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Comportamento

Em grupo de risco, pacientes com câncer têm covid-19 como nova "oponente"

Pacientes do Hospital Alfredo Abrão enxergam luta contra o coronavírus parte de uma batalha muito maior, a de quem vence o câncer

Lucas Mamédio | 26/03/2020 15:28
A média de atendimento agora são 25 por dia (Foto: Kisie Ainoã)
A média de atendimento agora são 25 por dia (Foto: Kisie Ainoã)

Desde que o coronavírus de aproximou de nós, brasileiros, há uma tensão permanente no ar, um clima da ansiedade por achar que o perigo está sempre perto, por não saber até quando e aonde isso vai. Porém, para algumas pessoas, essa é só mais uma fase de uma história de quem já está calejado pela experiência de uma doença tão grave.

Por isso o Campo Grande News foi ao Hospital de Câncer Alfredo Abrão conversar com pacientes que tratam diferentes tipos de câncer e saber deles, como estão vendo tudo que está acontecendo.

Segundo as autoridades mundiais de saúde, existem alguns grupos de risco, mais vulneráveis à Covid-19. Exemplo são os idosos e pessoas com doenças crônicas. No Alfredo Abrão, houve uma reorganização na estrutura de atendimento para mitigar os riscos aos pacientes.

Segundo a enfermeira responsável pelo setor de quimioterapia do Hospital, Walquiria Lopes, geralmente são oferecidas 20 cadeiras e quatro leitos para atendimentos aos pacientes. Desde a semana passada, o número foi reduzido a 10 cadeiras e dois leitos. “No total, atualmente, durante o dia, são 25 atendimentos em média no setor. Antes estávamos fazendo quase 40”, explica Walquiria.

Walquiria coordena o setor de quimioteriapia do Alfredo Abrão (Foto: Kisie Ainoã)
Walquiria coordena o setor de quimioteriapia do Alfredo Abrão (Foto: Kisie Ainoã)

Esperando na antessala da quimioterapia está dona Terezinha de Jesus, de 65 anos. Ela se recupera de um câncer no ovário. A exemplo de quase todos com quem conversamos, para Terezinha, a palavra “medo” parece não fazer parte do vocabulário. “Eu, medo? Medo do que meu filho?”, responde ela quando perguntamos do coronavírus.

Ela diz ter “preocupação”. “Uma pessoa na minha situação, se pega um negócio desse, aí que não escapa”. A paciente, já idosa, mora com mãe de 88 anos. Segundo ela, o único cuidado que estão conseguindo tomar é não sair de casa. “Só saio pra vir pra cá”.

Sentada dentro da sala já recebendo o tratamento está a empregada doméstica Ilda Apeia, de 53 anos. Depois de passar por um severo câncer de mama, ela vem de Anastácio toda semana para fazer o tratamento. “Eu acredito muito em Deus e sei que ele vai nos tirar dessa situação assim como está me tirando esse câncer”.

A ideia, baseada em fatos, de que o coronavírus mata, não assusta Ilda, que deposita na fé a saída que todos aguardam. “Como disse, Deus está livrando de um câncer, ele não vai deixar uma gripe dessa me levar”.

Ilada deposita na fé a saída para o coronavírus (Foto: Kisie Ainoã) 
Ilada deposita na fé a saída para o coronavírus (Foto: Kisie Ainoã)

Ao lado de Ilda está seu Pedro Ribeiro, de 73 anos, que trata um câncer no esôfago. Assim como Ilda, não teme o coronavíruas, mas não por achar que é imune à doença, e sim por um fatalismo de quem parece estar acostumado com a ideia de não mais viver, de alguém que vê a finitude da vida sempre ali, ao lado. “Se eu pegar, do jeito que estou, eu morro, fazer o que?”.

A dona de casa Jevanete de Oliveira, 53 anos, também está se recuperando e um câncer de mama. Ela sim tem medo do coronavírus. Está assustada com tudo que vê pelo noticiário. “Tive medo quando descobri meu câncer, no ano passado, e estou com medo agora, claro que nem se compara, mas a gente dica assustada”.

Devota de Nossa Senhora do Carmo, dona Carmem Rosa, de 83 anos, de Rochedo, diz “não ter mais idade pra se preocupar com isso”, se referindo ao coronavírus. Ela diz nunca ter recebido uma vacina na vida. “Não esquento não, se morrer, morreu”, reforçando que viveu uma vida bem vivida e que teria cumprido sua missão nesse plano.

Pedro não teme o coronavírus, mas não toma medidas para afastá-lo (Foto: Kisie Ainoã) 
Pedro não teme o coronavírus, mas não toma medidas para afastá-lo (Foto: Kisie Ainoã)

Lá fora, sentado no banco do pátio, seu Vilmar Santos, de 67 anos, e dona Alice, sua esposa, casados há 50 nos, olham o vai e vem das pessoas. Ele, que trata um câncer de próstata, espera a hora de entrar e se submeter À sessão de quimio. “A gente até se cuida sabe, mas estou tranquilo, moro em uma chácara”, se referindo a propriedade na área rural de Ribas do Rio Pardo, onde vive.

Segundo diretor-superintendente do Hospital, Harduin Reichel, não há prazo para o atendimento voltar a normalidade. Outras medidas como limitar ao número de 1 a quantidade de acompanhantes e impedir visitas também foram tomadas.

Cerca de 10 pacientes são atendidos por vez no setor de quimio (Foto: Kisie Ainoã)
Cerca de 10 pacientes são atendidos por vez no setor de quimio (Foto: Kisie Ainoã)


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