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Comportamento

Há 30 anos, só as regras do seu Madruga mantém ordem em bar raiz

Lugar é cheio de particularidades: regras do dono, poesia pelas paredes e só aceita dinheiro

Por Idaicy Solano | 04/06/2024 06:34
No Bar do Madruga, a regra é clara: não tem dinheiro vivo, não consome (Foto: Osmar Daniel Veiga)
No Bar do Madruga, a regra é clara: não tem dinheiro vivo, não consome (Foto: Osmar Daniel Veiga)

Escondido entre as casas de alvenaria e de portões altos no Danúbio Azul, bar com as paredes cobertas de poesias, pinturas e cadeiras de plástico, parece ter parado no tempo. Com as portas abertas há 30 anos, a única forma de consumo no local é com dinheiro vivo, e para quem pensa que bar é bagunça, o proprietário Augusto Gomes de Souza, 75, conhecido como “Madruga”, deixa claro que para frequentar a casa é preciso respeitar regras.

Ninguém entra sem camisa, brigas são proibidas e, apesar do clima simpático e acolhedor, negócios são negócios, amizade é amizade, então fiado nem pensar. O conjunto de regras para frequentar o bar também inclui nada de arruaças ou badernas. Tudo isso, ele explica que é para manter o ambiente tranquilo e familiar.

Nessas três décadas, Madruga jura que nunca viu uma briga, mas já precisou mandar alguns bêbados para fora.

“Eu me levanto cedo, e abro aqui cedo. Na hora de sair pra igreja, eu fecho. Quero continuar assim, com respeito. Alguns que tentam fazer as coisas [brigas, arruaças], eu já reclamo e eles vão embora”, relata.

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Uma árvore na calçada faz uma boa sombra em frente ao estabelecimento, onde a freguesia gosta de sentar em cadeiras de plástico para conversar. Isso porque o horário de funcionamento é das 7h às 20h, ou seja, o bar abre e fecha cedo. As prateleiras de madeira possuem diversas garrafas de bebidas a mostra, além de uma mesa de sinuca no salão.

As paredes tem cor e poesia. Ao lado do caixa, uma pintura de um tuiuiú, ave do Pantanal sul-mato-grossense, enfeita a parede. Mensagens de amor, esperança e reflexões também compõem boa parte do cenário.

A esposa de Madruga, Cida Ribeiro, 67, conta que a arte foi cortesia de um andarilho chamado Charles, que veio do Uruguai, e trocou enfeitar o bar por um local para ficar durante sua estadia por Campo Grande. Mulher simples, igual o marido, ela relata que acolheu o homem, e se encantou pelas mensagens deixadas na parede.

Sobre a visita inusitada do homem, Cida conta que "nunca vamos ver de tudo nessa vida", mas que o encontro com Charles certamente trouxe aprendizado. Ela acrescenta que esta não é a primeira vez que o andarilho visita o casal, a primeira, foi há 11 anos atrás.

Árvore em frente ao estabelecimento faz sombra para clientes que se reúnem para conversar (Foto: Osmar Daniel Veiga)
Árvore em frente ao estabelecimento faz sombra para clientes que se reúnem para conversar (Foto: Osmar Daniel Veiga)
Mensagens deixadas por andarilho nas paredes do establecimento (Foto: Osmar Daniel Veiga)
Mensagens deixadas por andarilho nas paredes do establecimento (Foto: Osmar Daniel Veiga)

Madruga trabalhou por vários anos na lavoura, na zona rural das cidades de Dourados e Ponta Porã. Veio conhecer a Capital em 1979, e tocou a vida trabalhando em obras. Decidiu abrir o bar após não ter mais condições físicas de servir na construção civil.

Ele conta que quando chegou, havia poucas casas na região, e a rua ainda não era asfaltada. Nesses 30 anos, viu vários bares abrirem e fecharem, e se orgulha por ser um dos que permaneceu de portas abertas.

Madruga não sabe ler, e aprendeu a trabalhar apenas com dinheiro em cédula, então por esse motivo não mexe com cartão nem pix. Essas ferramentas não fazem falta para ele, nem para os clientes, que são frequentadores há anos.

“Aqui é meu divertimento. É onde eu tiro para pagar minhas contas, vou levando a vida devagar”, finaliza.

Do caixa, Madruga observa os clientes e o movimento da rua (Foto: Osmar Daniel Veiga)
Do caixa, Madruga observa os clientes e o movimento da rua (Foto: Osmar Daniel Veiga)
Aviso alerta clientes que é proibido entrar no estabelecimento sem camisa (Foto: Osmar Daniel Veiga)
Aviso alerta clientes que é proibido entrar no estabelecimento sem camisa (Foto: Osmar Daniel Veiga)
Pintura de tuiuiú feita por Charles na parede do bar, ao lado do caixa (Foto: Osmar Daniel Veiga)
Pintura de tuiuiú feita por Charles na parede do bar, ao lado do caixa (Foto: Osmar Daniel Veiga)

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