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Comportamento

Humberto reviveu com a arte e hoje encanta com miniaturas da cidade

Aposentado passou dois anos em cadeira de rodas e encontrou em seu ateliê uma maneira de se reinventar

Por Idaicy Solano | 10/07/2024 10:25
Humberto em seu Ateliê, em Campo Grande (Foto: Alex Machado)
Humberto em seu Ateliê, em Campo Grande (Foto: Alex Machado)

Aos 72 anos, Humberto Mendes viralizou nesta semana pela memória incansável de um pai que sabe até dos babados da vida de Miley Cyrus. E ao falar sobre isso, ele se mostrou muito mais do que uma 'enciclopédia de famosos'. Humberto é um artista incansável, que transforma em obra-prima tudo o que coloca as mãos. Sua residência é um verdadeiro ateliê, daqueles lugares que dá vontade de entrar e demorar muito para sair.

Um de seus projetos também ganhou as redes sociais da filha e viralizou. Era uma casinha cheia de charme que ele mesmo construiu. O projeto não existe mais, mas outros trabalhos incríveis pela casa dele valem a pena ser exibidos.

Mas antes de mostrar cada detalhe, Humberto nos conta em detalhes sua história. Ele trabalhou como designer de interiores e cenarista, e produziu diversas maquetes comerciais. Teve seu primeiro contato com pintura aos nove anos, incentivado pelo padrinho de crisma, e confessa que só não foi para o ramo das artes, pois naquela época era mais difícil viver de arte no Brasil do que é hoje em dia.

Mas as raízes falaram mais alto; prova disso é que a família inteira é composta por artistas. A casa inteira possui quadros pintados pela esposa, a artista plástica Gisele Della Barba. O casal ainda teve três filhos: Maria Eugênia, que se mudou para São Paulo para seguir a carreira de atriz e cantora; Jonavo, que é músico; e Nathalia, que é professora de ginástica artística.

Em sua mesa, Humberto mantém livro aberto, para reproduzir os pontos turísticos em miniaturas (Foto: Alex Machado)
Em sua mesa, Humberto mantém livro aberto, para reproduzir os pontos turísticos em miniaturas (Foto: Alex Machado)
Maquete da Morada dos Baís (Foto: Alex Machado)
Maquete da Morada dos Baís (Foto: Alex Machado)
Portas e janelas da estação ferroviária, que está em processo de produção (Foto: Alex Machado)
Portas e janelas da estação ferroviária, que está em processo de produção (Foto: Alex Machado)

A reconexão de Humberto com a arte veio há uns sete anos, após ele sofrer um acidente doméstico e precisar se reinventar. “Subi no telhado para ver um trabalho que um sujeito havia feito, caí e fiquei todo quebrado. Fiquei de cama por quase dois anos, usando cadeira de rodas. Aí eu tive que me reinventar, então, para me distrair dessa situação de ficar deitado, comecei a fazer miniaturas”, explica Humberto.

Um de seus trabalhos mais marcantes, pelo menos para os netos de sete e quatro anos, foi a casinha de madeira, que foi cenário de diversas brincadeiras de quintal. Construída inteiramente por ele, Humberto conta que costumava até decorar a casinha para os netos.

A pequena construção já foi decorada para o Natal, com o tema da casa de doces da bruxa do conto infantil João e Maria, e até de estação ferroviária, destacando o patrimônio campo-grandense. Infelizmente, ele teve que desmanchar a casinha no início deste ano, pois acabou sendo infestada de aranhas e cupins, o que poderia colocar a saúde das crianças em risco.

“Desmanchei com dor no coração, mas tive que desmanchar. Eu sei que era uma diversão para eles. Eles perguntam se eu não vou fazer uma casa na árvore para eles de novo, mas não sei, porque hoje já tenho mais dificuldade com a idade, e é um serviço meio braçal”, explica Humberto.

Materiais que ele guarda, para depois virarem arte (Foto: Alex Machado)
Materiais que ele guarda, para depois virarem arte (Foto: Alex Machado)
Ateliê do aposentado (Foto: Alex Machado)
Ateliê do aposentado (Foto: Alex Machado)
Cenários de Van Gogh, feitos por Humberto (Foto: Alex Machado)
Cenários de Van Gogh, feitos por Humberto (Foto: Alex Machado)

Ainda quando estava em processo de recuperação, Humberto conta que fez uma viagem para os Estados Unidos e percorreu a Rota 66 inteira. Durante o trajeto, foi fotografando tudo que achou bonito e lhe chamou atenção. Ao voltar para o Brasil, começou a reproduzir as imagens em miniaturas.

Para fazer os artesanatos, ele utiliza madeira balsa, depron (placa de poliestireno) e papelão ondulado. Além disso, muitos detalhes das miniaturas são feitos de diversos materiais recicláveis que ele guarda, desde embalagens de remédios a suportes que vêm em caixas de pizza. Em suas mãos, qualquer coisa vira arte. “Eu sou, como dizia o Manoel de Barros, ‘um guardador de restos, nada é lixo’”.

A pedidos dos clientes, ele já fez sorveterias, postos de gasolina antigos e até o interior de lanchonetes, com direito a mini hambúrgueres. Em sua coleção, também guarda cenários da casa de Van Gogh e pequenos comércios de cidades estadunidenses pelas quais passou.

Ele reproduziu até uma maquete da pintura "Aves da Noite", de Edward Hopper, que retrata pessoas sentadas num restaurante no centro da cidade de Nova Iorque, durante a noite. Em suas mãos, madeira bruta também vira porta-chaves com cenários do faroeste estadunidense.

Atualmente, ele trabalha no projeto de recriar todos os pontos turísticos de Campo Grande em miniaturas, que, no final, terão o trilho do trem passando e conectando todos eles. Ele já fez a Morada dos Bais e agora está trabalhando na Estação Ferroviária.

Como ele cria a partir de fotografias, seu maior suporte está sendo um livro do arquiteto e urbanista Ângelo Arruda, sobre os pontos turísticos da cidade, que fica aberto em um suporte na mesinha de seu ateliê. Ele ainda pretende fazer o Obelisco, a Casa do Artesão, o Cinema Santa Helena, o Cine-Teatro Alhambra e, por último, o Aquário do Pantanal.

Quem quiser conhecer o trabalho de Humberto, basta acessar seu perfil nas redes sociais  @humbert_arte.

Porta-chaves feito em madeira bruta, e miniatura de van (Foto: Alex Machado)
Porta-chaves feito em madeira bruta, e miniatura de van (Foto: Alex Machado)

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