Dentro da Kombi Isaura, casal curte aposentadoria em aventura a dois
Iracema e Geovan estão em Mato Grosso do Sul e estacionaram a Kombi Isaura em frente ao Parque das Nações
Estacionada em frente ao Parque das Nações Indígenas, uma Kombi branca e azul com teto elevado chama a atenção de quem passa. Mas o veículo não é só mais um carro, é a casa de Geovan Bezerra Neves e Iracema Amaro Alves, casal de 62 anos que decidiu viver o sonho de muitos: rodar o Brasil na tranquilidade da aposentadoria.
Os dois são "pais" da Isaura, como carinhosamente batizaram o motorhome, adaptado para ser aconchegante, funcional e, acima de tudo, livre!
Mas o início dessa história de amor sobre rodas começou bem antes da Isaura ganhar forma. Geovan, recifense de nascença e então morador de Aracaju, vivia o luto após a morte da primeira esposa. “Foram 30 anos de casado. Quando ela se foi, eu me senti perdido. Parecia um cachorro adestrado solto na rua, sem saber o que fazer”, lembra ele. Na época, a solução que encontrou para não surtar foi subir numa moto e desbravar o Brasil.
Em 2017 Geovan cruzou o País. Saiu de Barretos, onde a ex-esposa tratava câncer, passou por Rondônia, Recife e, por fim, Aracaju. Lá, o destino já preparava uma nova história. Iracema, paranaense de Londrina, estava na cidade de férias quando o encontrou pela primeira vez correndo na praia. “Ele passou correndo, me cumprimentou, perguntou se podia sentar perto. Começamos a conversar, e dois dias depois eu voltei pra Londrina”, conta ela.

Dois meses depois, Geovan montou novamente na moto e decidiu ir atrás da mulher que tinha balançado novamente seu coração. A sintonia aconteceu e o reencontro virou namoro.
Os dois moraram juntos por dois anos, se casaram e, durante a pandemia, começaram a viajar. Mas, com a idade e o desconforto das longas viagens de moto, Iracema sugeriu um novo plano: “Falei pra ele: ‘Vamos montar um motorhome’. A gente nem conhecia esse mundo, daí começamos a ver vídeo atrás de vídeo para entender”, conta ela.
A ideia de vender a moto não agradou logo de cara. “Ela falou que era por causa da idade, eu disse: ‘Fala por você, não fala por mim’”, brinca Geovan, que tem a mesma idade que a esposa.
Apesar disso, a venda da moto é de um carro do casal foi rápida. E em apenas dois dias, encontraram a Kombi que se tornaria Isaura. “O carro era bom, o mecânico aprovou, e mandamos para Joinville, em Santa Catarina, para adaptar. Só que ficou dez meses parado em uma fula de espera”, relembra o marido.

O investimento inicial foi de cerca de R$ 40 mil, mas com upgrades, como o teto alto e espaço para caber tudo o que precisam: cama confortável, armários, fogão, geladeira, banheiro químico e até espaço para prender uma moto que viaja presa na traseira, opção para explorar as cidades onde passam.
Apesar de rodarem de kombi há quatro anos em passeios curtos e feriados, foi no dia 1º de abril de 2025 (sim, no Dia da Mentira!) que os dois começaram oficialmente a “morar na estrada”.
Campo Grande já era uma das paradas planejadas por Geovan, que passava horas assistindo a vídeos e traçando rotas turísticas. “Fiz um roteiro por regiões, estados e cidades. Tudo o que é ponto turístico, camping, o que é pago, gratuito, coloquei na planilha”, conta.
Eles entraram em Mato Grosso do Sul pela divisa de São Paulo, em Bataguassu, e a ideia agora é subir por Coxim, passar por Sonora e entrar no Mato Grosso, onde Geovan quer mostrar à esposa lugares como a Chapada dos Guimarães e Juscimeira, que ele conheceu quando morou em Rondonópolis. “O que eu conheço, quero mostrar pra ela. E o que a gente não conhece, vamos conhecer junto”, diz.
Mas a vida sobre rodas não é só paisagem. É também parceria, adaptação e novos hábitos. Iracema, que vivia em uma casa espaçosa, diz já ter se acostumado ao ambiente mais compacto. “As primeiras vezes era uma bagunça total. Agora está do meu jeito, tudo tem seu lugar”, garante.
Para Geovan, o segredo da aventura é ter estrutura e planejamento. “A gente não saiu sem retaguarda. Temos aposentadoria, seguro. Não é como quem sai pra vender bolo na estrada. É bonito, mas não é fácil viver disso”, reflete.
Segundo Iracema, os filhos deram todo apoio para a aventura a dois. "Minhas irmãs nao concordaram muito, mas não foi algo de imediato. Cinco anos atrás todo mundo já sabia que íamos viver essa vida e até perguntavam: ‘E aí, vão quando?’", relata.
Enquanto Isaura estiver rodando, Geovan e Iracema dizem que não têm pressa. A única certeza é que a aventura tem prazo de validade. “A gente estabeleceu um tempo para encerrar essa fase, mas por enquanto vamos sem data de chegada. Vamos ficar três, cinco, dez dias em cada lugar, depende do quanto gostarmos. Só não ficamos onde a gente incomoda”, explica Geovan.
E Campo Grande ja deixou boa impressão. A cidade entrou na rota pelas belezas naturais e organização urbana. “Vi tudo antes, pelo YouTube”, revela ele. O casal ainda não conseguiu visitar o Aquário do Pantanal porque estava fechado, mas seguem por mais alguns dias explorando a cidade antes de pegar estrada.
A bordo de Isaura Geovan e Iracema vivem o tipo de amor que não precisa de muito espaço, mas exige sintonia, espírito aventureiro e muitos litros de gasolina.
Siga o Lado B no WhatsApp, um canal para quebrar a rotina do jornalismo de MS! Clique aqui para acessar o canal do Lado B e siga nossas redes sociais.