Bombeiro de MS doa medula e se torna "um em 100 mil" para paciente de MG
O doador de MS esperou mais de 20 anos para encontrar uma pessoa compatível com a sua medula óssea

O bombeiro militar tenente-coronel Wellington de Lima, de 46 anos, doou medula óssea para um paciente de Juiz de Fora (MG) no último dia 24 de março. Ele estava cadastrado há mais de 20 anos no banco de doadores e, neste ano, teve compatibilidade aprovada com um paciente, situação considerada rara.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
O bombeiro militar Wellington de Lima, de 46 anos, doou medula óssea para um paciente em Juiz de Fora, após mais de 20 anos cadastrado como doador. A compatibilidade fora do núcleo familiar é rara, com chances de 1% no Brasil. Wellington foi compatível com um paciente desconhecido, destacando a importância do cadastro de doadores. O procedimento foi simples e sem complicações. No Brasil, 650 pacientes aguardam doadores compatíveis, enquanto o número de doadores cadastrados é de 5,7 milhões. A atualização dos dados dos doadores é crucial para o sucesso das doações.
Segundo a chefe de captação de doadores do Hemosul, Lucélia Fernandes, de 53 anos, a maior chance de compatibilidade é entre irmãos, com probabilidade de 25%. Fora do núcleo familiar, essa chance cai para 1%, o que corresponde a um caso a cada 100 mil pessoas no Brasil e um a cada 1 milhão no mundo.
Wellington foi esse “um em 100 mil” para alguém que ele sequer conhece. Não sabe a idade, o sexo ou qualquer outra informação sobre o receptor. Apenas que precisava da doação. Ele conta que se cadastrou como doador quando foi doar sangue, mais de 20 anos atrás. No dia 23 de dezembro do ano passado, recebeu uma ligação do Redome (Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea), informando sobre a possibilidade de compatibilidade com um paciente que aguardava transplante.
“Eu deveria fazer uma coleta no Hemosul de Campo Grande, para verificação, no dia 6 de janeiro de 2025”, contou o militar. A amostra foi enviada para o Rio de Janeiro, onde fica a sede do Redome. Em 7 de fevereiro, ele foi informado de que a compatibilidade estava confirmada e deveria seguir para Juiz de Fora para dar sequência aos exames e definição do tipo de coleta.
Entre os dias 23 e 25 de fevereiro, Wellington esteve em Minas Gerais para realizar exames de sangue, raio-X de tórax, eletrocardiograma e entrevista médica. “No dia 7 de março, recebi a confirmação da autorização para a doação, marcada para 24 de março, em Juiz de Fora”, relatou.
Segundo o bombeiro, tudo correu bem durante o procedimento, realizado pelas carótidas, artérias que levam sangue rico em oxigênio ao cérebro. Foi utilizada uma artéria do pescoço. Ele relata que foi um procedimento simples, com duração de cerca de cinco horas, e a recuperação de 15 horas.
“A doação é como se fosse uma hemodiálise. Retira apenas a célula tronco e retorna para mim o que não for utilizado”, explicou. Ele conta que teve apoio de toda a família e ainda se emociona ao lembrar da experiência.
“Fico pensando, tantas pessoas, a probabilidade é muito alta, porque eu? Uma pessoa compatível comigo que eu não conheço, então a gente fica muito emocionado, feliz em poder salvar uma vida. Fora assim, a expectativa da pessoa que está recebendo e os familiares. Não sei se tem filho, se é mulher ou homem, mas eu me coloco no lugar dela, sabendo que tem uma pessoa compatível comigo e eu poder ter uma esperança e conseguir”, se emociona.
Dados do Redome indicam que há cerca de 650 pacientes no Brasil aguardando por um doador não aparentado, enquanto o número de doadores cadastrados ultrapassa os 5,7 milhões. O sistema é nacional, mas pode beneficiar pacientes em outros países.
Lucélia Fernandes conta que duas doadoras de Mato Grosso do Sul já ajudaram pessoas fora do Brasil: uma fez a doação para uma criança de 11 anos, na Turquia; outra, para um adulto na Argentina. Cerca de um ano e meio após a doação, doador e receptor podem se conhecer, o que foi o caso das duas doadoras.
Para se cadastrar como doador de medula óssea, é preciso procurar um hemocentro, fornecer nome, telefone e endereço, e doar uma amostra de sangue de 5 ml para identificação genética (exame HLA). A compatibilidade pode ser com qualquer pessoa do Brasil ou do mundo. O cadastro é permitido para pessoas entre 18 e 35 anos e o estado de saúde só é avaliado quando surge um paciente compatível.

“Medula óssea são células que produzem o nosso sangue e que estão dentro dos ossos, no meio do tutano. Então o paciente quando está doente, que descobre que está doente, inicialmente faz um tratamento medicamentoso, não respondendo associa a quimioterapia e não correspondendo, é indicado um transplante”, explica Lucélia.
A substituição é feita com células de alguém geneticamente compatível, por isso, as chances são maiores dentro da própria família. O transplante pode ser realizado por dois métodos, ambos considerados simples, com recuperação rápida e sem dor.
Na primeira forma, as células são retiradas do osso da bacia, região de maior concentração. O procedimento é feito com anestesia e sem cortes, em centro cirúrgico. O volume coletado depende do peso e altura do doador e não há necessidade de internação.
Na segunda alternativa, chamada de filtração, o doador recebe um medicamento cinco dias antes da coleta, que estimula as células a circularem pelo sangue. Em seguida, é feita a filtragem, em um processo semelhante à doação de sangue.
Segundo Lucélia, a principal dificuldade do Redome não é encontrar doadores dispostos, mas sim contatá-los, já que muitas vezes, os dados estão desatualizados e os voluntários não atendem as ligações.
Ela reforça a importância do cadastro. “Você pode ser o ‘um em um milhão’ de alguém. A sua doação é, literalmente, a diferença entre a vida e a morte. Quando o paciente recebe uma medula compatível, ele tem a chance real de cura e pode voltar a ter uma vida normal.”
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.