Igreja não tirou amor de Tiana pelo Carnaval, que defendia festa entre “irmãos”
Neste mês, a Catedráticos do Samba disse adeus à Maria Sebastiana Pereira de Barros, costureira que nunca perdeu amor pela folia
O último ano foi difícil para o samba de Campo Grande. Em 2019 a cidade se despediu de Nuga, ex-presidente e fundador da escola de samba Igrejinha. No mesmo ano, a Catedráticos do Samba perdeu um de seus destaques, Valério Encina, para o assassinato e, na semana passada, também disse adeus à Maria Sebastiana Pereira de Barros, conhecida como Tiana, costureira e baiana que, mesmo depois de entrar para igreja evangélica, nunca perdeu amor pelo Carnaval.
Tiana faleceu no dia 16 de janeiro, vítima de uma infecção bacteriana. A sua partida pegou familiares e integrantes da escola de samba de surpresa. Mais do que isso, às vésperas do Carnaval, muitos se veem incompletos sem a baiana que por muitos anos foi destaque.
Nesta semana, a escola retomou os ensaios, ao lado da quadra, onde estão acessórios e fantasias que recebem o calor das mãos de carnavalesco, dedicados a fazer uma festa bonita, com enredo “Um Brasil de três raças, mistério da nossa trindade, de onde no canto do Brasil, nascemos no retumbante som de felicidade, nossa forja, os matizes, nossa trindade sagrada, nosso orgulho, nossa glória, nossa existência”.
Mas o que passa pelo meio dos trabalhos é a saudade. Na última quinta-feira, no meio da tarde, sete dias após o falecimento, a irmã caçula de Tiana, presidente da escola, Marilene Pereira de Barros, 60 anos, falou do brilho de Tiana que agora mora no coração.
“Minha irmã vai fazer muita falta. Ela fez parte da história dessa escola de samba, e nunca a abandonou”, afirma, ao lembra-se que Tiana tornou-se evangélica há 10 anos, mas nunca deixou de amar o Carnaval. “Ele diminuiu o ritmo, mas sempre esteve aqui dentro. Em época de desfile, ela fazia questão de ajudar na confecção das fantasias, principalmente das baianas”, lembra.
Uma mulher de fé, especialmente na vida, de coragem e sorriso quando o samba aparecia. Assim era Tiana, nas palavras da irmã, que hoje usa as lembranças de um sorriso para seguir em frente com menos tristeza. “Não vou mentir que é difícil lembrar que ela não está aqui e ter de entrar na avenida sem a torcida dela. Mas quando lembro que ela foi uma mulher feliz, que ajudou tantas pessoas e sempre foi ligada a família, isso me conforta”.
Tiana era de muitos amigos e levou até integrantes da igreja para conhecer a quadra da escola de samba. “Nunca ninguém desmereceu a nossa festa, mesmo que há lugares intolerantes com o Carnaval, na congregação da Tiana ela nunca deixou alguém falar mal da gente, alguns até frequentaram festas aqui”, conta.
Marilene, que herdou a escola de samba do esposo e fundador, Carlos Pequério Alves, que partiu em 2005, sente falta até de ouvir o telefone tocar cedo. “Ela era do tipo que me ligava cedo para perguntar como eu estava, falávamos de coisas da vida, erámos mais do que irmãs, amigas”.
O que ficou de Tiana e será levado para a avenida? “O amor, sem dúvidas, o amor”, garante Marilene. “Eu lembro que, ano passado, quando foi transmitido o desfile pela televisão, ela me contou que quando a escola entrou na passarela gritou: arrebenta, Catedráticos. E isso me emociona muito”, diz, com brilho nos olhos de quem sabe que agora Tiana vai continuar gritando pela escola, mas em outra dimensão.
A Catedráticos do Samba encerra o desfile das escolas no dia 25 de fevereiro, na Praça do Papa.
Antes do Carnaval, toda sexta-feira, a partir das 19h, a quadra da escola abre para carnavalescos e a comunidade participarem do ensaio. A entrada é gratuita. Além disso, o público assiste o ensaio do projeto Filhos da Águia Negra, onde meninos da periferia aprendem percussão com os mestres da escola.
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