Geysse venceu solidão e xenofobia e há 8 anos é feliz na Bélgica
Formada em relações internacionais, ela conquistou o que muitos sonham: um emprego em sua área fora do país
Morando na Bélgica há oito anos, Geysse Alencastro de Costa, de 32 anos, decidiu deixar Campo Grande e ir para a Europa após concluir a faculdade. Formada em relações internacionais no Brasil, ela fez mestrado em ciências políticas na Bélgica, e conquistou o que muitos brasileiros sonham: um emprego em sua área fora do país. Por lá, ela mora na região de Flemish e trabalha com comércio exterior, voltado para o mercado britânico.
Porém, para alcançar seus objetivos e conquistar estabilidade em um país estrangeiro sozinha, ela compartilha que precisou enfrentar diversos desafios, desde a solidão, até aprender a lidar com a xenofobia e o choque das diferenças culturais.
Geysse conta que decidiu fazer um intercâmbio na Irlanda para melhorar suas habilidades de fala e escrita no idioma inglês, e que inicialmente pretendia voltar ao Brasil ao término dos estudos. Mas a viagem que era para durar alguns meses, acabou se tornando o passaporte para que ela iniciasse sua vida na Europa.
Na Irlanda, ela decidiu que queria fazer um mestrado, porém era muito caro. Foi quando seu ex-namorado, que era belga, lhe deu a ideia de ir estudar na Bélgica, pois era mais em conta para estudantes estrangeiros, considerando que por lá o custeio da faculdade não tem o mesmo valor para imigrantes.
Na Bélgica, ela aplicou para três universidades: a Universidade de Ghent, que é onde ela vive atualmente, a Universidade Católica de Leuven e a Universidade de Bruxelas. Ela passou em todas, e acabou optando pela primeira, que é, inclusive, uma das 100 melhores universidades do mundo.
Processo de adaptação
Geysse conta que para ela, a parte mais difícil do processo de adaptação foi em relação ao clima, a linguagem e a cultura. Na Bélgica, o clima é bastante frio, e mesmo morando no país há oito anos, ela relata que ainda não se adaptou completamente.
“Aqui chove muito e é muito frio, raramente têm luz do sol. Como eu trabalho das nove às cinco, eu saio de casa, tá escuro, eu saio do trabalho, tá escuro. Agora no verão, é maravilhoso. Alguns dias no verão a gente consegue pegar um dia de calor, de sol, que não esteja chovendo, que não esteja nublado”, detalha Geysse.
Outra questão, foi em relação a adaptação social. Os belgas são bastante ‘fechados’ e Geysse confessa que até sente falta do “calor humano” que só o povo brasileiro tem. Além disso, enquanto no Brasil o povo faz festa para tudo, Geysse relata que na Bélgica as pessoas são mais quietas e reservadas.
Ela relata que é muito difícil fazer amizade com moradores locais, porque na Bélgica eles crescem com o círculo de amizade fechados, e raramente vão abrir esse círculo para as pessoas que vêm de fora.Para ela, a época mais difícil é durante as festas de final de ano, que além de estar fazendo bastante frio, ela ainda passa longe da família e dos amigos.
“É o período que normalmente você tá com a sua família, com seus amigos, celebrando. E a gente tá sozinho aqui. Porque aqui você tá muito sozinha, você não tem aquele círculo de amigos. Eu tenho meus colegas de trabalho, mas meus colegas de trabalho são meus colegas de trabalho. Eles são muito individualistas. Então não tem essa questão de comunidade. Os amigos que a gente acaba fazendo são os que estão na mesma situação que você, são os imigrantes na maioria das vezes”, relata.
Xenofobia
Geysse relata que uma das principais dificuldades da imigração para a Bélgica, é a xenofobia. Apesar de agora viver tranquilamente, ela relata que sofreu o preconceito na pele quando era recém chegada. Porém, ela teve sorte de conhecer vários moradores locais que lhe ajudaram a socializar e se colocar no mercado de trabalho.
“Agora estou trabalhando na minha área, então eu já passei um pouco dessa barreira, porque muitas pessoas que eu conheço, estão há meses tentando, é muito difícil conseguir um trabalho, eu demorei seis meses para conseguir um trabalho aqui depois de ter me formado”, conta.
Ela conta que muitas empresas estão tentando aderir a diversidade, como uma forma de melhorar a imagem da empresa em relação ao estereótipo xenofobico. Este é, inclusive, o caso da empresa onde ela trabalha. Ela foi a primeira funcionária estrangeira a ser contratada. “Essa questão da diversidade está batendo muito nas empresas para tentar tirar esse estereótipo de xenofóbicos. Mas infelizmente ainda creio que acontece muito”.
Estilo de vida
Apesar das dificuldades encontradas no meio do caminho, Geysse afirma que não pensa em voltar para o Brasil. Um dos motivos, é o privilégio de poder viajar de duas a três vezes no ano para diferentes países.
“Aqui é muito mais fácil, porque a gente tem as companhias aéreas ‘low cost, então viajar dentro da Europa é muito mais fácil porque é tudo muito perto, as passagens tem opção de trem, de ônibus, de avião. A gente tem muito mais opções de transportes aqui e não é um preço absurdo em comparação com o teu salário”, relata.
Depois de anos ultrapassando obstáculos para conseguir se estabilizar morando fora do país, Geysse conseguiu levar a mãe para uma viagem internacional. Essa foi a primeira vez da mãe saindo do Brasil. Recentemente, ela também teve a oportunidade de ir ao maior festival de música do mundo, o Tomorrowland.
Geysse trabalha em Antuérpia, mas mora em Ghent, e viaja todo dia de trem para a cidade. Isso porque Bélgica é um país pequeno, e em apenas uma hora ela chega ao destino.
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