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Comportamento

Envolvido por casas de terreiro, Preto Velho é sinal de resistência

Mais de 30 casas das religiões de matriz africana se reuniram para celebração neste domingo (18)

Aletheya Alves | 19/06/2023 07:13
Estátua do Preto Velho foi revitalizada pelas casas de candomblé e umbanda. (Foto: Aletheya Alves)
Estátua do Preto Velho foi revitalizada pelas casas de candomblé e umbanda. (Foto: Aletheya Alves)

Para celebrar os 28 anos de criação da Praça do Preto Velho, mais de 30 casas de umbanda e candomblé se reuniram neste domingo (18) ocupando o espaço. Nas palavras babalorixás Pedro Gaeta e Roberto de Ogum, o dia foi dedicado a mostrar que Preto Velho é sinônimo de resistência.

Programada para ocorrer em maio, a festividade precisou ser postergada para junho devido às condições climáticas do mês passado. Por isso, a mobilização na praça foi intensa neste fim de semana.

Com roda de capoeira, atrações culturais e louvor aos Preto Velhos, o babalorixá Gaeta, presidente da Federação dos Cultos Afro-brasileiros e Ameríndios, comenta que a mobilização é uma busca constante por direitos. “Ainda hoje existe muito preconceito com nossas religiões e estar na praça que nos é dedicada significa uma luta diária”.

Organizadores do evento, Roberto, Gaeta e José Luis. (Foto: Aletheya Alves)
Organizadores do evento, Roberto, Gaeta e José Luis. (Foto: Aletheya Alves)

De acordo com o presidente, a praça chegou a ficar esquecida por um bom tempo e, a partir de uma organização das casas de Campo Grande, o objetivo é garantir que o espaço seja ocupado conforme deve ser.

“A praça recebeu corte de grama, teve a luz restaurada e, nós como organização civil, investimos em outros pontos. Entre eles está a revitalização da estátua do Preto Velho, que é nosso guardião”, diz o baba Gaeta.

Sabendo que desde olhares desconfiados até comentários preconceituosos continuam existindo, Gaeta pontua que levar a maior quantidade possível de pessoas para o evento mostra que as religiões seguem tendo força na cidade. Por isso, políticas públicas que preservem os conhecimentos e valorizem a diversidade cultural são necessárias.

Também neste sentido, o babalorixá Roberto de Ogum, presidente do colegiado de cultura afro-brasileira de Mato Grosso do Sul, narra que todo evento feito pelos povos de terreiro é um ato político.

“Essa fé chegou ao Brasil com os navios negreiros e é nosso dever manter a ancestralidade, respeitando e lutando pelo direito de professá-la. O nosso povo é um povo rico em cultura, com uma diversidade enorme de conhecimento, mas a falta de oportunidade ainda existe”, diz Roberto.

Evento reuniu mais de 30 casas de umbanda e candomblé neste domingo (18). (Foto: Aletheya Alves)
Evento reuniu mais de 30 casas de umbanda e candomblé neste domingo (18). (Foto: Aletheya Alves)

Seja pelo receio de não serem respeitados ou pela falta de espaços, ele comenta que a mudança de pensamento é necessária em Campo Grande. Por isso, respeitar a existência de uma praça como a do Preto Velho entra nas estratégias de preservação do conhecimento.

Assim como o movimento reuniu as manifestações no domingo, o intuito é de que novas ações sejam realizadas por ali como uma forma de garantir os direitos da profissão de fé. “Nós temos realizado diversos eventos e queremos manter a praça como está hoje, repleta de gente e com muita fé. Não queremos mais desrespeito e enquanto eu estiver vivo, vou plantar essa semente para que meus filhos possam colher”, completa o baba Roberto.

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