ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MARÇO, SEXTA  29    CAMPO GRANDE 22º

Comportamento

Mãe se une nos estudos com filha autista e juntas passam no vestibular

Aos 47 anos, Elizandra voltou aos livros para conseguir 2º lugar em Geografia; já filha Eloisa, 4ª em Farmácia

Raul Delvizio | 08/03/2021 15:55
Antes, só uma selfie entre mãe e filha; 6 meses depois, vestibulandas que realizaram sonho da "federal" (Foto: Reproducão/Facebook)
Antes, só uma selfie entre mãe e filha; 6 meses depois, vestibulandas que realizaram sonho da "federal" (Foto: Reproducão/Facebook)

Precisou 20 anos se passarem para que Elizandra Silva de Moura voltasse a cair de cabeça nos livros, fazer exercícios de apostila e ralar de estudar – mas com sabedoria. A recompensa veio 6 meses depois em plena pandemia de covid-19, quando ela passou no vestibular da federal em Geografia. Mas essa história tem um grande detalhe: tudo isso ao lado da filha Eloise, que deu uma ajudinha à sua "velha", confidente e melhor amiga. O presente também veio em forma de curso universitário, desta vez o de Farmácia. Ambas incentivadoras uma da outra.

"A verdade é que ela sempre quis entrar em uma universidade pública. É o sonho de muita gente, assim como o de minha mãe. Quando ela veio com a proposta de estudarmos juntas, na hora eu só pensei: "bora nessa!". Não questionei ou desacreditei porque eu via uma vontade nela, um sentimento de querer", explica a filha Eloisa Elena Silva de Moura Lima, estudante de 18 anos.

"Na realidade, não esperava nada disso dela. Mas acabei descobrindo no processo que eu não tenho só uma mãe e amiga, mas uma parceira até nos estudos. Se já era assim antes, agora sempre será", garante.

Filha passou em 4º lugar em Farmárcia, enquanto a mãe Elizandra passou em 2º para Geografia (Foto: Arquivo Pessoal)
Filha passou em 4º lugar em Farmárcia, enquanto a mãe Elizandra passou em 2º para Geografia (Foto: Arquivo Pessoal)

Há pouco mais de 6 meses, ambas entraram no consenso de se prepararem para o vestibular, não somente uma sendo o incentivo da outra, mas também explicando conteúdos, compartilhando dicas e até respostas dos exercícios. "Quando nenhuma das duas sabia, caçávamos juntas até entender tudo direitinho", disse. Seja na hora de cair nos livros ou de fazer os simulados virtuais, mãe e filha passavam as tardes sentadas no sofá, apostila e lápis na mão, ligavam a televisão e acompanhavam as aulas on-line da rede privada de ensino de Eloisa.

"Principalmente eu que sou autista, às vezes certos conteúdos me pegavam. Na escola, já fui chamada de lerda, burra. Isso machucava. Nos últimos meses, com minha mãe, tive a oportunidade de ter alguém ao meu lado que me entendia de fato. E em contrapartida eu também entendia ela. Nossa relação só se intensificou", afirma.

Aos 18 anos, filha é estudante e diagnosticada com austismo (Foto: Arquivo Pessoal)
Aos 18 anos, filha é estudante e diagnosticada com austismo (Foto: Arquivo Pessoal)

Para Elizandra, 47 anos, a vivência de "voltar à carteira escolar" pode ser interpretada como um desafio não somente possível, mas conquistado. "Durante muitos anos eu fui só mãe, dona de casa e esposa. Agora, parece  que reencontrei uma nova identidade e estou preenchendo meu coração e minha mente com novas coisas!", assegura.

Saí de uma bolha e estou redescobrindo o mundo", diz a mãe.

"Faz mais de 20 anos que eu não colocava a mão num livro escolar. Mesmo assim, eu sempre fui de ler muito e de prestar atenção no que via na televisão, por exemplo. Eu ia assimilando devagarzinho, do meu jeito. Mas o meu agradecimento vai para Eloisa. Foi ela quem me deu maior força. O que podia tornar mais fácil no caminho, ela fazia pra mim. Achei que estava lá para ajudá-la, porém foi ela quem mostrou o contrário e vice-versa", reflete.

As duas, que se tornaram parceiras de estudo, já são amigas há muito tempo (Foto: Arquivo Pessoal)
As duas, que se tornaram parceiras de estudo, já são amigas há muito tempo (Foto: Arquivo Pessoal)

Resultado – Há 1 semana, mal saiu a apuração antecipada dos novos ingressantes e as duas já estavam numa ansiedade que só. "Foi uma emoção muito grande só de sair o resultado preliminar! Passei a semana inteira atualizando o site, dedo chegava a tremer. Como ainda não tinha as classificações, até fizemos manualmente as médias de todo mundo. Erramos por pouco, mas tudo bem, descobrimos que cada uma de nós havia passado no vestibular", comemorou a filha.

Já na sexta-feira passada (5), o resultado definitivo saiu, pontualmente às 16h. "Aquela sensação de conquista foi de uma felicidade absoluta, um orgulho intenso por mim e por ela, de sabermos que éramos capazes e fizemos aquilo juntas. Nós que corremos atrás de tudo, foi todo mérito nosso", opina Eloisa.

Confira no vídeo:

Para a mãe, entretanto, ver que uma nova possibilidade se abriu deu um "sustinho". "Foi um misto de medo por eu ser mais velha, de que a nossa mente não é mais a mesma e que tudo poderia ir por água abaixo; ansiedade por pensar o que faria depois caso passasse; e, com a descoberta do resultado, uma vontade muito grande de crescer, de evoluir. Essa é a mistura que está na minha cabeça até agora!", comemora.

Dos materiais escolares que foram usados, agora serão destinados à doação.

Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.

Nos siga no Google Notícias