Ensaio é espelho de amor que nasceu em meio a luta por direitos
Amirele e Kaue se conheceram durante ação do movimento indígena em Brasília
De Mato Grosso do Sul, Amirele Machado e Kaue Valente França precisaram ir até Brasília para se conhecer. Longe de uma história clichê de amor, os dois viram suas histórias se cruzarem enquanto lutavam pelos direitos indígenas e seu ensaio fotográfico espelha um pouco dessa narrativa.
Explicando que cada cocar, vestimenta, pintura e artesanato é um símbolo de resistência, Amirele conta que os itens fizeram parte do ensaio por vários motivos. A primeira explicação é de que as fotografias foram feitas enquanto o casal participava de um movimento indígena, mas além disso, também integram o cotidiano.
“A gente estava ali como uma forma de protesto e luta. [...] Mesmo que não estejamos em luta, que estejamos no dia a dia, em comemoração, você vai ver alguém usando algo, seja uma pulseira ou um colar mais simples”, ela explica.
Enquanto Amirele é do povo guarani-kaiowá, da aldeia Jaguarapiru em Dourados, Kaue é terena da terra indígena Buriti. Bacharel em Direito e artesã, Amirele conta que apesar de cada povo ser um, durante muitas lutas os indígenas se unem e assim é que os dois se aproximaram.
E, retornando à história dos dois, ela explica que assim como ocorreu no ensaio, em Brasília, a narrativa teve início na capital do Brasil. “A gente se conheceu no movimento indígena em Brasília, em 2021, por estar nesses movimentos. Conheci ele de vista por termos amigos em comum, mas até então não tinha conversado com ele”.
Amirele brinca que no início chegou a não querer se aproximar de Kaue, que é fotógrafo, mas graças a uma amiga em comum ambos foram apresentados. “Depois, houve uma assembleia do povo terena e a liderança jovem do meu povo foi convidada para participar. A gente foi e lá teve uma mesa da juventude indígena em que a gente pôde compartilhar as lutas dos nossos territórios e ali a gente tinha uma amiga em comum”.
Na assembleia, os dois conversaram e, de acordo com a artesã, os dois se identificaram a partir das conversas sobre as lutas diárias. “Ficamos a noite toda conversando e quando acabou o evento voltei para minha aldeia em Dourados e ele voltou para a dele, mas mantivemos contato”, diz.
Tempos depois, foi a vez de Kaue ir até a assembleia da juventude guarani-kaiowá e desde então os dois seguem juntos. Sobre a união ter surgido de forma nada convencional, Amirele explica que os dois conseguiram se entender também por isso.
Além de mostrar sua identidade nas fotografias do ensaio, ela comenta, por exemplo, que sua cultura precisa ser ressaltada até mesmo para quebrar preconceitos. “O que a gente sempre fala no nosso meio é ocupar todos os lugares e retomar lugares que já eram nossos”.
Por ambos viverem em meio a não-indígenas, ela completa dizendo que isso também os motiva a mostrar um pouco de si, da “cultura, resistência e desmistificar muita coisa”.
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