Antes de descansar, Dolly fugiu de guerra e se formou aos 90 anos
Croata veio para o Brasil devido a 2ª Guerra Mundial e chegou para ficar em Campo Grande muitos anos depois
Dorotea Paveli Jank, teve muitos apelidos ao longo da vida, entre eles Dora, na Iugoslávia - país onde nasceu e que hoje faz parte da Croácia - e Dolly, quando chegou ao Brasil. A croata pisou em solo brasileiro “fugida” da 2º Guerra Mundial. A história virou livro escrito pela filha Liana Jank e neta, Ângela Jank Calixto. Felizmente o projeto foi visto por Doratea antes que ela partisse, em janeiro de 2024, com 97 anos.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
Dorotea Paveli Jank, conhecida como Dora na Iugoslávia e Dolly no Brasil, fugiu da 2º Guerra Mundial e veio para o Brasil, onde se estabeleceu em São Paulo e depois em Campo Grande. Aos 97 anos, em janeiro de 2024, ela faleceu após uma vida marcada por desafios e realizações. Sua história foi registrada em um livro por sua filha Liana e neta Angela. Dolly enfrentou várias quedas, a última resultando em fratura no fêmur e lesões na cabeça, o que a deixou em cadeira de rodas. Apesar das dificuldades, manteve-se alegre e mais aberta sobre seu passado. Formou-se na faculdade da Melhor Idade aos 90 anos, realizando um sonho interrompido pela guerra. Sua vida foi marcada por monarquia, guerras, comunismo, fuga, refúgio, emigração, ditadura e pandemia. Dolly era lembrada pelo carinho demonstrado em pequenos gestos e pela força e determinação que a caracterizavam.
Dolly nasceu na cidade de Susak, que ficava ao norte da Iugoslávia, na beira do mar Adriático. Na época, a família ficou na dúvida se viria para o Brasil ou Estados Unidos. Por ter amigos aqui resolveram aparecer de vez. O local escolhido foi São Paulo, onde ficou por anos até vir para Campo Grande. Em 1955 Dolly engravidou da única filha biológica, - Liana- fruto do relacionamento com o marido Franz Hugo Richard Jank, que faleceu em 2007.
O motivo da vinda para a Capital sul-mato-grossense foi uma queda na casa onde morava no Estado Paulista. Desde então, Dolly ficou com a filha. Em uma nova queda, ela fraturou o fêmur e teve lesões na cabeça.A situação precisou ser corrigida com cirurgia.
Depois disso, Dolly ficou em uma cadeira de rodas. Segundo a neta, apesar de todo o cenário, ela nunca deixou de ser alegre, inclusive passou a se abrir mais sobre o passado, antes guardado a “sete chaves”.
“Creio que o que fica da minha avó é a sua força e determinação. Ela era uma pessoa bastante fechada e nunca falava de seu passado difícil na guerra, durante o comunismo, como refugiada e como emigrante no Brasil. Ela seguia sua vida e seus afazeres diários, procurando, ainda que de uma maneira que nem todos entendiam, abraçar e cuidar da família. Vejo que no fim da sua vida ela aprendeu a se afetar e se permitiu chorar e sentir”.
Ângela conta que antes da avó vir para Campo Grande a relação com ela não era das mais fáceis.
"Aqui, a gente colocava ela para nadar com a gente, fazia mil comidas que ela adorava, levávamos as vezes para comer algum doce ou almoçar uma pasta em algum lugar. Toda noite minha mãe sentava com ela para ver jornal ou alguma série de viagens. Ela levava os bisnetos pra passear com ela na cadeira de rodas e sempre tentava interagir com eles”.
Uma das coisas que a neta se orgulha é da avó ter cursado a Universidade da Melhor Idade na UCDB e se formado aos 90 anos. O desejo era antigo e foi arrancado dela pela guerra. Antes, Dolly não havia completado o ensino médio. Na infância, ela adorava outros idiomas e falava alguns, na lista estão o alemão, croata, francês, italiano e português.
“A gente define minha avó como a Highlander da família. O guerreiro imortal. Minha avó passou por tanta coisa: monarquia, guerras mundiais, comunismo, fuga de seu país, foi refugiada, emigrante no Brasil, ditadura brasileira, pandemia do coronavírus, enfim. Viveu mais que a rainha Elizabeth”, brinca.
No livro intitulado “Nossas Origens - da Iugoslávia ao Brasil no século XX”, Dolly fala que o conflito bélico na Europa chegou de manso, não fez alarde no início e que até continuou indo para escola. “A guerra veio assim, do nada e no início não se percebem muitas mudanças”.
Ela pouco fala na história. A narrativa é feita com as memórias da croata, estudos e observações da filha e neta, mas não é Dolly quem fala.
Das memórias que marcam, Ângela destaca que sempre vai lembrar das pequenas coisas que ela fazia, e que de alguma forma, demonstravam carinho. Desde as frutas que comprava para dar de presente às massagens que dava quando tinham dor ou os chocolates que ela amava e sempre tinha escondido em todos os armários.
“O fato que adorava uma festa e estava sempre disposta, sendo sempre a última a ir embora, assim como o apoio que sempre me deu em minhas escolhas de vida, a emoção que demonstrava no fim da sua vida, sempre que contávamos de algo que tínhamos conquistado, o carinho com os bisnetos. Ela nunca baixou a cabeça, sempre sobrevivendo firme e forte”.
Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.