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Comportamento

Escolhida como mãe por gêmeas siamesas, Alice viveu amor intenso e breve

Hoje as gêmeas Maria Júlia e Luna Vitória fariam 1 mês de vida se não tivessem partido duas semanas atrás

Paula Maciulevicius Brasil | 03/02/2020 06:12
Cleyton e Alice chegaram a fazer ensaio no parque com sapatinhos e roupinhas das gêmeas. (Foto: Arquivo Pessoal)
Cleyton e Alice chegaram a fazer ensaio no parque com sapatinhos e roupinhas das gêmeas. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Existe uma coisa chamada destino e eu agradeço a Deus por ter colocado minhas filhas Maria Julia e Luna Vitória no meu destino e do meu esposo Cleyton". A frase de gratidão é de Alice Silva, 25 anos, por ter sido escolhida para ser mães das gêmeas siamesas nascidas com o tórax interligado no início de janeiro, na Santa Casa, em Campo Grande. Hoje as meninas completariam um mês se não tivessem partido duas semanas atrás, deixando uma saudade infinita aos pais e ao irmãozinho de 4 anos.

"Foram guerreiras desde sempre e eu tirei força para continuar porque uma mãe nunca desiste de um filho, mesmo sabendo de certas condições de risco e, foi isso que eu fiz". Alice coloca em palavras o sentimento de viver uma maternidade intensa, ainda que tão breve. Quando o Lado B entrou em contato, ela mesma quis descrever o amor, a dor e a saudade que ficaram.

"No dia 03/01 elas nasceram e eu senti todas aquelas dores com muito amor e muita paciência! Elas me escolheram para ser a mãe delas talvez porque sabiam que eu jamais desistiria delas porque eu sou mulher, sou mãe de verdade! Elas foram geradas com muito amor dentro do meu ventre e sinto que esse amor transborda até hoje em meu peito e nas lágrimas que vão cair dos meus olhos para todo o sempre".

Gêmeas viveram 19 dias unidas pelo tórax. (Foto: Divulgação/Santa Casa)
Gêmeas viveram 19 dias unidas pelo tórax. (Foto: Divulgação/Santa Casa)

Foi na décima segunda semana de gestação, durante a ultrassom morfológica, que os pais receberam do médico a notícia. "Ele ficou bem assustado e logo disse que era uma gestação inviável. Ficamos super preocupados, mas nunca perdemos a fé", recorda. Prova disso é que o casal fez fotos da barriga com sapatinhos e roupinhas que sonhavam em vestir em Maju e Luna.

As gêmeas não foram planejadas, vieram de surpresa para, segundo a mãe, ensinar muito à família. Foram quatro internações na Santa Casa, desde 28 semanas, até o nascimento das meninas. "Comecei sentindo dores fortes no dia 01, logo depois senti o líquido saindo", descreve. Maju e Luna nasceram às 16h09 do dia 3 de janeiro, com 35 semanas e três dias. O corte da cesárea foi em forma de "T". "Por conta do tamanho delas e porque tinham que sair juntas", explica a mãe.

No centro cirúrgico, Alice lembra de ter se emocionado ao ouvir o choro de Maria, mas logo que nasceram as menininhas foram para as mãos dos médicos. "Vi ali na sala de parto mesmo, depois que terminaram os procedimentos e depois só na UTI que tive contato com elas", conta.

As meninas não podiam sair dos aparelhos, por isso cada detalhe dos 16 dias de vida das gêmeas foram gravados na memória da mãe que não pode nem segurá-las no colo. "Vê-las na UTI foi um susto, mas também meu coração transbordou de amores, pois elas são tão lindas". O coração de Alice não conjuga verbos no passado quando se trata de Maju e Luna.

"Me lembro como se tivesse vendo elas agora na minha frente. Cabelo preto, o rosto tão fofo, os olhos negros, o sorriso de um anjo. Elas são iluminadas e vão ser para todo sempre ao lado do papai do céu. Minhas filhas foram fortes por mim e pelo papai delas, e eu estou aqui nesse mundo cheio de desafios firme e forte por elas , e eu sei que Deus sabe o que faz, mas eu daria a minha vida pelo a oportunidade de ver minhas bebês branquelas mais uma vez emsentir aquele cheiro delicado que só elas tinham. Eu amo minha Maju e minha Luna de uma maneira tão grande que ninguém jamais vai entender", descreve Alice.

A notícia de que siamesas estavam internadas em estado grave na Santa Casa saíram três dias após o nascimento. De imediato o caso ganhou repercussão e a torcida da cidade inteira. "Pela internet foi maravilhoso ler as mensagem de carinho", fala Alice.

Em tão pouco tempo de vida aqui, a mãe diz ter aprendido que a fé move montanhas. "Se não fosse eu acreditar nas minhas filhas, elas não teriam chegado onde chegaram. Os médicos fizeram de tudo por elas desde o começo", agradece.

Quando o telefone tocou, na noite do dia 19 de janeiro, Alice relata que ninguém precisou dizer nada. Ela já sabia que as meninas tinham partido. "Só o fato deles terem ligado para o meu esposo pedindo a nossa presença... Isso já bastou. Nós nos vimos ali sem rumo e sem chão", conta.

A despedida foi o mais triste, e para descrever o adeus faltam palavras. "Uma mãe nunca está pronta para se despedir de um filho, ainda mais tão precoce. A despedida vai doer para sempre, por mim, elas estariam dentro da minha barriga até hoje. Só para eu ter certeza de que elas estão bem". O irmãozinho, de 4 anos, ficou triste, mas recebeu como consolo a mensagem de que as gêmeas estariam bem ao lado da vovó Maria, mãe de Alice.

"Fiquem com Deus, filhas. Mamãe e papai sentem a falta diária. Sonhar com vocês já virou rotina e nesses sonhos vocês mostram que está tudo bem aí em cima. Se cuidem, viu? E cuidado para não se machucar".

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Mãe terá na lembrança e pelas fotos a breve passagem das filhas por aqui, (Foto: Divulgação/Santa Casa)
Mãe terá na lembrança e pelas fotos a breve passagem das filhas por aqui, (Foto: Divulgação/Santa Casa)
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