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Comportamento

Joanna virou bordado para lembrar que ‘saudade é o amor que fica’

"Maior amor” de Raquel, avó virou professora quando poucas mulheres tinham oportunidade de estudar

Por Aletheya Alves | 27/08/2024 07:05
Amiga, parceira e confidente, Joanna era o "maior amor" da neta. (Foto: Arquivo pessoal)
Amiga, parceira e confidente, Joanna era o "maior amor" da neta. (Foto: Arquivo pessoal)

“Minha avó era o meu maior amor. Ao mesmo tempo uma amiga, uma inspiração”, introduz Raquel de Souza sobre a dona Joanna. E, pensando em todo afeto que permaneceu, a avó foi transformada em bordados para sempre lembrar que “saudade é amor que fica”.

Duas fotografias que permanecem especiais para Raquel, que é jornalista, foram escolhidas como forma de perpetuar os carinhos de Joanna. Uma era o registro que a professora aposentada usou como foto de perfil por muitos anos e o detalhe da camiseta com um gatinho se destaca, já que esse amor foi passado para a família.

A outra era de Joanna tomando seu cafezinho da tarde, um momento que tanto foi compartilhado com a neta. Já a frase foi uma sugestão vinda da Sertão Bordado, responsável pelo trabalho.

Bordados foram modo de guardar, mais uma vez, o amor. (Foto: Arquivo pessoal)
Bordados foram modo de guardar, mais uma vez, o amor. (Foto: Arquivo pessoal)

Contando um pouco sobre a história da avó e como ainda permanece se entrelaçando com a sua, Raquel explica que Joanna era de origem humilde e, ainda assim, se formou professora. Isso em uma época em que poucas mulheres tinham a oportunidade de trabalhar.

Era um referencial de cuidado e uma fonte de amor inesgotável”. Tendo morado toda a vida no interior de São Paulo, a avó fazia questão de passar meses junto da família para manter o afeto por perto, como detalha Raquel.

E, pensando em como defini-la, a exigência aparece ao lado da paciência e do cuidado. “Fazia de tudo para nos agradar, era comentar que estava com vontade de algo para ela rapidamente providenciar”, descreve.

Além disso, a elegância, palavra escolhida pela neta, parecia permear desde a forma de se vestir até o modo de viver, de querer aproveitar a vida em seus detalhes.

Andava sempre arrumada e gostava de se cuidar. Ela adorava sair, amava ir ao shopping ou ao centro da cidade e tomar um cafezinho da tarde em algum lugar diferente. Algumas das nossas memórias mais gostosas são nesses passeios juntas".

Sem brigas ou desentendimentos, a relação entre neta e avó se fez (e continua assim na memória) como uma história de amor daquelas em que o céu azul se espalha para mostrar dias bonitos. Para Raquel, Joanna se fez uma amiga e confidente, aquela que sempre a apoiava e garantia parceria em todos os momentos.

Outra característica era a de ser uma pessoa justa até o ponto de fazer com que os netos mais velhos continuassem ganhando ovos de Páscoa, já que os pequenos tinham os seus garantidos.

“Mas, ao mesmo tempo, sempre fui mimada por ser a única neta dela mulher, ela sempre me defendia e ficava do meu lado”, comenta.

Passeios juntas estão entre as melhores memórias que constituem história. (Foto: Arquivo pessoal)
Passeios juntas estão entre as melhores memórias que constituem história. (Foto: Arquivo pessoal)

Com tanta vida compartilhada e amor presente, o falecimento de Joanna veio como uma dor que começou ainda quando seu coração batia. “ela partiu em abril de 2023, após alguns meses lutando com uma fibrose no pulmão que foi se agravando com o passar dos anos, um efeito adverso que infelizmente surgiu do uso prolongado de um antibiótico”.

Sempre saudável e com muitos cuidados com atividades físicas, a avó ter se tornado dependente de oxigênio auxiliar foi um baque para a família. “Saber que vai perder alguém ou que tem um tempo limitado com essa pessoa é um misto de sentimentos. Ao mesmo tempo que você tenta aproveitar cada momento, cada dia e está sempre reafirmando seu amor, é muito doloroso passar por todo esse processo. É um luto que começa em vida”, descreve.

Fotografia que inspirou um dos bordados. (Foto: Arquivo pessoal)
Fotografia que inspirou um dos bordados. (Foto: Arquivo pessoal)

Hoje, pensando sobre o que permanece da avó, Raquel diz que o exemplo, a generosidade e as várias lembranças daquilo que viveram juntas não se vão.

“Não tem um dia em que a gente não se lembre dela, sempre vamos aos lugares que sabemos que ela iria amar e vem forte a saudade. Ainda é muito difícil, mas nossa forma de lidar com o luto é compartilhando, lembrando dela com carinho e encontrando formas, como nesse bordado, de expressar o amor que sempre teremos por ela”, completa.

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