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Comportamento

Herança do pai, Opala “Dino” é a melhor memória ao filho de 2 anos

Arthur descreve seu carro como"príncipe das ruas"; ao lado do caçula Heitor, pai e filho dividem juntos a paixão pelo "vermelhão"

Raul Delvizio | 27/01/2021 07:18
Sonho realizado de pai já é herança para filho de menos de 2 aninhos (Foto: Arquivo Pessoal)
Sonho realizado de pai já é herança para filho de menos de 2 aninhos (Foto: Arquivo Pessoal)

Na garagem de Arthur Teixeira de Lima Coelho, arquiteto e urbanista de 28 anos, está guardado com carinho o "carrão" Chevrolet Opala SS, de 1978, que ao sair às ruas de Campo Grande se mostra intacto. Cheio de histórias, o veículo que até tem nome próprio – "Dino", de dinossauro – não apenas é a garantia de herança para o pequeno Heitor, de 1 aninho e 7 meses, mas já serve como um bom condutor de memórias entre pai e filho.

"Lavamos o Dino juntos, passeamos na Afonso Pena e até deixo ele 'estacionar' o carro na volta pra casa, sentado no meu colo e na frente do volante, é claro. E não tem jeito: basta sair do Dino que começa a choradeira de sempre. Heitor é apaixonado pelo nosso carrão!", comemora Arthur.

Nos finais de semana, rolê de pai e filho é dar um "giro" pela Afonso Pena (Foto: Arquivo Pessoal)
Nos finais de semana, rolê de pai e filho é dar um "giro" pela Afonso Pena (Foto: Arquivo Pessoal)

Na realização do sonho de ter as chaves e dirigir um Opala SS, ele vem assegurando ao filho lembranças felizes que, segundo Arthur, "vão ficar pro resto de sua vida".

"Muitos antes de dizer 'papai', o primeiro som que saiu de sua boca foi o 'vrum vrum' do carro. Para se ter uma ideia, tampas de pote de plástico viram, na mão dele, um volante perfeito", valoriza.

O nome de batismo do "Opalão" é o símbolo maior dessa herança de pai para filho. "Desde pequeno, ele ficava cantarolando sem parar aquela música do dinossauro do 'Mundo Bita' (desenho infantil). Em sua homenagem, resolvi apelidar o nosso Opala de Dino", explica.

A história de como o Opala foi parar nas mãos de Arthur não só dá um filme, mas um do gênero de comédia. Em julho de 2019 foi quando começou a procura só porque colocou na cabeça de ter um para si. Na época ainda não havia o filho Heitor para "dividir" essa paixão.

Aqui, Arthur sorri para clique com o Heitor a brincar com o volante (Foto: Arquivo Pessoal)
Aqui, Arthur sorri para clique com o Heitor a brincar com o volante (Foto: Arquivo Pessoal)
Para Arthur, é a forma que encontrou de deixar boas memórias ao filho (Foto: Arquivo Pessoal)
Para Arthur, é a forma que encontrou de deixar boas memórias ao filho (Foto: Arquivo Pessoal)

"Pensei em vender minha moto esportiva para ajudar na compra. Sempre fui apaixonado por carros antigos, mas nunca tive um. Só que, 2 meses depois, me arrebentei num acidente e a moto acabou tendo perda total. Era 7h da manhã de um sábado e eu estava indo para um curso. Do nado, um bêbado cruza a avenida em alta velocidade e, para desviar, acertei em cheio a traseira do carro dele. Não quebrei nada, mas ralei o corpo inteiro, ficou pura carne viva", relembra.

"Aquele acidente me fez pensar que, caso eu morresse, meu filho que já estava a caminho do 'forno' não teria algo de peso para lembrar do pai. Tendo o Opala, contudo, seria o nosso elo de ligação entre pai e filho", admite.

Mesmo sem moto alguma para vender, Arthur não desistiu do sonho do "Opalão". Descobriu o tal do Zé Marcos, que ouviu dizer ser uma referência de carros antigos na Capital. "Foi ele quem me passou o contato de um 'vendedor' de Rio Brilhante, justamente com um Opala modelo SS – mas a verdade é que o carro não estava à venda".

