Família entra no esporte pelo filho e vive um momento emocionante
Pedro tem paralisia cerebral e encontrou no esporte acolhimento e suporte em seu processo de amadurecimento
Por Idaicy Solano | 02/07/2024 07:17
Momento emocionante que rendeu abraço entre Pedro, a mãe, Viviane, e o padrasto, Marcelo (Foto: Arquivo Pessoal)
O último final de semana foi recheado de emoção com uma cena que aquece o coração, após o adolescente Pedro Henrique Krawiec, de 14 anos, participar da 3ª etapa do Campeonato NTRMS de Ranch Sorting, na categoria equoterapia. O momento foi compartilhado entre o adolescente, sua mãe Viviane Amendola da Motta Salomão, seu melhor amigo, e o padrasto Marcelo Salomão, que o apoia desde os três anos de idade e hoje forma dupla com ele no esporte.
Viviane conta que, para incentivar o filho, ela e o marido decidiram praticar a modalidade também, e a participação no campeonato no último sábado foi um marco histórico para Pedro e sua família. Ao Lado B, Viviane relatou que o momento foi cheio de emoção e ressaltou a importância da realização de eventos como estes para construir um futuro livre de preconceitos para crianças com necessidades especiais.
“Nos sentimos abraçados pela sociedade. Vendo a emoção de todos os que participavam e de todos os que assistiam, pudemos perceber que o esporte e a categoria fazem bem para a alma e tocam a vida das pessoas. Com certeza, quem assistiu à prova teve uma grande lição de vida e de vitória”, comenta a mãe de Pedro, Viviane.
Como mãe, Viviane expressa preocupação com o futuro do filho devido à paralisia cerebral. Ela relata que já chegou a sofrer preconceito na rua devido à condição de saúde do filho, então ver a reação do público no sábado trouxe um alívio ao seu coração.
“Quando a gente viu todo mundo se emocionando, foi maravilhoso. Quando a gente vê tantas pessoas torcendo, batendo palmas e cumprimentando ele, é um alívio muito grande para o nosso coração de mãe de que o futuro pode ser melhor do que a gente tá esperando”, declarou Viviane.
Pedro é fruto de uma gravidez gemelar e nasceu prematuro, com apenas 26 semanas de gestação. Quando veio ao mundo, pesava apenas 600 gramas e precisou ficar internado na UTI Neonatal por três meses. Neste período, teve uma convulsão que causou uma lesão no cérebro, resultando em paralisia cerebral.
Após o quadro de saúde se agravar devido à convulsão, estimou-se que Pedro teria apenas 10% de chance de vida. “A família foi chamada no hospital para usarmos o recurso da prece, pois os médicos já tinham feito de tudo. Mas Pedro sobreviveu”, conta Viviane.
Devido à paralisia, o adolescente anda, fala e se expressa com dificuldade. A equoterapia surgiu como uma alternativa para auxiliar no seu desenvolvimento, após Pedro começar a apresentar alguns problemas de comportamento, como agressividade e impulsividade, dificultando o convívio familiar.
Ele pratica a modalidade há um ano, e Viviane conta que o contato com o esporte o animal estão sendo de grande contribuição para o desenvolvimento do filho. Lá, o adolescente faz acompanhamento com a terapeuta, psicóloga e treinadora Camila Spengler e com a fisioterapeuta Caroline Lins.
“Buscando uma melhor qualidade de vida para ele conheci a academia equestre. Lá, Pedro teve os primeiros contatos com o cavalo, o que o deixou muito feliz. O cavalo em si dá a ele segurança, confiança, autoconhecimento, melhora sua auto estima, sua paciência com as pessoas. O esporte então, nem se fala”, comenta a mãe.
Pedro e seu parceiro de Ranch Sorting, Marcelo (Foto: Arquivo Pessoal)
Conforme explica a instrutora de esportes equestres, Camila Spengler, que acompanha o adolescente, a prática favorece a propriocepção, estimulação sensorial e vestibular, facilitando as reações de correção e equilíbrio postural.
A equoterapia, para crianças com o quadro como o de Pedro, é capaz de aprimorar o controle postural e o equilíbrio com base no movimento do passo do cavalo. Ao se movimentar, o animal desloca o centro de gravidade do praticante em três planos: transversal, sagital e frontal, semelhantes ao movimento pélvico humano durante a marcha, conforme explica a profissional.
"O estímulo proprioceptivo contribuirá para o amadurecimento sensório-motor do paciente, pois ele fará uma reorganização postural a cada movimento do cavalo, buscando equilíbrio. Comprovadamente, há melhora significativa do desempenho funcional em crianças após a intervenção da equoterapia”, explica.
Pedro a treinadora Camila, durante campeonato no sábado (Foto: Arquivo Pessoal)
Ranch Sorting
O Ranch Sorting é uma modalidade esportiva equestre inspirada nas atividades pecuárias, que une trabalho em equipe, concentração, foco, estratégia e cow sense (leitura de movimentação de boi). A atividade consiste em separar os bois em ordem numérica crescente, de um redondel para outro. Esta foi a estreia da equoterapia no campeonato, portanto a modalidade foi apresentada sem valor competitivo.
“Para os paratletas, é um esporte muito desafiador, pois precisam assimilar todos os detalhes de condução do cavalo e manobras do esporte, enfrentando suas dificuldades em busca de aprimoramento e superação”, conforme explica Camila.
Segundo ela, este foi o início de uma nova história para a modalidade, pois até então não havia paratletas nesta prática esportiva. O intuito é que a equoterapia seja incluída no Ranch Sorting pela Associação Brasileira de Quarto de Milha, órgão responsável pela regulamentação dessa prática esportiva no Brasil.
“O nosso trabalho é bastante vasto e longo, já estamos neste caminho há mais de 20 anos. A equoterapia esportiva já é uma realidade em alguns esportes equestres, a luta agora é para inserir no Ranch Sorting, pois, quanto mais modalidades, maiores as possibilidades a todos, atletas e paratletas”, finaliza.
