Em sacada, boneco vigia relíquias deixadas pelo grande amor de Sol
Criatura que usa chapéu é peça curiosa na casa que tem de mirante a paredão de foto com Galvão Bueno
No primeiro andar a cabeça de um boneco encara sem pausa quem passa na rua. A criatura barbuda usa brinco, chapéu e há seis anos desempenha função de vigia da casa de Solidea Stael Nonato Leite, de 59 anos. Ele chama atenção, assusta, provoca curiosidade, mas ainda assim é a parte menos interessante da casa localizada no Bairro Jardim Panorama.
Na porta da residência, Sol revela a origem do objeto que vive na sacada. “Ele foi meu boneco na barbearia aí deixei ele ali para vigiar a casa. A minha neta maquiou ele, pôs brinco, colocou até um chapéu”, ri. A moradora é pra lá de simpática e após falar sobre o boneco, faz o convite: ‘Esse aqui é meu mirante, quer subir?”
O mirante foi construído por ela e os amigos que aproveitam os finais de semana para tomarem uma ‘cervejinha’ na estrutura. A escada lateral dá acesso para o mirante que oferece vista privilegiada para à rua. “Aqui eu aprecio o movimento, mexo com o pessoal na rua. Ele estava ali, mas não gostei e quando foi esse ano mudei pra cá”, conta.
O ambiente não é dos maiores, mas já recebeu 8 pessoas, além de ter espaço para a mesa redonda e um jogo de cadeira. Do mirante, é possível ver que a varanda é repleta de objetos que decoram as paredes.
Numa delas, Sol pintou a árvore que tem incontáveis ramos que se encontram com telhas penduradas, mini barcos e remos. Conversando sobre a pintura, a moradora revelou que o amor é o motivo de pintar a varanda e ter tantos elementos guardados.
“Eu fiz mais pelo meu marido. Eu sou viúva faz 12 anos e ele gostava muito dessas coisas. Fui conservando e assim foi indo. Minha paixão gostava de tudo quanto é coisa antiga”, comenta.
Falar da 'paixão' muda completamente o tom de voz e a expressão de Sol. Como citar as relíquias não é suficiente, ela resolve mostrar as peças que o marido trouxe para casa antes de partir aos 57 anos.
Ela fez questão de guardar e de alguma forma usar tudo que Cláudio deixou. Num dos serviços de eletricista, ele chegou em casa com diversos espelhos de tomada que agora estão grudados na madeira. Os mais de 200 discos de vinil foram colocados no armário, assim como a máquina de escrever e de costura.
Em cada peça reside uma memória que a Sol traz à tona. “Tudo que lembra ele me faz bem”, afirma sorridente. Como adorava pescar, Cláudio tinha várias panelas de ferro onde fazia o ‘caldão’ de peixe e mocotó. Nas viagens de pescaria, ele aproveitava para trazer tudo que achava de diferente no caminho.
Num corredor da varanda, ela mostra outros itens que estão escondidos. Segurando um berrante, Sol comenta que sempre cuida das peças e procura dar lugar de destaque a elas. “Eu tirei e pintei tudo elas e pretendo pintar a varanda para colocar tudo lá”, conta.
Após mostrar a herança deixada pela paixão, a moradora entra em casa e aponta para as fotografias que cobrem quase que completamente uma das paredes da sala. “Esse aqui é a minha paixão”, diz. Na foto está Claúdio segurando um peixe.
O paredão de fotos narra parte da história do casal que no primeiro contato se apaixonaram. “Nos conhecemos e já nos apaixonamos um pelo outro. Eu tinha 23 para 24 anos. Se ele estivesse vivo nós estaríamos fazendo 37 anos de casados”, fala.
Viajar era um dos prazeres em comum que compartilhavam. As fotos retratam a viagem de lua de mel na Bahia, o encontro com Galvão Bueno num vôo, Grazi Massafera e a primeira visita ao Rio de Janeiro. Em outra fotografia, o casal aparece ao lado do grupo Tradição e o jovem Michel Teló.
Sol se perde nas recordações, sai apontando foto por foto. “Nossa, a gente aprontava muito. Festa era nosso point, nossa reunião com os amigos”, declara. Além dos amigos, filhos, netos e bisnetos também estão no paredão.
O tour pelas fotografias e a casa termina com a afirmação da anfitriã. “A gente tem história que não acaba e é disso que eu vivo hoje das lembranças”, destaca.
Sol faz o caminho de volta para o portão com a permissão de deixar a história da sua grande paixão ser contada. Da sacada, o boneco acompanha a despedida sempre de olhos abertos para a rua.
Confira a galeria de imagens:
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