Clóvis foi o professor que conquistou Xuxa e inspirou o filho músico
Há 2 dias o filho Marcio Angelotti teve 1º flauta dada pelo pai furtada da casa onde mora em Campo Grande
A partida do pai, Clóvis de Oliveira Marques, foi como uma música que parou de tocar para Márcio Angelotti Marques. Uma melodia que ele ensinou ao filho mais velho na flauta transversal aos 7 anos e que, no futuro, se tornaria a profissão do garoto. A perda foi dupla, pois o filho sequer teve tempo de sentir a ausência de Clóvis, falecido há 15 dias, e já precisou lidar com um segundo luto: o roubo do primeiro instrumento dado pelo pai.
Clóvis era professor de matemática e física, mas dedicou a vida ao ensino de diversas matérias, incluindo música. Além da família, conquistou o coração de inúmeros alunos, entre eles o da Rainha dos Baixinhos, Xuxa, que na época era apenas uma criança de 11 anos.
Natural do Rio de Janeiro, foi ele quem deu o primeiro cachorro para a garotinha. Após 40 anos, Xuxa tentou reencontrar o professor e registrou o momento em 2017. Ela também lamentou a morte dele nas redes sociais.
“Considero ele meu primeiro e único professor de matemática.Outros passaram, mas ele foi único. Ele tinha um carinho todo especial, levava as aulas de um jeito legal, botava música. Era bem diferente das outras pessoas. Ele me tratava como filha, me dava aula particular e queria que eu fosse uma das melhores alunas. Ele me deu meu primeiro cachorro um vira latas chamado kiko”.

Clóvis, foi o primeiro professor - amador - de Márcio e quem deu o primeiro instrumento de sopro para o músico, objeto que ele guardou por 33 anos, até ter a casa furtada neste domingo, em Campo Grande.
Ele fala do pai no presente pois se recusa a deixá-lo no passado. Para ele, a figura de Clóvis continua existindo. O carinho das pessoas pelo pai e o amor dele por todos seguem em um legado de caráter e coragem.
“O meu pai me deu a música. Ele foi meu grande incentivador e foi o meu primeiro professor de música. Ele era músico amador, mas foi ele que me ensinou as primeiras noções de música na vida. Foi ele que me ensinou as primeiras notinhas lá na partitura, os acordes no violão. Eu tenho o caderno há mais de 30 anos e eu guardo até hoje com a letra do meu pai”.
Apesar de não ser músico profissional, Clóvis se saía bem em vários instrumentos,entre eles o violão. As aulas com o filho só pararam quando ele fez 18 anos e foi para faculdade de música ainda no Rio de Janeiro. A chegada em Campo Grande aconteceu em 2015 através de um concurso público. Depois dai nunca mais saiu da cidade morena. Hoje, ele é flautista da Orquestra Sinfônica de Campo Grande e atribui o sucesso profissional ao pai.

O meu pai ele foi o meu maior amigo, a minha maior referência e a pessoa que eu mais amei em vida. A falta que eu o sinto dele é imensa. Eu tô vivendo um momento muito complicado de luto, já vivi outros momentos de luto, já precisei me despedir de outras pessoas da na vida, mas nenhuma dor se comparou até hoje a dor que eu sinto por ter me despedido do meu pai”.
Para Marcio o pai sempre foi uma pessoa extremamente amorosa e carinhosa e sempre se preocupou com a felicidade dos três filhos. Como professor ele trabalhou por 40 anos e se aposentou quando ficou doente do coração.
Ele usava marca-passo há mais de 10 anos, teve um abscesso (bolsa de pús) e precisou ser internado para trocar os fios do aparelho. Era para ser uma operação simples de 30 minutos, mas que durou 5 horas, segundo o filho. No procedimento houve uma complicação e Clovis não resistiu.
“Ele sempre foi uma pessoa que cuidava muito das outras. Se eu tivesse que resumir a principal qualidade do meu pai em uma palavra, eu diria que essa palavra é abnegação. Ele sempre se preocupou muito com a felicidade dos filhos, da minha irmã, do meu irmão e da minha. Tinha um coração de ouro, era uma pessoa de um coração imenso”.
Na despedida, Xuxa também fez questão de dar o último adeus ao eterno professor Clóvis, encaminhou uma mensagem para os filhos e pediu que eles colocassem no ouvido dele.
“Ela ficou muito sentida, fez o que pôde para para estar presente, enviou áudio, inclusive, quando ele ainda tava internado e pediu que eu colocasse o celular no ouvido dele”. Clovis já estava em coma.
Quanto ao ser pai, Márcio ressalta que teve a sorte de ter um totalmente presente e que gostava de ser pai.
“Se ele fosse um pai de fim de semana ainda estaria bom, porque tem pai que vê uma vez por ano e quando vê. Se ele fosse ainda só todo fim de semana, ainda estaria ótimo, mas meu pai nem isso era Ele era mais, ele extrapolava. Ele ia lá seis vezes na semana, quando não sete. Ele conciliava trabalho com participar da vida dos filhos. Na apóca Narcio vivia com a mãe.
Roubo
Neste domingo Marcio precisou lidar com a dor novamente, isso porque entraram na casa dele no jardim Jockey Club e levaram a flauta que Clovis deu de presente quando ele ainda era garoto.
A flauta é uma transversal da marca Yamaha, modelo Amar 211. O instrumento já não era usado pelo músico há anos porque solta níquel.
“Não é uma flauta muito boa por causa disso, vai para respiração. Eu a utilizei durante um tempo, não sabendo disso e depois eu troquei de flauta eventualmente, mas eu guardei essa como relíquia porque foi o meu pai que me deu de presente, Já vivi coisas complicadas aqui na cidade. Mas isso foi, de longe, a coisa mais perturbadora pela qual eu passei”.
Ao todo levaram 5 flautas e um computador onde Márcio tinha memórias dos anos que passaram, inclusive, memórias do pai. Entre os instrumentos furtados, uma flauta herdada pelo professor Jorge Melakrino.
Eu jamais venderia qualquer um daqueles instrumentos por maior que fosse a dificuldade financeira pela qual eu estivesse passando eventualmente. Eu jamais venderia qualquer um daqueles instrumentos porque para mim são relíquias e tem valor afetivo e são de pessoas que eu amei em vida e que são muito importantes para mim”.
Ao todo, o prejuízo, além de sentimental, ficou em R$ 15 mil. Na lista do furto também está um flautim, que é uma é um tipo de flauta transversa, mas pequenininha "é um instrumento muito caro também, custa hoje em torno de R$ 7 mil. Era um dos meus instrumentos de trabalho e tinha também valor sentimental".
Agora, Márcio ficou sem ter como trabalhar e aguarda os desdobramentos do caso. A esperança é que devolvam ao menos a flauta do pai.
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