Mais magro e mais careca, Bernal diz que imprensa é muito irritante
Não importa qual a primeira pergunta, o prefeito nem escuta, tem uma resposta pronta para início de conversa: “Tenho enfrentado a maldade da imprensa, os ataques do Campo Grande News, do Correio do Estado e do jornal O Estado”.
Também não adianta tentar mudar de assunto, Alcides Bernal permanece monotemático. “Sei que há jornalistas sérios, que anotam o que eu digo, mas que ao chegar às redações têm os textos modificados”.
E assim ele segue, redundante, magoado, apesar de fazer questão de preservar o sorriso no rosto. Por fim, pede desculpas, mas justifica: “Só acho que é um erro de estratégia”.
Bernal lembra que vivemos em uma democracia, onde “cada um fala o que quer” e tem usado as mídias sociais para praticar isso. “Eu mesmo escrevo no Facebook e no Twitter, arrumo um tempo”.
Na página do Facebook, com 13,4 mil seguidores, a maioria das vezes dá a informação e logo dispara contra o antecessor. Também publica fotos, algumas tiradas com aparente dificuldade, como a que aparece ao lado da presidente Dilma Roussef, em uma das viagens para pedir dinheiro em Brasília.
Um quilo e meio mais magro, desde que tomou posse, e com a careca aumentando visivelmente, o prefeito assegura que nada é reflexo da chateação dos primeiros meses na administração municipal e volta ao assunto do início. “Só o que me irrita é injustiça, isso que a imprensa está fazendo”.
A coleção de bonés tem aumentado, apesar do estilo não combinar com a sobriedade de uma prefeitura, em algumas ocasiões serve para divulgar o 11, número usado na eleição. Faça chuva, faça sol, quase sempre lá está ele escondendo o pouco cabelo. Mesmo assim, diz não ser vaidoso. “Nem um pouco. Para mim a vaidade é superar os erros, resolver as dificuldades onde a administração pública falhou”.
Pergunto sobre a fama de “grosseiro”, ele balança a cabeça e diz que quem o conhece sabe. “Sou gentil com todo mundo. É que algumas ações exigem uma reação mais forte”, justifica.
Apesar da bronca, realmente há muito não era tão bem tratada por um prefeito em Campo Grande. Talvez pelo ambiente – o desfile das escolas de samba de Campo Grande, ou por ser a estreia na prefeitura, Alcides Bernal não conseguiu fechar a cara.
Com o Lado B, ele conversou animado, apesar da perturbação da segurança “afetada”, marrenta, sempre querendo se impor para marcar território. O segurança pedia o fim da entrevista, mas o prefeito logo emendava mais um comentário.
Sobre as críticas furiosas de servidores públicos que tiveram gratificações cortadas e data de pagamento alterada, Bernal finge estar em outro município. “Eles me apóiam, não tenho problemas com os servidores”.
Mas entre uma frase e outra, esboça o descontentamento, já que foi só virar o ano para ele se transformar no culpado de todas as mazelas de Campo Grande. “Sei que ser prefeito exige muito, inclusive, paciência.”
Em relação aos buracos e à crise aberta junto a opinião pública a cada tempestade, o prefeito jura que nunca perdeu a calma. Pergunto se já passou pela cabeça se esconder debaixo da cama. Ele ri e responde e que também não desenvolveu o medo de trovões. Garante que nem dá tempo de pestanejar e faz a propaganda: “na hora vou para os bairros”.
Há muito não sai sozinho. Sempre tem um assessor, secretário ou vereador na cola, todos com entusiasmo para aparecer ao lado do prefeito. A família é preservada. “Não gostaria de falar nada disso. Tenho medo pela segurança”.
Antes de se despedir, repete o pedido que tem feito com frequência, “orações pelo bem de Campo Grande”. O prefeito seguiu na avenida do samba até terminar o desfile de todas as escolas, beijando todas as bandeiras das agremiações.