Liberada de hospital para “último” Carnaval, Carla não desiste da vida

Uma das irmãs abre a porta do corredor que dá acesso ao quarto da advogada Carla dos Santos Victorio, de 49 anos. Deitada em uma cama hospitalar ela ajeita o cateter de oxigênio com tranquilidade. Sorridente, seu semblante faz a gente duvidar, por alguns segundos, que há menos de uma semana ela passou a fazer tratamento paliativo contra o câncer.

A enfermeira puxa uma cadeira para que a reportagem se aproxime de Carla. De perto é possível ver a maquiagem brilhosa bem feita e um acessório carnavalesco colorido na cabeça. O abadá indica qual é a festa que vai começar logo depois da entrevista: “Carna Carla”.

O evento é uma celebração à vida, depois que os médicos informaram à família sobre o tratamento paliativo, que ameniza os efeitos do tratamento oncológico e dá qualidade de vida ao paciente quando não há mais nada a fazer.

Isso tudo é do ponto de vista médico. No coração de Carla, ela tem muito tempo para viver e não se assusta com o diagnóstico. “A finitude não me assusta mais, o câncer faz a gente perder esse medo… Eu tenho um amor imenso pela vida e quem dá a última palavra é Deus”, começa.

Carla recorda que seus momentos mais felizes na vida foram marcados por festas. “Eu amo celebrar, sempre gostei. Gosto muito do Carnaval também”, diz.

A irmã, Solange, foi uma das que teve a ideia de realizar o Carnaval. De início, o plano era fazer uma folia dentro do quarto de hospital, mas Carla preferiu voltar para casa. Liberada pelos médicos, ela curtiu o domingo (19) ao lado dos filhos, dos pais, irmãos e amigos.

As irmãs cuidaram dos preparativos, assim como da maquiagem colorida. Tudo para ver Carla sorrir e amenizar a dor que, em diversos momentos, surge no coração dos familiares ao lembrar dos avanços do câncer.

“Todos nós temos nossos desertos, passamos por problemas, mas a gente não pode se apegar ao pior e nem ao diagnóstico. Se eu disser que eu esqueci o que eles me disseram no hospital, não pense que é mentira. E não é porque estou em tratamento paliativo oncológico que eu vou deixar de comemorar, de me divertir”, diz Carla.

Advogada que atua na Defensoria Pública em defesa da mulher, na Casa da Mulher Brasileira, Carla realiza o tratamento contra o câncer de intestino desde 2017. Foram anos bem, até a metástase atingir níveis sem chances de tratamentos como cirurgia, quimioterapia ou radioterapia.

Sem qualquer um desses tratamentos citados, o remédio de Carla agora está na positividade e na fé. “A vida é para ser celebrada em qualquer circunstância, a gente não pode passar pela vida, a gente tem que vivê-la. Então toda oportunidade que eu tenho de estar com os amigos eu estou. Acredite, eu vou ficar bem, isso é apenas uma tempestade”, afirmou.

Por isso, ela não tirou o sorriso do rosto e curtiu cada momento da festa. Mas antes prometeu à reportagem um novo encontro. “Vou ficar em casa, receber o amor de todo mundo e daqui uns dias vou levantar e continuar vivendo. Essa certeza eu tenho. E vocês vão voltar aqui para me ver andando e trabalhando, viu”.

Vamos!

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