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Comportamento

Há 5 anos, Vanderlice vê que só o amor de mãe sobra na esquizofrenia

Thailla Torres | 17/08/2020 07:08
Vanderlice, em sua casa, conta como tem sido a luta para dar uma vida melhor ao filho, mesmo que o mundo diga que não tem mais jeito. (Foto: Marcos Maluf)
Vanderlice, em sua casa, conta como tem sido a luta para dar uma vida melhor ao filho, mesmo que o mundo diga que não tem mais jeito. (Foto: Marcos Maluf)

Todos os dias, em sua casa no Vila Nasser, em Campo Grande, a aposentada Vanderlice de Oliveira, de 41 anos, vive o drama de ter alguém consumido por uma doença que afeta a capacidade de pensar, sentir e se comportar com clareza. A causa exata do que levou o filho Rildo Jorge Ferreira Junior, 22, a ter esquizofrenia não é bem definida na cabeça da mãe, mas há cinco anos ela vem demonstrando uma força sobrenatural depois de todo mundo já ter jogado a toalha, em uma batalha longa, de altos e baixos.

Ainda que amigos e familiares a usem com frequência para falar de Vanderlice, a palavra “guerreira”, ela diz que o substantivo não combina com a sua dedicação. “Eu só faço meu papel de mãe, de quem ama um filho, e meu coração parece nem entrar em conflito na hora de fazer isso, de tentar o que estiver ao meu alcance por ele”, descreve.

Há cinco anos ela viu a vida mudar, virar de cabeça para baixo quando o filho recebeu o diagnóstico de esquizofrenia. A relação com uso de drogas, como LSD e maconha antecederam a revelação médica sobre a doença, mas ela disse que o histórico do filho não é de dependência química e que as substâncias, claro, podem ter agravado o quadro clínico da doença que hoje está em estágio avançado, ou seja, aonde ocorre prejuízo cognitivo e de funções como concentração e memória. “O que eu ouço dos médicos é que ele está num quadro irreversível, que meu filho não tem mais jeito”.

Vanderlice segura a mão do filho, internado em CAPS de Campo Grande.
Vanderlice segura a mão do filho, internado em CAPS de Campo Grande.

O sofrimento nos últimos anos fizeram de Vanderlice uma mulher forte. Ela não chora e aprendeu não ter vergonha de pedir ajuda, mesmo que a vontade é de colocar o filho debaixo dos braços e ficar com ele até os últimos minutos dentro de casa para que ele não tenha nenhuma crise.

Hoje ela abre o coração e fala sem nenhum receio do sofrimento e pede ajuda para dar um tratamento adequado ao filho em uma clínica que ela encontrou em São José dos Campos, por isso, realiza uma vaquinha na internet em busca de arrecadar R$ 25 mil para o tratamento, já que hoje ele está internado em um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) de Campo Grande.

“Sei que o quadro dele é avançado, mas quero ter a chance de cuidar dele melhor, de vê-lo em um lugar que proporcione a ele uma melhor reintegração social, que não fique sempre dopado de medicamentos. Hoje, quando visito meu filho, ele está sempre aéreo, com olhar vazio, mas não é isso que eu quero”.

Há cinco anos, Vanderlice diz que enfrenta os desafios e a solidão da doença. Isso porque além dos quadros psicóticos, com situações de nervosismo e agressividade, que também ocorrem na esquizofrenia, ela passou a lidar com tudo isso sozinha, já que muitos não entendem a realidade do filho como uma doença, mas como maldade. “Existe um preconceito muito grande. Infelizmente eu já escutei de tudo, de louco a ruim, vi gente que preferiu se afastar, familiares que não entenderam, gente que tem medo do meu filho. É uma luta que ficou mesmo pra mim”.

Vanderlice fala do preconceito que vem de quem não entende a esquizofrenia. (Foto: Marcos Maluf)
Vanderlice fala do preconceito que vem de quem não entende a esquizofrenia. (Foto: Marcos Maluf)

Como a mulher forte e ser humano que é, Vanderlice não nega que já pensou em desistir, mas descobriu em meio ao tratamento do filho que na esquizofrenia só mesmo o amor de mãe sobra, mesmo que ela pense por um momento em jogar a toalha também. “Quando esse amor vem à tona não há sofrimento que derrube ele. É claro que tem dias terríveis, que a gente se culpa ou fica tentando encontrar respostas, mas daí o amor fala mais alto aqui dentro, e lá vou eu parar dentro da internação para cuidar dele, conversar, dar comida na boca, se necessário, e dizer que eu não consigo abandonar”.

Em razão disso, ela abre o coração para que outras famílias entendam e busquem informações sobre as características da doença. “É preciso entender que, se por acaso, meu filho ou qualquer paciente tiver um surto de nervosismo, não se trata de maldade. Ele tem uma doença como qualquer outra, da qual ele é muito mais vítima, isso ajuda a gente a compreender melhor o problema e as necessidades da pessoa doente, e automaticamente ajuda mães como eu que estão fazendo de tudo pelo filho”.

Quem quiser contribuir com a vaquinha on-line e ajudar Vanderlice nessa luta, clique aqui.

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