“Envergo mas não quebro”, diz Delinha sobre cigarro e “marvada”
Aos 84 anos, a Dama do Rasqueado continua fumando e tomando seu uisquinho gelado (com energético) para dar aquela "firmada"
"Envergo mas não quebro mesmo. Quem tem fé em Deus, não se deixa abater". O Lado B teve que ir duas vezes ao encontro de Delinha. Na primeira, sexta à tarde, tinha aparecido na televisão, cantado, tocado modão, divertido geral. Mas todo esse entusiasmo acabou em canseira. "Até tomei um calmante". Na segunda vez, no meio da manhã de sábado, já era outra mulher – não a prestes a completar 84 anos na segunda-feira (7), mas a tal da Dama dos Rasqueado. "Ontem [sexta] eu assustei. Véio não aguenta calor, nem muito frio. Não tem jeito, então a gente vai vivendo assim como dá".
Vivendo, sim, no maior alto astral. "Tenho idade, fumo, bebo, faço tudo o que tenho direito. Ainda me restam alguns anos", pondera. Delinha fez questão de mostrar sua personalidade simples e cativante, além de toda sua força de Dama. Ou quase isso: "não me entrego fácil para doença, mas o que me pega é a tal da febre, aí eu deito mesmo, não aguento. O resto, dor dali, dor daqui, eu fico de pé. A verdade que eu mando e desmando. Não tem doença nenhuma querer mandar em mim não", alerta.
Questiono se o que ela disse tem alguma coisa a ver com a pandemia. Delinha desconversa: "menino, tenho a impressão que se parar de falar nessa tal de covid, ela pega e vai embora. Ela é muito enxerida, tá todo mundo falando nela", brinca.
Receita de vida – Aos 84 anos, sendo 62 de carreira, ela lembra tudo como se fosse ontem, guardado bem na memória. "Casei em 58, aí fomos eu e Délio embora pra São Paulo. Conseguimos programa na Rádio Bandeirantes, ficamos 5 anos e 1 mês", relembra. Segundo Delinha me contou, os tempos eram difíceis, o programa era curto e pagavam praticamente nada. Pra variar, quem escutava rádio em busca da música sertaneja, ouvia escondido por vergonha. Mas aos pouquinhos, Délio & Delinha foram fazendo nome. E a primeira gravação foi com a famosa "Malvada".
Malvada – O nome pode até fazer referência à "cachaça", mas a verdade é que se originou por uma xicrinha de café. "Passamos um tempo morando na casa da minha cunhada. Délio deitado no sofá e eu andando de cabo a rabo ajudando a irmã dele. Vem ele faceiro e me pergunta se eu traria uma xícara de café. 'Não está vendo que eu estou ocupada?'. Aí pronto, começou ele a tocar com o violão e cantar: 'você vai se arrepender...'".
"Marvada" – Vida sem arrependimentos, entre um gole e outro. "Naquela época eu não bebia nada!", garante. Assegura que só começou a beber de uns 40 anos pra cá, e agora só toma o "remedinho". "Bebia muita cerveja, aí passei para o conhaque, agora é o uísque com bastante gelo e energético pra dar aquela força na véia aqui".
Os anos – Voltamos a conversar sobre sua idade de octogenária. "Pra mim não pareço que tenho tudo isso. Eu não vi todo esse tempo passar. Mas o corpo vai se adaptando, então aqui estou, a véia na 'Velha Casinha'", menciona o trocadilho para o modão que escreveu sobre sua residência, em que mora desde que tinha 8 anos. E adverte o jovem entrevistador: "a vida passa rápido! De uns tempos pra cá tá passando mais ainda. Não sei porque, mas com essa pandemia aí, deu uma piorada no meu relógio".
E o futuro, Delinha? – "Eu quero viver mais uns 10, 15 anos. Só preciso chegar aos 100, aí tá bom. Já que eu tô aqui, quero viver. Mas eu não sou deslumbrada não. A idade, vou te contar uma coisa, se passou dos 70, 80, você pode largar a mão. Você tem que firmar mesmo, não pode perder a fé".
Será que a receita de vida da Dama do Rasqueado está escondida entre as bitucas de cigarro ou nos goles do copo de vidro nesses 84 anos? Vai saber, mas pelo que o Lado B conferiu, viver para Delinha é mesmo assim, ser alegre, contente, apreciar o simples, sem nunca se deixar abater.
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