Em bodas de prata na igreja, alegria dos filhos foi ver a mãe de cocar
Uso de um dos principais símbolos de representação indígena teve significado especial: "Eu existo"
Um dos maiores símbolos da representação indígena, o cocar, nem sempre é usado no dia a dia pelas mulheres. Comumente é usado por quem possui um destaque dentro da sua comunidade. Mas, no dia 31 de janeiro, em uma comunidade católica do bairro Santa Luzia, as cores fortes e diversas do cocar se fizeram presente em uma cerimônia de bodas de prata cheia de surpresas.
Em determinado momento da cerimônia, a pedagoga Eliane Gonçalves de Lima, de 46 anos, recebeu o cocar dos filhos. Ela é indígena casada há 25 anos com o professor de Filosofia e História, Milton Pereira da Luz, de 52 anos.
A festa foi um desejo realizado da família, que nas últimas duas décadas viu de perto um casamento tomado pelo respeito, parceria e o desejo incansável do casal em manter todo mundo unido.
“Eu sempre briguei muito pela nossa identidade. O uso do cocar naquele momento foi para marcar a nossa identidade, para dizer que eu existo e reafirmar o compromisso que eu tenho pela defesa da causa indígena”, explica a pedagoga.
O cocar naquele momento também representou a força de uma mulher que ao longo dos anos, vê a identidade de seu povo ser colocada à prova. “Não me localize e não me cerque. A identidade é muito mais de estar localizado num lugar, apenas na aldeia. Temos que ser reconhecidos como somos”, acrescenta.
Milton não é indígena, mas se apaixonou por Eliane e abraçou a causa desde as primeiras caminhadas na comunidade para horas de papo sobre a vida. Da primeira conversa nasceu uma amizade que se tornou amor e namoro meses depois.
De lá pra cá, eles colecionam histórias, amigos, lutas e momentos incríveis graças a família que só foi crescendo. Os filhos, Vinícius e Pedro Henrique, são os maiores admiradores do amor dos pais, e também não cansam de destacar a união.
“Desde criança eles falam muito pra gente sobre o amor. A gente não tem uma visão hollywoodiana do amor, mas de que ele precisa ser trabalhado em diversos momentos. Por isso a Bodas de Prata foi um momento em que todo mundo planejou junto. Tudo nós fazemos juntos, desde sair até assistir filme”, explica Vinicius.
É Milton quem destaca detalhes que fizeram da relação uma união tão duradoura e cheia de amor. “Lembro de um momento marcante da nossa história, quando fizemos uma caminhada de 3 horas de um lugar a outro apenas dialogando, falando dos sonhos, do que acreditávamos. Situações como essas nos fizeram criar vínculos e sempre acreditar e apoiar o sonho um do outro”, finaliza Milton.
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