Festa junina foi primeira experiência de Meri no universo drag queen
Produtora cultural conta que se caracterizou de Lady Gaga para dançar na quadrilha da escola
Festa junina para a produtora cultural Meri Silva Moraes, de 29 anos, é o início de uma transformação. Deu coragem para a primeira experiência no universo drag queen. Em 2010, enquanto ainda cursava o Ensino Médio no Colégio Dom Bosco, Meri resolveu “se montar”. De cara, partiu para um ícone e fez Lady Gaga dançar na quadrilha.
Na época, Meri ainda se chamava Guilherme e não imaginava que anos depois, iria realmente se tornar como drag queen. “Eu era do 3º ano do Ensino Médio e tinha vontade de me montar. Lembro que a gente tinha combinado dos meninos irem vestidos de meninas e vice-versa, aí pensei: ‘Então, vou ser alguém babadeira’ e escolhi a Lady Gaga, porque era muito fã dela”, explica.
Com ajuda de amigas, a caracterização foi criada e, de acordo com a produtora cultural, os comentários sobre seu figurino não cessaram durante toda a festa.
Foi um momento icônico para mim. O terceiro ano sempre é cheio de mística e para mim, essa instrumentalização foi libertadora. Antes disso, eu ia em festa de 15 anos, por exemplo, e lembro de fazer coreografia mas para mim, porque era muito tímida. Depois da festa junina, me libertei, porque se já tinha dançado quadrilha como Lady Gaga, sentia que poderia dançar e ser do jeito que eu quisesse", detalha Meri.
Desde então, aquela edição da festa junina ficou marcada em sua memória como a primeira vez em que se montou e sentiu que aquele espaço poderia ser seu. “Acho que essa festa teve muita influência na minha história, é muito doido, até porque, tive essa experiência e foi um processo até eu realmente retomar esse local.”
Depois da festa junina, Meri esperou cerca de três anos para voltar a se montar e a oportunidade surgiu no Carnaval. E foi só com mais três anos que ela realmente criou sua persona.
“As permissividades que algumas festanças dão se tornam os espaços em que a gente precisa aproveitar brechas e ir a fundo no que queremos tentar. A gente vive em uma sociedade muito quadrada e nessas festas, temos os espaços para escapar da normatividade do cotidiano”, ela argumenta.
Por esses motivos, quando olha para sua história, ela não duvida que o processo de criação da Meriju, sua persona drag, teve influências da primeira experiência. “Foi muito importante, porque esses momentos tiram a gente do cotidiano. Só por tirar e deixar a gente experimentar, fazer outras coisas que não fazemos, são momentos de extrema importância.”
Sua história e identificação foi tão forte, que até a competição de drag queens de Mato Grosso do Sul, a Corrida das Drag, foi criada por ela. “Eu já era Meriju e precisava de espaço para poder me montar. Me uni com minha amiga e meu irmão e começamos a fazer o evento. Mais pessoas foram abraçando a ação até que se tornou algo independente, como uma competição mesmo”.
Outro ponto que Meri explica é que durante o período entre a festa junina e a criação de Meriju, seu processo de transição também foi acontecendo. “Minha persona drag como Meriju surgiu em 2016, mas desde 2015, eu já me entendia como pessoa trans não binária. Meu nome social é mais recente, foi no começo de 2020, mas eu já me entendia assim e vivia esse início de transição”, pontua.
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