Mãe de 8, Clarice não se intimidou em adotar duas crianças com deficiência
Menina tem paralisia cerebral assim como o garoto, que tem ainda, toxoplasmose congênita e é interativo
Sem preconceito e nem medo, a dona de casa Clarice Maria Côncio de 63 anos, dá um belo exemplo quando o assunto é amor, empatia e coragem. Mãe de 8, ela não se intimidou em adotar duas crianças com deficiência, um menino e uma menina.
Sempre atenta às necessidades do próximo, Clarice conta que nem pensava em ter mais filhos aos 40 anos, mas a pedido de um vizinho, ela aceitou cuidar temporariamente de uma bebê, que tinha apenas 6 meses de vida.
"Eu ficaria só por um tempo, até que o rapaz e a esposa se estabilizassem, ai ele deixou a menina e não a buscou mais. Voltei a falar com ele e disse que só continuaria com ela se me passasse a guarda definitiva, mas quando ela completou 8 meses, foi internada com pneumonia e a médica me falou que ela ia ter problemas sérios de saúde", relembra.
Diante da situação, os profissionais que acompanhavam a adoção da criança chegaram a orientar Clarice a reavaliar a decisão de acolhimento junto ao esposo, devido às condições de saúde que a família teria de enfrentar futuramente, mas a dona de casa conta que foi justamente o quadro delicado da menina, que a fez prosseguir.
"Na época a promotora me deu a opção de ficar com ela ou mandar para adoção, mas como descobrimos paralisia cerebral decidimos ficar. Eu não tinha salário, somente a renda do meu marido, nós não tínhamos nem casa própria", afirma ao avaliar que as condições financeiras da família não foram suficientes para medir esforços em prol da pequena.
"Quando saiu a decisão sobre a adoção eu estava fazendo aniversario de casamento e foi um presente de Deus, porque ela estava nascendo na nossa família. Hoje nossa filha tem 23 anos e somos muito felizes em cuidar de uma pessoa com necessidades especiais", revela Clarice.
Tal mãe, tal filha – Com muito amor no coração, a filha da dona de casa era quem acompanhava a irmã nas sessões realizadas na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais).
Entre as idas e vindas ao núcleo, ela sempre chegava em casa e contava para os pais sobre um menino que também ia até o local para tratamento e "parecia muito triste", dizendo que queria adotá-lo.
"A mais velha diariamente falava que tinha esse menino lá, e ela ficava morrendo de dó dele. Ai uma vez eu fui participar de uma reunião do grupo de adoção do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul e falei que queria levar essa criança para a minha casa. Então, depois de alguns dias eu levei, ele tinha 7 anos e nós ficamos apaixonadas. Eu gosto de desafio e assumi o de cuidar dele", enfatiza toda orgulhosa.
Após 3 anos de bastante empenho da família com o garoto, ela, o marido e os filhos puderam comemorar a decisão favorável a mais um pedido de adoção, daquela vez, do menino, que há 18 anos "traz muita alegria" para a casa onde vive. Assim como a menina, o rapaz também tem paralisia cerebral, e, além disso, luta contra a toxoplasmose congênita e é hiperativo.
Empatia – "Quando vejo uma pessoa com o olhar diferente para essas crianças eu fico revoltada, nós temos que entender que elas são normais como qualquer outra, eu penso que o que faz a diferença na vida da gente e delas é o amor. Não é porque nascem com um probleminha, uma vida diferenciada, que não possuem a chance de serem felizes, eu não pegaria uma criança perfeita", pontua Clarice.
Adoção – Interessados em adotar crianças com deficiência, devem ir até à Vara da Infância, da Juventude e do Idoso e procurar o Núcleo de Adoção e lá, todas as exigências para acolhimento e histórico dos pequenos, serão repassados.
Vale lembrar que existe uma cobertura do SUS (Sistema Único de Saúde) para alguns procedimentos e medicações, de modo que a família consiga manter alguns cuidados ao longo da vida.