Há 10 anos, Waldecir faz coleção de 'relíquias' achadas no ferro-velho
Em casa, o professor e músico tem motos, instrumentos musicais, placas de rua e rádio com valor sentimental
A fachada da casa de Waldecir Alves de Almeida, de 56 anos, denuncia o lugar: um baú recheado de histórias. No jardim, o Fusca 1968 pintado de preto e com frases de músicas dá as boas vindas aos visitantes. Professor e músico, Waldecir coleciona itens há 10 anos, sendo que cada um deles o representa de alguma forma.
Natural do interior de São Paulo, ele adotou Mato Grosso do Sul como lar há 23 anos. Hoje, Waldecir dá aulas de história em escolas municipais e estaduais, além de tocar guitarra na banda ‘Caminho Livre’ que tem com os amigos.
É com simplicidade nas palavras que ele se autodeclara uma pessoa que ‘toca a sua vida’ normalmente na cidade que criou raízes. “Sou esse cidadão comum de Campo Grande com suas histórias e aventuras que faz parte do cenário e imaginário coletivo. Todo mundo tem sua história, seus passados, alegrias, conquistas. Isso é o povo e Campo Grande”, destaca.
A vida como colecionador - A vontade de ter por perto diferentes tipos de relíquias começou quando o professor acompanhava os programas de colecionadores, que eram transmitidos no canal History Channel.
A ‘febre’ dessas séries o atingiu em cheio e ele começou a adquirir os itens que agora estão espalhados na varanda, estúdio e quintal de casa. Ele relata que a música foi o ponto de partida da saga que continua até hoje.
“Eu comecei tentando retomar a parte musical, porque eu fiquei muitos anos sem tocar. Tem um saxofone aqui que toquei há 20 anos numa igreja. Sempre gostei de blues e rock, aí comecei a comprar instrumentos. Comprei oito guitarras, teclado e aparelhagem de som”, conta.
Seja através de instrumentos ou rádios, a música tem o seu lugar de destaque no ambiente. O saxofone virou decoração no teto e o rádio Semp modelo Ac-431, que é herança do avô, está posicionado no balcão. “Esse é um dos objetos mais antigos aqui em questão de história familiar. Ele é dos anos 1950. Além de ser antigo tem valor por ser da família”, explica o professor.
Nas paredes, pôsteres e banners de divulgação trazem rostos e grupos de bandas nacionais e internacionais. Algumas das imagens anunciam shows e apresentações realizadas há mais de uma década na cidade. Dentre os posters estão os grupos Santa Esmeralda, Company, Sol, Frenesi, Solar e Mensageiro D’Oeste.
Unidas por um fio, latinhas pretas trazem a inscrição ‘O Bando do Velho Jack’. Fotos em diferentes poses da banda de blues campo-grandense estão espalhadas no espaço da varanda, que também tem discos de vinis colados na parede.
O professor comenta que algumas das peças vieram de amigos e conhecidos, porém a maioria é resultado de compras feitas em todo o tipo de lugar. A principal fonte, segundo Waldecir, é o ferro velho. “Eu frequento muito ferro velho aqui e no interior de São Paulo. Nesses lugares tem muitas coisas vendem. Praticamente tudo aqui vem de ferro velho", afirma.
Coleção diversa - Máquinas de escrever, pranchas de surf, gravadores de som, vitrolas, rádios, máquinas fotográficas, relógios de parede, videocassete, canhões de luz, painéis de fotos do Sebastião Salgado, balanças, placas com nomes de ruas de Campo Grande e de países como Paraguai e Bolívia.
Em casa, Waldecir tem de tudo um pouco e a cada passo dado você encontra algo diferente e inusitado. É o caso dos utensílios domésticos, como a leiteira, panelas e tacho de ferro que estão próximos a um painel do Corcel e Landau. "Esse tacho aqui pertenceu ao meu avô e a minha vó. Tem muita história", diz.
Na garagem também estão a Brasília, a Kombi 1970 e as motos da Yamaha que são as verdadeiras xodós do colecionador. "Essa moto é a primeira DT que saiu no Brasil, é de 1982, paguei mil reais para restaurar. Ela é rara, fez muito sucesso", diz orgulhoso. O meio de transporte é um dos itens da coleção que ele garante não vender por nada.
Ao mostrar detalhes da moto, Waldecir lembra do tempo que era a criança que sonhava ter uma pra si. "Essas motos eu cresci vendo elas. Quando eu era moleque eu tinha o sonho de ter essas motos”, revela. Outro destaque especial da coleção são as bicicletas da Caloi de diferentes cores e anos.
A roça está presente em mais peças colecionadas por ele, sendo que uma delas é bastante familiar ao antigo instrumento de trabalho do músico. “Eu trabalhei em roças de café. Essa peneira encontrei numa fazenda onde trabalhei quando era garoto. Estávamos passeando e eu achei essa peneira que remonta a minha infância, adolescência, pais e avós", comenta.
Embora a coleção não siga nenhum critério definido, os itens sempre se voltam para a história e gostos do professor de história. No final da entrevista, ele fala sobre o significado que a coleção tem na vida dele.
"Por ser professor de história e ter esse sentimento de gostar de coisas antigas. É uma forma de ter um hobby, entretenimento e distração para ir tocando em frente”, conclui.
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