

Sem conseguir comparar os meios de transporte da época com os atuais, Alzenir conta que eram necessários 8 dias de viagem sem estrutura alguma. Por isso, todo trajeto era muito complicado.

Durante a vida, ela, o marido e os filhos seguiram também para o Paraná e, em Campo Grande, chegaram por último. Nesse tempo, foi a saúde do companheiro que fez com que a mudança de cidade fosse necessária.

“Ele precisava vir para cá se tratar e nos mudamos por isso, mas antes lembro que a gente morou em uma gleba que não tinha nada. Por um tempo, era só mata, a gente ficava ouvindo o barulho de onça e dos bichos, tinha que enfrentar o medo deles, enfrentar até onça sem nada por perto”, diz Alzenir.

Com as crianças pequenas, a matriarca narra que o jeito era reunir os filhos debaixo da saia e garantir que ninguém emitisse barulhos. “Eles morriam de medo e a gente não tinha o que fazer. Você imagine viver sem hospital, sem nem luz, era assim. Tanto que todos meus filhos eu tive em casa, nunca vi um médico para fazer essas crianças nascerem”.

Além dos animais, Alzenir conta que viu a casa cair sobre sua cabeça por inúmeras vezes e com materiais diversos. “Tinha casa feita de pau a pique, de barro, e quando chovia muito ia caindo. A gente colocava as crianças embaixo de mim para proteger, foi assim que eles continuaram vivendo”, diz.

Energia é mantida até com as aulas de ginástica semanais. (Foto: Arquivo pessoal)
Energia é mantida até com as aulas de ginástica semanais. (Foto: Arquivo pessoal)

Com esse período passado, a vida em Campo Grande foi, estruturalmente, um pouco menos sofrida. Mas, ainda assim, a luta não parou de jeito algum.

Seguindo as memórias, a matriarca comenta que apesar de ter vindo ao lado do marido, ele não permaneceu ao lado da família durante toda a vida. E, mais uma vez, quem precisou sustentar o cotidiano foi ela.

“Fiquei aqui com os seis filhos em volta de mim e trabalhava nas casas de família do bairro para criar eles. Conforme cresceram, eles também começaram a trabalhar e eu consegui fazer com que todos estudassem, ninguém ficou fora da escola”, relembra a mãe.

Orgulhosa com o fato de ter conservado tanto nos 97 anos, agora, a idosa brinca que depois de muito cansaço, ainda não consegue parar. “Eu faço ginástica, saio para caminhar aqui na rua e não paro. Fico só cansada se eu não fizer nada, isso não dá”.

Celebrando os 97 anos nesta quinta-feira (29), a mensagem que volta dos olhos também se espalha como carinho pelos braços e pela voz. Carinhosa, Alzenir completa a entrevista dizendo que não tem sentimentos ruins pelas batalhas da vida e, continuando com o amor de quem precisou manter não uma, mas duas famílias, garante que ainda há sempre energia para mais.

Confira a galeria de imagens:

  • Alzenir com fotografia dos pais
  • Retrato durante a adolescência
  • Registro do casamento de Alzenir
  • Campo Grande News
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