Envolvido por casas de terreiro, Preto Velho é sinal de resistência
Mais de 30 casas das religiões de matriz africana se reuniram para celebração neste domingo (18)
Para celebrar os 28 anos de criação da Praça do Preto Velho, mais de 30 casas de umbanda e candomblé se reuniram neste domingo (18) ocupando o espaço. Nas palavras babalorixás Pedro Gaeta e Roberto de Ogum, o dia foi dedicado a mostrar que Preto Velho é sinônimo de resistência.
Programada para ocorrer em maio, a festividade precisou ser postergada para junho devido às condições climáticas do mês passado. Por isso, a mobilização na praça foi intensa neste fim de semana.
Com roda de capoeira, atrações culturais e louvor aos Preto Velhos, o babalorixá Gaeta, presidente da Federação dos Cultos Afro-brasileiros e Ameríndios, comenta que a mobilização é uma busca constante por direitos. “Ainda hoje existe muito preconceito com nossas religiões e estar na praça que nos é dedicada significa uma luta diária”.
De acordo com o presidente, a praça chegou a ficar esquecida por um bom tempo e, a partir de uma organização das casas de Campo Grande, o objetivo é garantir que o espaço seja ocupado conforme deve ser.
“A praça recebeu corte de grama, teve a luz restaurada e, nós como organização civil, investimos em outros pontos. Entre eles está a revitalização da estátua do Preto Velho, que é nosso guardião”, diz o baba Gaeta.
Sabendo que desde olhares desconfiados até comentários preconceituosos continuam existindo, Gaeta pontua que levar a maior quantidade possível de pessoas para o evento mostra que as religiões seguem tendo força na cidade. Por isso, políticas públicas que preservem os conhecimentos e valorizem a diversidade cultural são necessárias.
Também neste sentido, o babalorixá Roberto de Ogum, presidente do colegiado de cultura afro-brasileira de Mato Grosso do Sul, narra que todo evento feito pelos povos de terreiro é um ato político.
“Essa fé chegou ao Brasil com os navios negreiros e é nosso dever manter a ancestralidade, respeitando e lutando pelo direito de professá-la. O nosso povo é um povo rico em cultura, com uma diversidade enorme de conhecimento, mas a falta de oportunidade ainda existe”, diz Roberto.
Seja pelo receio de não serem respeitados ou pela falta de espaços, ele comenta que a mudança de pensamento é necessária em Campo Grande. Por isso, respeitar a existência de uma praça como a do Preto Velho entra nas estratégias de preservação do conhecimento.
Assim como o movimento reuniu as manifestações no domingo, o intuito é de que novas ações sejam realizadas por ali como uma forma de garantir os direitos da profissão de fé. “Nós temos realizado diversos eventos e queremos manter a praça como está hoje, repleta de gente e com muita fé. Não queremos mais desrespeito e enquanto eu estiver vivo, vou plantar essa semente para que meus filhos possam colher”, completa o baba Roberto.
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