Em aventuras pelo Pantanal, onça-pintada vira modelo nas lentes de biólogo
Eduardo tem um trabalho bem diferente, ele passa os dias rastreando as onças-pintadas no Pantanal e no Cerrado
Na intenção de ajudar a preservar as espécies ameaçadas de extinção, o biólogo Carlos Eduardo Fragoso se aventura pelo Pantanal em busca de flagrantes de onças. “Acho que fotos e vídeos tem um poder para inspirar, sensibilizar e despertar o interesse das pessoas pela natureza. Trabalho rastreando as onças-pintadas no Pantanal para obter dados sobre o comportamento dessas espécies e outras informações ecológicas que podem ajudar para a conservação desses animais”, explica.
O biólogo lembra que onças são admiradas, mas também odiadas e temidas. Por isso, busca mostrar a outra versão desses animais. “Quando estão dormindo, descansando, nadando, interagindo de forma pacífica. Mães com filhotes, irmãos interagindo entre si. Para quebrar um pouco a imagem negativa que essas espécies possam ter”.
Eduardo é de Santa Catarina, se formou em Biologia em 2014, e sempre teve vontade de trabalhar com mamíferos carnívoros, especificamente com os ameaçados de extinção. E, pasmem, acha isso relaxante. Ainda na faculdade, despertou o interesse pela fotografia e filmagem da natureza.
“Depois de formado, iniciei minha carreira na Conservação de Carnívoros Silvestres, quando fui para Goiás trabalhar no Programa de Conservação Mamíferos do Cerrado em 2014. Atuava com captura e monitoramento de raposas-do-campo, cachorros-do-mato e lobos-guarás. No mesmo projeto fui para o Triângulo Mineiro para capturas de onças-pardas, também chamadas de pumas”, lembra.
Em 2015 veio para o pantanal sul-mato-grossense trabalhar com onças-pintadas. “Em 2018 passei a coordenar um projeto no Cerrado, na tríplice divisa entre Minas Gerais, Goiás e Bahia (fazenda Trijunção), onde desenvolvemos um projeto com lobos-guarás, onças-pintadas e pumas. Então tenho transitado entre os projetos no Pantanal e no Cerrado”, conta.
Ambas as fazendas que trabalha envolvem o ecoturismo, então além dos estudos e registros também ajuda a mostrar os animais em seu ambiente natural. “Para os visitantes que vêm do mundo inteiro para ter o privilégio de vê-los em vida, livres”.
Eduardo também faz parte do Onçafari. “Associação concilia a pesquisa científica, o ecoturismo, a educação ambiental e o bem social, numa proposta bem embasada e pioneira no Brasil”.
Momentos - Geralmente Eduardo sai a campo sozinho para fazer as fotos, porém nunca foi atacado. “Pude registrar momentos emocionantes, brigas entre onças, elas caçando, etc. Sempre que as encontro, busco fazer registros desses comportamentos e dessas interações dos animais com o ambiente”.
Apesar do contato frequente, Eduardo tenta não interferir nem perturbar os animais na hora de fazer as fotografias. “Cada indivíduo tem uma tolerância distinta e dependendo do contexto. Se quero mostrar um pouco da paisagem, do cenário onde o animal está, dependendo da lente, uns 30 metros é interessante. Mas se for enfatizar algum detalhe do animal, uns 15 metros consegue fazer boas imagens”.
Durante a sessão de fotos, os animais até se aproximam. “Sabem que não representa uma ameaça. É um processo chamado de habituação que, com o monitoramento contínuo, eles passam a aceitar a presença no ambiente como um elemento natural e inofensivo”, explica. “Reconhecem o modo como se aproxima com o veículo, as manobras calmas, lentas, silenciosas, e como nos encontros anteriores nada de ruim aconteceu, ficam tranquilos”, completa.
Eduardo apenas entra em contato direto com as onças quando elas estão anestesiadas. “Com a finalidade de coletar materiais biológicos, como sangue, ectoparasitas como carrapatos, pelos, além de tirar todos as medidas do animal. Quando viável, coloca-se radiocolares para monitorar e estudar como elas se movimentam e usam o ambiente”.
Conforme o biólogo, a interação com o animal deve ser neutra. “Ele não ganha e nem perde nada. Os únicos que ganham são as pessoas que têm o privilégio de ver esses animais no ambiente natural. Nunca damos nada para os animais porque são selvagens e plenamente capazes de encontrar os recursos que precisam”.
Aprendizado - Algumas de suas fotos já foram usadas em livros e revistas. “As filmagens em alta qualidade, temos guardado no banco de imagens para, quem sabe, usarmos em futuros documentários ou materiais de divulgação. Trabalhar nesses lugares incríveis também me possibilitou conhecer e ajudar muitos fotógrafos e cinegrafistas de vida selvagem de emissoras e revistas renomadas, como BBC [British Broadcasting Corporation] e National Geographic, o que me trouxe um grande aprendizado”.