Chevrolet Opala de Arthur é o modelo SS 1978 (Foto: DoBruto Arts)
Chevrolet Opala de Arthur é o modelo SS 1978 (Foto: DoBruto Arts)
Detalhe do seu "vermelhão" (Foto: DoBruto Arts)
Detalhe do seu "vermelhão" (Foto: DoBruto Arts)

"Sem brincadeira, liguei para esse cara todos os dias no mês de outubro. Quando me bloqueava, ligava por meio de um outro número. Até que ele pediu trégua. Resolveu me convidar para conhecê-lo em Sidrolândia, onde o carro seria exposto em uma feira na cidade. Fui com minha esposa Daniela e meu filho Heitor, que na época já havia nascido. Era um domingo de manhã. Quando chegamos, de cara vi que o Opala não estava em boas condições, mas foi amor à primeira vista. Entretanto, eu estava sem os R$ 35 mil que o dono solicitou. Não pensei duas vezes: resolvi entregar a chave do carro da minha esposa – um HB20 2013-2014 com apenas 30 mil quilômetros rodados – em troca do Opalão, uma oferta irrecusável. Quase ganhei um divórcio naquele dia, porém ela sabia com o louco que tinha casado", brinca.

Arthur até já fez ensaio fotográfico no autódromo de Campo Grande (Foto: VNKZ Photos)
Arthur até já fez ensaio fotográfico no autódromo de Campo Grande (Foto: VNKZ Photos)
Ainda, registro do Opala no estacionamento do Shopping Campo Grande (Foto: DoBruto Arts)
Ainda, registro do Opala no estacionamento do Shopping Campo Grande (Foto: DoBruto Arts)

A combinação então ficou de que o Opala seguiria viagem por guincho até Campo Grande, e a troca pelo carro "moderninho" seria feita aqui mesma na Capital. "Jamais esqueço o dia de pegar o Opala, que foi no mesmo dia do aniversário do meu pai. Desci na oficina e simplesmente fui dirigindo. Passadas 4 quadras, o carro 'morreu' em plena da avenida Zahran, horário de pico. Foi uma vergonha terrível! Estava todo bonitinho, arrumado pelo encontro com o meu Opalão e tive que ligar pro mecânico me socorrer, fora empurrar aquela 1,2 tonelada até um local mais adequado".

E claro que essa não é a única das histórias. "Antes de chegar na casa do meu pai, a roda esquerda resolveu cair. Depois travou a marcha ré. Em seguida, a outra roda também foi ao chão. E fora tudo isso, quando abri o porta-malas descobri no azar da situação que nem estepe, macaco ou chave de rodas meu Opala tinha. Confesso que passei uma raiva danada". Hoje ele dá risada.

Quando o Opala chegou nas mãos de Arthur, o carro era pura lata-velha (Foto: Arquivo Pessoal)
Quando o Opala chegou nas mãos de Arthur, o carro era pura lata-velha (Foto: Arquivo Pessoal)
Selfie com o seu "vermelhão" na oficina (Foto: Arquivo Pessoal)
Selfie com o seu "vermelhão" na oficina (Foto: Arquivo Pessoal)
Tanto a parte mecânica quanto a estética teve que ser completamente reformada (Foto: Arquivo Pessoal)
Tanto a parte mecânica quanto a estética teve que ser completamente reformada (Foto: Arquivo Pessoal)

Em resumo, o Opala Dino teve que, obviamente, passar por uma reforma geral. Alterou o cabeçote do motor, a suspensão, ganhou radiador novo e até bomba de gasolina também foi trocada. "Já gastei quase R$ 30 mil em mecânica só para ter o Dino inteirinho funcionando. Isso sem contar com a parte estética, que também teve muita restauração".

Nas redes sociais, Arthur criou um perfil no Instagram descrevendo e postando toda essa aventura – desde reforma até traquinagens e outras brincadeiras. "Assim, o nome Dino foi pegando e o número de seguidores que acompanham essa história foi crescendo. E também cada vez mais patrocínios foram negociados no caminho. De lá pra cá, várias marcas vem ajudando o Dino a ficar daquele jeito, vermelhão todo bonito, seja na aparência quanto na questão mecânica", esclarece. E o custo vem barateado.

Servindo até como "modelo" para ensaios fotográficos, Opala Dino é, para Arthur, o "príncipe das ruas" de Campo Grande. Na paixão e no sonho realizado do pai, o filho Heitor curte o laço de sangue, de amizade e amor incondicional que tem pelo seu "velho", além de dividirem juntos – para toda a vida – memórias felizes sobre o vermelhão 4 rodas.

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Pai dividem juntos o amor de sangue e a paixão por 4 rodas (Foto: Arquivo Pessoal)
Pai dividem juntos o amor de sangue e a paixão por 4 rodas (Foto: Arquivo Pessoal)
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